Curitiba não resistiu a Seal

Às vezes, falta alma para que a música envolva o público. Não é o que acontece com Seal. Com menos de dois minutos de apresentação no novíssimo teatro Positivo, em Curitiba, ele chamou os fãs para dançarem à beira do palco. E, de forma inacreditável, a high society curitibana desceu do salto e foi se acabar como se aquele fosse o último show da existência de todos que estavam ali. Nunca um artista conseguiu tão rapidamente cativar o público local com tanta rapidez.

Cabe aqui um rápido parêntese. Não se fala de espetáculos a céu aberto, com todo mundo em pé e com o espírito armado para uma fuzarca. Em um teatro, o curitibano se aquieta, se fecha como sempre faz quando não está em um ambiente ?conhecido??. Certa vez, ao se apresentar no teatro Guaíra, Roberto Frejat ficou tão incomodado com o fato de ser acompanhado por um público desanimado que acabou apelando. ?Viu, vocês podem se levantar da cadeira, podem dançar?, disse, sendo atendido por quase todos os que estavam na platéia – até a música seguinte, quando a maioria voltou a sentar. Fecha o parêntese.

Seal conseguiu colocar o curitibano, avesso à manifestações de euforia, para dançar. E conseguiu manter o público, até mesmo aqueles que sequer sabiam quem era aquele cidadão no palco (ainda há a cultura do ?evento social??, que faz com que pessoas vão a shows apenas para aparecer), firmes em seu propósito de animar a noite de terça-feira.

Ele teve êxito porque proporcionou a quem lotou o teatro um espetáculo tecnicamente perfeito. Iluminação, cenário, telões, músicos e o próprio Seal foram brilhantes, sem falhas (só bobeou o pessoal do som, que deixou os alto-falantes perto de onde o cantor passava, e gerava microfonia). É música eletrônica, a house dos anos 90, de muita qualidade, sem apelar para maneirismos e exageros cibernéticos.

É claro que dois laptops estavam lá, como dois integrantes da banda. Pareciam computadores responsáveis não só pela batida eletrônica, mas pela sincronia dela com as imagens do telão e a iluminação. Mas eles não eram as estrelas da companhia – estes eram Seal e seus companheiros de palco (Eric Schermerhorn, Deron Johnson e Chris Bruce). E aí está a diferença: havia alma por trás daquelas batidas. Havia três músicos, havia um cantor de verdade a liderar o grupo.

São pessoas, e isso muda tudo. Talvez por isso os curitibanos tenham aceitado tão rapidamente a presença de Seal, e atendido seu pedido de transformar o teatro Positivo em uma grande pista de dança. E depois gostaram de ouvi-lo cantando – com seu estilo peculiar – a bossa Corcovado, de Tom Jobim (prova de que ele sabe o que é bom). Mas ninguém imaginava que, na hora do bis, ele ensaiaria a ?dança do créu?. Prova de que nem mesmo os mais cosmopolitas resistem a, digamos assim, ?sutileza?? do créu.

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