Cream Brasil lota a Pedreira com gente bonita

No último dia 20, Curitiba recebeu na Pedreira Paulo Leminski o Cream Brasil, versão nacional do núcleo de e-music Creamfields, famoso por produzir festas em diversos países. A organização do festival estava impecável: segurança, fácil acesso, pouca fila, agilidade para entrar, bares e banheiros funcionando a contento. Sem contar que a Pedreira é um lugar fantástico para shows de música eletrônica ? o que mais se ouvia era "como ninguém nunca pensou nisso antes?".

Porém, o que mais importava ? o som, claro ? deixou a desejar. Alguns decibéis abaixo do que costuma-se ouvir em apresentações de música eletrônica, mesmo em frente ao palco era possível conversar normalmente e até falar no celular. Os telões, no comando do VJ Alexis, faziam a alegria geral, mas não eram suficiente para entreter a galera ávida por música nos intervalos das apresentações. Os intervalos eram praticamente silenciosos e com a iluminação batendo direto no rosto dos espectadores.

A unanimidade do Cream Brasil sem dúvida ficou com o grupo britânico Groove Armada. Debaixo de um chuvisco tipicamente curitibano, a apresentação foi boa do início ao fim e o som estava impecável ? diz a lenda que eles trouxeram os próprios equipamentos. Logo de cara esquentaram a pista com "My friend", fazendo os presentes esqueceram daquela história de quem veio tocar não é quem faz as músicas. Foi tal qual nos CDs. "Superstylin", obviamente, acabou sendo o ponto alto da apresentação. Destaques também para "I see you baby" e "Fogma".

Paul Oakenfold

Decepção é a melhor palavra para descrever a apresentação do DJ superstar. Em quase duas horas, o inglês desacelerou o público que já esfriava debaixo da chuvinha, fazendo um set "viajante", sem novidades e disparando viradas pra lá de fracas. Mesmo parecendo muito animado, batendo palmas e por vezes indo à frente do palco, a impressão foi de que Oakenfold ignorou quem estava no dancefloor, soltando velhos sucessos ? as mais "novas" foram "Traffic", do Tiësto, e "Prophet", do CJ Bolland.

Mesmo com a animação do DJ, não houve interação nenhuma com os espectadores. Os fãs do U2 foram premiados com com os remixes de "Beautiful Day" "Ultra Violet" e a já massacrada pelas FMs, "Vertigo", provavelmente uma homenagem da estrelinha ao lançamento do novo cd da banda. De resto, destaque para o batido remix de "Idioteque", do Radiohead.

A grande estrela da noite, sem dúvida, foi Mau Mau, um dos melhores DJs brasileiros. Acostumado ao fechamento de grandes festivais e baladas com grandes DJs, Mau2 animou quem ainda persistia em enfrentar o frio e o som, que a partir da apresentação da dupla argentina Spitfire, ficou ridiculamente baixo. Tech-house de qualidade e o carisma de sempre marcaram a apresentação do paulista, que encerrou o festival pontualmente as 7 da manhã.

Curitibocas

A exemplo do que aconteceu no ano passado na festa com o DJ Carl Cox, uma grande área Vip foi criada para abrigar a pretensa nata da sociedade curitibana, novamente dividindo a pista de dança com uma opressora grade de ferro. Área Vip para 2 mil pessoas já é um contrasenso, ainda mais contando com outra área Vip dentro dessa. Com ingressos a 60 reais, essa divisão de castas está se tornando cada vez mais absurda e preconceituosa, ainda mais se pensarmos que a maioria das pessoas ali não paga entrada, e sim, ganha convite.

Dentro ou fora da área Vip, a festa foi feita sobretudo pela vibe da galera, que soube aproveitar a Pedreira como nunca, dançando muito e sem se importar em sair marrom de poeira.

Opinião

No quesito organização o primeiro Cream Brasil passou por média. A boa divulgação do evento, o esquema de transporte e os diversos pontos de venda de ingressos em todo o Brasil já davam uma mostra que o Cream Brasil seria um grande evento. E não foi diferente. A estrutura montada na Pedreira Paulo Leminski foi das melhores que já apareceram por aqui. Boa quantidade de banheiros, bares sem filas e com atendimento rápido, segurança eficiente e sem truculência, sala de imprensa bem equipada e até sofisticados garçons servindo whisky no meio do povão deram um conforto a mais pra turma boa de copo – tudo isso de acordo com o preço do ingresso.

Mas para a próxima edição do Cream muita coisa pode ser melhorada. A começar pela área "VIP", que poderia ser diminuída para dar espaço a um outro palco em ambiente coberto. Pela quantidade de público (12 mil segundo a assessoria de imprensa) fez falta um pequeno mercado de cds e outros produtos como nas edições do Creamfields na Europa. A iluminação fora do palco ficou limitada a canhões de luzes coloridas para o alto e muitas vezes uma luz tipo inquérito policial cegava a galera nos intervalos silenciosos do Cream. Em comparação com o Creamfields Andaluzia realizado na Espanha, no último mês de agosto, a organização da versão dos pinheirais não deixou a desejar e reafirmou a capacidade de Curitiba em receber grandes espetáculos musicais. (Heros Schwinden)

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