Estreia

Drama brasileiro “Entre Nós” chega às salas de cinema

Quando chegou ao set de Entre Nós, para duas semanas de ensaios, em meados de 2012, Carolina Dieckman vivia o que se pode chamar de inferno pessoal. Suas fotos haviam vazado na internet. Sentia-se devassada, frágil. Pior que isso – vazia. Havia amigos no set – Maria Ribeiro, Caio Blat, Paulo Vilhena… Carolina encontrou um porto seguro.

Hoje ela diz que não sabe como teria feito o filme, em outras circunstâncias. Só sabe que Entre Nós virou uma experiência enriquecedora. Um divisor de águas em sua carreira. Não é a única a pensar assim.

Irmãos diretores que assinam filmes juntos são cada vez mais frequentes. Depois dos Tavianis, dos Coens e tantos outros, estão chegando os Russos, Anthony e Joe, responsáveis pelo ótimo Capitão América 2 – Soldado Invernal. Pai e filho coassinando a direção são mais raros, mas os Morellis são a prova de que a parceria pode dar certo.

Paulo Morelli (pai) e Pedro Morelli (filho) estão há cinco anos no projeto que chega nesta quinta-feira, 27, às telas, e é justamente Entre Nós. Cinco? Na verdade, é mais. Pedro, atualmente com 25 anos, estava entrando na faculdade quando, mordido pelo desejo de fazer cinema, começou a rondar os sets do pai. Chegou a coescrever um dos episódios de Cidade dos Homens, a série.

“Meu pai sempre foi um modelo para mim”, diz. Pode ser que, até por isso, Paulo, inicialmente, pensou que seria um mentor. Não foi – Entre Nós é produto de uma parceria. Bela, intensa. O Brasil inteiro cabe num filme sobre jovens. Não, não se trata de nenhuma versão brasileira de American Pie, nem mesmo de Confissões de Adolescente. Entre Nós possui uma estrutura mais complexa. Mostra um grupo de jovens. Cheios de aspirações e sonhos. Escrevem cartas para eles mesmos, e que serão lidas daqui a dez anos. Ocorre um acidente mortal de carro, um deles publica um livro que vira fenômeno. E agora eles estão reunidos de novo para abrir as tais cartas.

Há tensão no ar – por quê? Drama, suspense psicológico. As definições sobre Entre Nós poderão variar, mas o pathos do filme passa por aí. “Foi um roteiro que a gente trabalhou muito”, diz Paulo Morelli.

Ao se desenhar, absorveu influências de filmes que pai e filho adoram. Nós Que Nos Amávamos Tanto, de Ettore Scola? “Curiosamente, esse não, embora seja um filme do qual gosto muito”, conta Paulo.

As referências explícitas foram As Invasões Bárbaras, de Denys Arcand, e O Reencontro, de Lawrence Kasdan. Os dois mostram o efeito do tempo sobre grupos de amigos. Um deles está morrendo no primeiro, outro já morreu no segundo. E as pessoas começam a se interrogar – o que fizemos de nossas vidas? Entre Nós começa em 1992, salta para 2002. São momentos emblemáticos da história recente do Brasil.

Existe, declarada, essa vontade de refletir sobre o País. É um filme que fala de muita coisa – amizade, ideais, traição. “O filme nasceu com a vontade de propor uma narrativa multiplot”, explica Paulo.

E Pedro – “No momento em que estabelecemos os dois tempos, a ideia da mudança se impôs, até como decorrência. Mas o filme não nasceu para refletir conscientemente sobre o Brasil. Seria muito pretensioso. Não criamos uma história para estimular essa reflexão, mas a história que criamos terminou permitindo esse olhar sobre o mundo que se transforma.”

Por seu perfil intimista, Entre Nós possui características especiais, num mercado que, cada vez mais, privilegia o humor. O filme está sendo lançado com 120 cópias – seria um lançamento médio, mas é grande, justamente pelo fato de ser ‘drama’. Pai e filho põem fé. “O filme tem suspense e em toda parte a plateia tem reagido bem.” No festival de Roma, foi uma longa ovação. O elenco talvez seja o grande trunfo de Entre Nós. Como foi a composição? “Foi mesmo uma composição. Ficamos um ano escolhendo o elenco, testando as pessoas. Queríamos gente que se integrasse, que criasse o clima de amizade e camaradagem”, diz Paulo,.

Alguns já eram amigos, outros ficaram. “A gente reuniu o elenco no set durante duas semanas. Os atores se apropriaram dos personagens e dos diálogos. Improvisaram para dizer as falas na embocadura deles.” Foi o próprio Pedro quem propôs ao pai que assumisse o elenco. Ele falaria com os atores por intermédio de Paulo. Pedro assumiu a parte… técnica? Não – a estética, avaliza Paulo. “Nunca houve divisão. Para a gente, os dois eram um”, resume Carolina Dieckman. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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