Desde os tempos do Asdrúbal..

Confesso que já senti inveja de atrizes com carreiras homogêneas, que alternam uma novela com um filme ou uma peça de teatro. A minha história profissional não é clássica. Sempre tive dificuldade de preencher o item profissão no “check-in” dos hotéis… Não sei se foi minha origem com o grupo de teatro Asdrúbal Trouxe O Trombone – que fez, de todos nós, atores autorais – ou se meu ascendente em Gêmeos que faz com que eu goste de tocar vários instrumentos, ou se tudo isso junto.

O fato é que, quando tenho de fazer um currículo ou escrever sobre o meu trabalho, percebo o quanto é mutante, instável e variada essa carreira que se alterna entre atriz, autora, diretora e apresentadora. As pessoas que me entrevistam perguntam o que eu mais gosto de fazer. Acho que tenho fases…

Fiz algumas novelas. Umas boas, outras nem tanto, e uma ótima, pela qual sou lembrada até hoje. Principalmente agora, depois da estréia de “O Beijo do Vampiro”. Novela é um trabalho aberto, que conta com vários fatores para dar certo. “Vamp” foi assim. Fui convidada primeiramente para fazer um determinado papel. Já estava me preparando para ele quando, de repente, me mudaram para outro, que seria Mary Matoso. Lembro de ter ficado meio chateada, mas o novo personagem tinha seus atrativos… Era uma ex-atriz pornô que, chegando aos 40 anos, resolve voltar para a sua cidade natal e “se dar bem” com o viúvo de sua irmã. A idéia dela era pendurar as chuteiras em grande estilo.

Biscate, carreirista, competitiva, autocentrada e vulgar. Quem não iria gostar de fazer esta mulher? Na sinopse, ela viraria vampira lá pelo meio da novela. Mas quando as pesquisas mostraram que o público tinha adorado os vampiros, o autor saiu mordendo todo mundo. No segundo mês de “Vamp” no ar, Mary Ramos já era Matoso e vampira. Todo o estilo que o figurinista tinha desenhado para a ex-atriz pornô dançou e ficamos particularmente perdidos quanto ao penteado de Mary como vampira.

Um dia, estávamos numa externa em Niterói que, por alguma razão, atrasou. Passamos praticamente o dia todo sentados na varanda de um bar na beira da praia esperando. Voou uma folha de jornal e caiu numa página aberta em um editorial de moda que tinha uma modelo com um cabelo parecido com algo que eu já tinha imaginado. Mostrei para a cabeleireira e resolvemos experimentar. No improviso, ela pegou no banheiro do bar aquela parte de papelão do papel higiênico, enrolou com o meu cabelo e usou um aplique como rabo. Deu certo. Gravamos assim e todo mundo gostou. No estúdio, fomos aprimorando o penteado e criamos, dessa forma, o que viria a ser uma marca da personagem.

Adorei fazer Mary Matoso. Me diverti! Muito do seu jeito de ser surgiu espontaneamente, como se as várias brincadeiras da minha infância tivessem vindo à tona. Até hoje me surpreendo com o sucesso que ela faz. Na época, não tinha consciência da força de sua popularidade e não podia imaginar que dez anos depois ainda seria lembrada…

Agora, a minha fase é predominantemente autoral. E, dando seqüência a essa carreira diversificada, escrevi um livro de crônicas chamado “Esse Sexo é Feminino”, estou trabalhando num projeto para televisão – que ainda é “segredo” – e tenho uma coluna chamada “Mil Coisas” na revista “Marie Claire”. Além disso, apresento o programa “Alternativa Saúde”, do GNT, há cinco anos e planejo, para o início do ano que vem, estrear no teatro um texto meu chamado “Mãe do Monstro”, inspirado no meu filho. É… Realmente, sou uma mulher de fases…

Voltar ao topo