Confusões da Bossa Nova

Ontem, o Rio de Janeiro recebeu a primeira grande festa de homenagem aos 50 anos da Bossa Nova. Um show em plena praia de Ipanema, com gente que iniciou o movimento, como Roberto Menescal e Carlos Lyra, outros que aderiram pelo caminho, como Leny Andrade, e jovens artistas que gostam de música, como Fernanda Takai e Maria Rita. É só o início de uma comemoração que vai durar por todo 2008. E que vai ser ?alvo? de muita confusão.

São cinqüenta anos, e muitos dos protagonistas da gênese e do início da Bossa Nova já morreram. Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Sylvia Telles, Ronaldo Bôscoli e Nara Leão são nomes de importância decisiva no movimento, e já nos deixaram há certo tempo. Precursores como Dick Farney e Lúcio Alves também. Gente como Newton Mendonça e Dolores Duran nem viveram o apogeu da Bossa. Outros que viveram o período, como Elizeth Cardoso, Maysa e Elis Regina, também já partiram.

E os artistas daquela época que continuam na ativa são humanos, envelheceram e às vezes não se lembram de determinadas situações. Alguns, Some a isso o fato de João Gilberto viver recluso, Johnny Alf ser extremamente arredio e João Donato ter partido para os Estados Unidos ainda em 1959, contar hoje a história da Bossa é complicado.

Por isso, já se ouve muita coisa errada por aí. Começa bem pelo começo, que é a data mais aproximada da ?fundação? da Bossa Nova. Alguns chegam a dizer que seria com Copacabana, interpretada por Dick Farney, em 1946. É um momento de ruptura do samba-canção, mas é samba-canção. Assim como Foi a Noite, de Tom Jobim e Newton Mendonça. Ou mesmo as músicas de Orfeu da Conceição, mesmo todas escritas por Tom e Vinícius. Ou com Rapaz de Bem, de Johnny Alf, ou Tereza da Praia, de Tom e Billy Blanco.

Assim como também não é no álbum Canção do Amor Demais, de Elizeth. Ali estão, em tese, todas as ?partes? que criaram a Bossa Nova – Tom, Vinícius e João Gilberto. Mas é um disco de samba-canção, com alguns toques de saudosismo (como Serenata do Adeus) e com Chega de Saudade e Outra Vez, estas sim com o violão de João, envolvido em arranjos grandiloqüentes. Não é Bossa Nova, não é o fim do caminho, é o meio do caminho.

Bossa Nova mesmo é o 78 rotações de João Gilberto, com Chega de Saudade no lado A e Bim-Bom no B. É neste disco que se ouvem as harmonias diferenciadas, o violão de João em primeiríssimo plano, o piano de Tom (que era o arranjador) e a dupla percussão de Juquinha Stockler e Guarany – o primeiro na escovinha e o segundo na baqueta. Este álbum, que depois geraria o segundo compacto e o álbum posterior, é o ponto de partida da Bossa. O resto é história. E que será contada neste 2008.

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