Diretor de ‘Fuocoammare’ quebra barreira ao vencer em Berlim com documentário

Na coletiva dos vencedores da 66ª Berlinale, a dinamarquesa Trine Dyrholom, premiada por seu papel em The Commune, de Thomas Vinterberg, disse que não acreditou: “Estava indo em direção a Meryl (Streep, presidente do júri), ia me curvar perante ela, mas Meryl tomou a dianteira e se curvou a mim. Meryl, a grande estrela, a maior atriz! Ganhar já era um sonho, mas aquilo! Peguei meu troféu, virei-me para o público e só tive olhos para Thomas e meu marido, que choravam. Foi um dos momentos mais plenos da minha vida. Estive aqui (na Berlinale) muitas vezes, mas ganhar agora está sendo muito importante para mim.”

E o júri de Meryl Streep, apesar de alguns equívocos – o Urso de Prata de roteiro para United States of Love, do polonês Tomasz Wasilewski -, acertou em quase tudo. Urso de Ouro para um documentário – Fuocoammare -, o segundo grande prêmio do italiano Gianfranco Rosi, que já venceu em Veneza, em 2013, com Sacro Gra. “Só tenho de agradecer ao festival por haver programado meu filme. Em geral, os festivais preferem as ficções, mas os documentários também têm compromisso com a estética, a linguagem, e são encravados na realidade. Tudo o que quis foi colocar na tela a tragédia dos imigrantes, que está sendo o genocídio de nossa época, e a generosidade dos habitantes da ilha de Lampedusa.

São pescadores que acolhem o que o mar lhes dá. Os imigrantes são essas pessoas desesperadas por uma migalha de esperança. É inaceitável que morram no mar, tentando fugir às tragédias em seus países. Não posso deixar de pensar nesse momento nos que não conseguiram fazer a jornada para Lampedusa.”

Melhor filme para Fuocoammare, melhor atriz para Trine Dyrholm. O filme de Gianfranco Rosi, disse a presidente Meryl Streep no palco do palácio do festival, “vai ao coração daquilo que a Berlinale quer dizer – defesa da vida, da dignidade humana.” Muitos, quase todos, entre os demais prêmios, foram impecáveis. Melhor ator para o tunisiano Majd Mastroura, por Hedi, e o filme de Mohammed Ben Attia também foi o melhor de diretor estreante; melhor direção para a francesa Mia Hansen-Love, por L’Avenir/O Futuro; grande prêmio do júri para Mort à Sarajevo, do bósnio Danis Tasnovic, que, no início da tarde, já ganhara o prêmio da crítica (Fipresci); e Prêmio Alfred Bauer para um filme que inova e abre caminhos, para o filipino Lav Diaz, com o monumental (oito horas de duração) A Lullaby to the Sorrowful Mystery.

Na entrevista que deu à reportagem, Diaz havia dito que, pela própria natureza do seu filme, não esperava ser premiado. “Só estar aqui (na Berlinale) já é um prêmio para mim. Um filme de oito horas. Festivais não programam obras assim.” E, após a premiação: “É um estímulo para mim e para todos aqueles que querem fazer filmes fora dos standards. Há espaço para tudo e todos. Só é preciso adestrar o olhar”. E Tanovic, sobre seu filme que adapta a peça – um monólogo – de Bernard-Henri Lévy, Hotel Europa, sobre um intelectual que reflete sobre o centenário do assassinato do arquiduque Franz Ferdinand, episódio que deflagrou a 1ª Grande Guerra. “A peça foi um ponto de partida. Henri (o autor) reflete sobre o passado na perspectiva de hoje. Quanto aprendemos, ou por que não aprendemos com nossos erros? Por que continuamos atados aos preconceitos que nos destroem? Assisti a algumas representações da peça e descobri que o que me interessava era fazer um filme a partir delas, ou ao redor delas. Criei o hotel com todos os seus personagens para representar a Bósnia e a Europa. O intelectual no topo, os funcionários no térreo e os criminosos, a violência, no subsolo. Pode parecer banal, mas esse mundo violento precisa de amor. Dedico meu filme à minha mulher. Eu te amo, querida.”

Premiada como melhor diretora, Mia Hansen-Love fez um agradecimento especial à atriz Isabelle Huppert. Durante toda a Berlinale, Isabelle esteve sempre na primeira fila entre as prováveis vencedoras do prêmio de interpretação por seu papel como a professora de filosofia que tenta conciliar teoria e prática e que, abandonada pelo marido, reaprende o que é liberdade. “Só tenho de agradecer a Isabelle, que foi inspiradora para mim com sua inteligência, sensibilidade e humor. Eu tinha uma ideia de filme que ela viabilizou com seu imenso talento

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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