Cristovão Tezza retorna ao conto em ‘Beatriz’

Cristovão Tezza não se julga um contista. “Escrevi um único livro de contos na vida, ‘A Cidade Inventada’, histórias sofridamente criadas e buriladas entre 1969 e 1979 com a intenção de aprender e dominar as artes da ficção”, escreve ele no prólogo de “Beatriz” (Record), sua nova incursão no gênero.

Trata-se da reunião de sete histórias curtas – duas inéditas -, além do próprio prólogo, em que Tezza desenvolve uma minuciosa análise sobre o ato da escrita e, particularmente, da gestão desse livro. O autor catarinense – que lança hoje a obra na Livraria Cultura do Conjunto Nacional e participa amanhã do evento Cabeça de Escritor, no Sesc Pompeia – revela a dificuldade que enfrenta ao criar um personagem. “Essa misteriosa representação, esse duplo esquisito que é a alma de toda a narrativa, é para mim uma construção penosa, quase uma figura verdadeiramente real que vou desbastando a duros golpes de linguagem até ela se tornar outra coisa, até se constituir num espírito singular, cuja voz tenha um bom grau de autonomia e não fale o tempo todo por mim”, continua, na introdução.

A origem de “Beatriz” é curiosa. Tezza conta que, no fim de 2006, depois de participar de um tedioso debate literário, escreveu, de uma só vez, “Alice e o Escritor”, conto que lhe permitiu experimentar uma nova forma de manejar a sintaxe, de controlar o ritmo. E, como sempre acontece em experiências desse tipo, Tezza sentiu-se diferente depois da experiência, como se tivesse passado por um reajuste na percepção do mundo e seus valores.

Os personagens surgiram a partir de experiências passadas: o escritor Donetti vinha de um romance anterior, “Ensaio da Paixão”, ainda que fossem totalmente distintos. E Alice surgiu quase no final do conto, mas de forma arrasadora, pois Tezza conta que não conseguia esquecê-la. A ponto de figurar em outra história, ganhando mais detalhes pessoais que lhe definiam o contorno – surgia, agora, como uma divorciada. Já Donetti retornou em um conto inspirado em Machado de Assis para uma antologia. Até que, transbordando a narrativa curta, os dois personagens voltaram no romance “Um Erro Emocional”, lançado no ano passado, quando Alice já se metamorfoseara em Beatriz. No novo livro de contos, ela surge como uma revisora de textos, que aproveita uma proposta indecente e outra, para refletir sobre a vida. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

CRISTOVÃO TEZZA

Lançamento de “Beatriz” – Livraria Cultura (Avenida Paulista, 2073, Conjunto Nacional). Telefone (011) 3170-4033. Hoje, às 19 h.

Bate-papo com o autor – Sesc Pompeia. Biblioteca (Rua Clélia, 73). Telefone (011) 3971-7700. Amanhã, às 20 h.

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