De garimpo e corrupção

A trágica história do bandeirante paulista Fernão Dias é a inspiração para Fábio Lamachia Carvalho em seu Sonho verde – Aventura num garimpo de esmeralda, que chega às livrarias pela Geração Editorial. Apostando no interesse do leitor brasileiro pelo gênero não-ficção romanceada, a mesma editora lança também Seqüestro sangrento, do médico-presidiário Hosmany Ramos.

Sonho verde (264 páginas e com mais de 20 fotos) é uma novela-reportagem nas entranhas da terra, mais precisamente da terra da Serra da Carnaíba, na Bahia. Ali ele ficou uma temporada extraindo esmeraldas, uma experiência bem diversa do seu mundo virtual na internet e em São Paulo.

Nessa vida de garimpeiro, em que a tônica é o convívio diário com o perigo, o autor deparou-se com a morte algumas vezes. Viu-a no meio da rua, quando um garimpeiro foi assassinado por um insólito taco de sinuca cortado ao meio (porque quebrou o primeiro mandamento ético do garimpo, ao chamar um companheiro de corno). Sentiu-a na própria carne, com a morte presente a todo instante: na dinamite que explode tardiamente, nas grandes rochas e madeiras que a qualquer momento podem ceder, nas frágeis roldanas usadas para subir e descer das minas, no ataque dos saqueadores, nos fios elétricos desencapados em um ambiente cheio de água, no cotidiano de um trabalho onde tudo acontece mais ou menos no improviso.

Mas Fábio sobreviveu para contar sua emocionante aventura. Mais do que esmeraldas, trouxe de volta uma história de vida, uma experiência de autoconhecimento. Na trilha sonora, Raul Seixas. No coração, a magnífica história que passou para o papel.

Seqüestro sangrento é uma mistura de ficção com não-ficção contada por Hosmany Ramos, há vinte anos na penitenciária. Nesse romance, em que mistura personagens imaginárias e reais (muitas delas com seus próprios nomes), Hosmany volta a seu passado de cirurgião plástico da alta sociedade carioca e muda o cenário de sua história – mas o tema parece ser sempre o mesmo: patologias sociais como a corrupção, o crime, a chantagem e, novamente, a violência que nasce disso tudo. Acontecem nos corredores do Congresso Nacional, nas mansões de Brasília, nos hotéis e restaurantes de luxo do Rio de Janeiro, nos estúdios de tevê e redações de jornais, nas colunas sociais, na polícia e na igreja evangélica. Nenhuma instituição – nem mesmo a igreja – escapa da pena incisiva de Hosmany, que agora decidiu viver de literatura e já tem vários outros livros a caminho.

“É tudo ficção”, faz questão de esclarecer o autor na apresentação. “Não mais do que mera coincidência”, reafirma. Mas, no mesmo texto, revela marotamente que “muitas das informações e situações narradas foram baseadas em pessoas que conheci e com quem convivi. Gente que, por alguma razão, se sente vulnerável”. Hosmany não gosta de falar a respeito, mas muitas das mais impressionantes cenas de seu romance podem ter sido vividas por ele mesmo. Duas décadas atrás das grades, com algumas fugas espetaculares, são sem dúvida uma fonte de experiência marcante para o tipo de literatura que ele faz.

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