Documentário ‘Rock Brasília’ abre hoje festival

Vladimir Carvalho deve sua fama a documentários de recorte político e social, como “O País de São Saruê” e “Conterrâneos Velhos de Guerra”. O segundo investiga a morte de candangos, durante a investigação de Brasília. Carvalho, paraibano de origem, não renega suas raízes, mas ama Brasília. Marcado, como todos os homens e mulheres de sua geração – não apenas diretores – pelos acontecimentos de 1964, ele sonhou durante anos com um filme contando a história da invasão da Universidade de Brasília pelos militares, e fez “Barra 68”.

Foi como se se encerrasse um ciclo. O velho guerreiro deu continuidade à sua obra, nos anos 2000, de certa forma mais liberto. Fez “O Engenho de Zé Lins”, metaforizando, por meio das ruínas do engenho que pertenceu à família do escritor, uma indagação sobre o próprio sentido de sua obra, e da permanência dos seus escritos. José Lins do Rêgo foi, com certeza, uma influência forte sobre Carvalho. Falar dele, ou sobre ele, foi ferramenta para o diretor falar de si, da sua geração. E aí veio “Rock Brasília”.

É significativo que, em pleno Rock in Rio, o filme esteja inaugurando hoje o Festival de Brasília. “Rock Brasília” é político, como “O Engenho de Zé Lins”, mas de um outro jeito. Vladimir Carvalho, aos 70 e tantos anos – nasceu em 1935 -, parece estar começando de novo e fazendo os melhores filmes de sua carreira. O longa reúne depoimentos raros e inéditos dos protagonistas daquele movimento inspirado nos punks de Londres, como Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, do Legião Urbana; Dinho Ouro Preto, Fê e Flávio Lemos, do Capital Inicial; e Philippe Seabra, do Plebe Rude. Também dão seu testemunho outros artistas que se aproximaram da ‘tchurma’, como Herbert Vianna, do Paralamas do Sucesso, e Caetano Veloso.

Em entrevista por telefone, Carvalho confessa que o fato de ser um veterano não significa muito. Qual é sua expectativa para a exibição de hoje? “Estou com aquele friozinho na barriga”, admite. “O Engenho” e “Rock Brasília” são seus melhores filmes? “Estou filmando há 50 anos. A gente termina por aprender”, ele diz (e ri). Seu público nem deve se lembrar, mas havia rock em “O País de São Saruê”, “Conterrâneos” e “Barra 68”. Ele conta: “Sou 13 anos mais velho que o Walter (Carvalho, o grande fotógrafo). Walter é filho do segundo casamento de minha mãe e eu meio que fui seu pai, cuidando dele. Quando Walter virou adolescente e descobriu o rock, eu, como irmão mais velho, segui todo o processo. Foi muito importante ter assistido a Sementes da Violência, de Richard Brooks, aos 22 anos.”

O novo documentário encerra uma trilogia sobre a construção cultural e ideológica da Capital Federal – que começou com “Conterrâneos” e prosseguiu com “Barra 68”. As cerca de 40 horas que Carvalho conseguiu coletar – e que, depois de um ano de montagem, viraram o longa – incluem momentos como o quebra-quebra no show do Legião Urbana no Estádio Mané Garrincha, em junho de 1988, e o grande show do Capital Inicial na Esplanada dos Ministérios em 2008, com Dinho cantando a música do colega Renato Russo, “Que País É Esse?” As mudanças do Brasil estão na tela. E o friozinho na barriga cresce à espera do que poderá ser – tomara – uma apoteose, hoje à noite. “Rock Brasília” estreia em outubro, dia 21. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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