Combinação imperfeita

desenho270906.jpgÉ estranho, constrangedor e, às vezes, até engraçado ver como alguns apresentadores de tevê fazem malabarismos para conduzir seus programas. De Márcio Garcia, da Record, a Olga Bongiovanni, da Rede TV!, todos se esforçam para transmitir naturalidade, rindo a todo momento. Soa quase sempre artificial. Em uma era repleta de pessoas dispostas a aparecer, não deve ser difícil para uma emissora encontrar voluntários dispostos a comandar produções de qualidade duvidosa. Mas é parte da estratégia das empresas usar nomes fortes em programas fracos. O resultado é desajustado.

Eliana, um dia espontânea cantando a música dos dedinhos e fazendo a alegria das crianças, tem agora um visual bem mais sóbrio e elegante à frente do Tudo é Possível, da Record. O requinte da moça, no entanto, nada tem a ver com o estilo do programa que apresenta. Ela teve um desejo atendido: o de não trabalhar mais para o público infantil. Mas a loira não se encaixa no perfil da produção, que mais combina com um antigo apresentador da casa, o cantor Netinho de Paula. Entretanto, como para a Record é interessante ter em seu ?cast? um nome como o de Eliana e para ela a exposição na mídia é sempre melhor do que a geladeira, fica tudo simplório assim mesmo.

Outro que destoa do formato quadradinho que impera nos programas de auditório é Márcio Garcia. Desde que estreou no O Melhor do Brasil, nas tardes de sábado da Record, o rapaz ainda não recuperou a espontaneidade dos tempos de Gente Inocente, da Globo. Márcio Garcia é moderno demais para um projeto que é a cara do Raul Gil. Mesmo com a retomada da produção teledramatúrgica na emissora, no entanto, é muito mais cômodo para ele manter seu posto de apresentador. Com um ritmo de trabalho bem menos enlouquecedor do que o de uma novela, ele garante sua própria tranqüilidade e a da emissora ao conquistar a vice-liderança no horário.

Na Rede TV!, o que impressiona é o subaproveitamento de Olga Bongiovanni no Bom Dia Mulher. A jornalista transmite seriedade, tem credibilidade, mas fica limitada a comentar as fofocas contadas pelo companheiro Jeff Benício e às aulas de culinária. Nada que explore o potencial da apresentadora que tem boa bagagem e que poderia contribuir com informação e inteligência.

Com uma imagem menos conhecida que a de Olga, mas com a mesma dose de compostura, Regina Volpato fica perdida nas tardes do SBT. A apresentadora do Casos de Família foge do perfil do programa que se propõe a expor problemas e fragilidades emocionais dos participantes. Regina é educada demais, fala docemente demais e, nem com muito esforço, encaixa-se no modelo popularesco de Casos de Família. Sua escalação é tão despropositada quanto seria uma perfeição pôr Márcia Goldschmidt no mesmo lugar. Seria a apresentadora ideal.

Todos os programas têm audiência, atraem anunciantes e isso já basta para garantirem seu espaço na grade televisiva. Do lado das emissoras, satisfação. Do lado dos profissionais, impossível afirmar que balanço é feito – talvez o bom retorno financeiro, é verdade. O fato é que nem sempre eles podem ter o programa que realmente desejam e são obrigados a fazer concessões. Ou pode ser até que ficar onde estão tenha suas vantagens. Mas a verdade é que nesse jogo de ajustes – quase sempre forçado – o desfecho é, no mínimo, excêntrico. Somando-se uma extravagância daqui e uma escorregada dali, o resultado é uma televisão cada vez mais esquisita de ver.

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