Como a virgindade e o fim dela são abordados nas novelas

Virgindade em novela brasileira não tem nada de anacrônico. O tema tem sido amplamente debatido em várias das atuais produções e as vítimas, ou os personagens “invictos”, ainda gozam da simpatia do público.

Em Mulheres Apaixonadas, a personagem Edwiges de Carolina Dieckmann até ganhou o apelido de Edvirgem devido à tenacidade da moça já nem tão jovem assim em se manter… moça. Manoel Carlos também aborda de maneira bem-humorada a questão através do adolescente Carlinhos, papel de Daniel Zettel. Em Agora É Que São Elas, Vinícius, personagem de Rodrigo Prado, iniciou a irmãzinha de criação Fátima, vivida por Taís Fersoza, nos segredos da cama. Já em Malhação, o assunto é recorrente e amplamente debatido. E a maioria dos personagens se envolve com o tema, no mínimo para dar palpite. O fato é que a virgindade ou a perda dela tem sido abordados com naturalidade na tevê. E tem gerado interesse e apoio do público, algo impensável até meados da década de 80. “Pela postura da sociedade e a censura, virgindade era tabu. Ao contrário de agora, falar de virgindade afugentava a maior parte do público. Sexo era só após o casamento e não tinha conversa”, puxa pela memória Manoel Carlos.

Regra

O autor Mário Teixeira explica que existe uma espécie de norma para tratar do tema em Malhação. No “folheteen” da Globo, as personagens principais nunca transam enquanto ocupam o posto de protagonista. Segundo o autor, isso acontece com o objetivo de não gerar conflito na relação entre os personagens principais da produção. Foi o que aconteceu com Júlia, personagem de Juliana Silveira, que só agora, após se livrar do papel de protagonista, se livrou também da virgindade com o namorado Pedro, vivido por Henry Castelli. Já o protagonista masculino não enfrenta nenhuma restrição. “Existe a idéia de que as garotas têm a tendência a levar o sexo mais a sério do que os garotos. Talvez esteja na hora de quebrar mais este tabu”, acredita Mário Teixeira.

O primeiro autor brasileiro a tratar do assunto virgindade de maneira explícita foi Gilberto Braga. Na minissérie Anos Dourados, em 1986, e Vale Tudo, em 1988, ele abordou o tema através das personagens de Malu Mader e Flávia Monteiro, respectivamente. Mas foi em O Dono do Mundo, em 1991, que ele levou o assunto ao extremo. No dia do casamento da protagonista Márcia com Walter, papéis de Malu Mader e Tadeu Aguiar, o médico Felipe aposta com o comparsa Júlio – personagens de Antônio Fagundes e Daniel Dantas -, que desvirginaria a moça antes do marido, que era seu empregado. “Fagundão”, é claro, ganha a aposta. Mas houve um problema: o público rejeitou a traição da noivinha do subúrbio. Gilberto Braga teve de alterar a trama na tentativa de fazer a protagonista ser aceita. O autor revela que se inspirou em dois amigos da equipe de produção de outra novela escrita por ele. Quem transasse primeiro com determinada atriz do elenco ganhava uma caixa de uísque. Segundo Gilberto, os dois perderam. “Achei escrotinho e criei esta aposta em O Dono do Mundo. Mas as classes C e D não entenderam. Foi uma pena porque era uma situação em que a elite desrespeitava a ingenuidade do pobre”, politiza o autor da próxima novela das oito.

Às escondidas

Mostrar a primeira vez dos personagens de maneira mais “caliente” demorou a acontecer na tevê brasileira. Até meados da década de 80, o público tinha de usar a imaginação. Mauro Alencar, autor de A Hollywood Brasileira – Panorama da Telenovela no Brasil, recorda que as cenas apenas davam a impressão que estava acontecendo uma transa. Na primeira versão de Anjo Mau, em 1976, por exemplo, na esperada primeira vez de Léa, papel de Renée de Vielmond, com Rodrigo, vivido por José Wilker, os dois apareciam entrando em um quarto e peças de roupa caindo. E só. Mauro lembra que por muitos anos a primeira vez e a perda da virgindade eram apenas sugeridas e só o espectador que estava acompanhando a trama é que entendia o que estava acontecendo com os personagens. O autor afirma que existia uma saída clássica para os autores não chocarem o público. “O casal viajava em lua-de-mel e a moça voltava grávida”, diverte-se Mauro Alencar.

A repercussão sentida na pele

Os atores que vivem personagens que tratam da perda da virgindade garantem que sentem um aumento no assédio do público. Principalmente os homens, que são alvo de gozações quando, por exemplo, os personagens “negam fogo” na primeira vez. O ator Daniel Zettel, o Carlinhos de Mulheres Apaixonadas, reclama que desde que o seu personagem “não encarou” a empregada da família – que finalmente havia decidido transar com o falante rapaz -, andar nas ruas virou uma espécie de martírio para ele. Isso porque o personagem, que se dizia “pegadô”, saiu correndo na hora do “vamuvê”. “O Maneco usa a comédia para tratar da virgindade de Carlinhos porque aborda de maneira séria o caso da Edwiges. É o outro lado da moeda”, conforma-se Daniel.

Já a primeira vez de Cabeção em Malhação serviu para o autor da produção mostrar o que pode acontecer quando um menino e uma menina perdem a virgindade juntos. No caso, o personagem vivido por Sérgio Hondjakoff transava com Helô, quando Fernanda Souza já não era mais protagonista. Só que enquanto ele adorou, ela detestou a experiência porque, além de sentir muita dor, o parceiro foi muito afoito. Cabeção agora se prepara para transar com a japonesinha Miuki, interpretada por Daniele Suzuki em Malhação. “O público zoa mesmo. Cansei de ouvir que tinha broxado na novela”, lembra Sérgio.

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