Briga entre iguais

Na batalha de todas as manhãs entre as emissoras abertas, as armas usadas são as mesmas. O que muda entre uma e outra é o poder de alcance. Após seus respectivos telejornais matinais ou programas de desenhos animados, Globo, Record, Band, Rede TV e, mais recentemente, a JBTV – que assumiu o lugar da CNT -, bombardeiam o resto das manhãs com culinária, moda, fofocas sobre celebridades, pautas sobre comportamento, muito ?merchandising? e uma pitadinha de notícia.

A que acorda mais cedo nessa disputa é Ana Maria Braga. No comando do Mais você, ela entra no ar às oito e cinco da manhã com o grito ?acorda, menina!? e uma mensagem de motivação para começar bem o dia. Mas de uns tempos para cá, ela e o papagaio Louro José tiveram de buscar novidades além das piadas que contavam e das receitas que a apresentadora ensinava a fazer. Começaram a investir quase que diariamente no que só acontecia de forma esporádica: brincadeiras com o telespectador que valem prêmios em dinheiro. Tudo por causa do Hoje em dia, programa da Record apresentado por Ana Hickmann, Britto Jr. e Eduardo Guedes. O trio tem ótimo entrosamento e definitivamente funcionou, batendo a audiência da Globo em determinados períodos. Mas são tantos os jogos e competições que oferecem recompensa financeira ao telespectador que chegam a ultrapassar os limites do suportável. Para aumentar o suspense, é corriqueiro segurarem o telespectador no telefone por horas antes de anunciar o resultado. Nessa hora, a diversão vira chateação e, como ao mudar de canal o que se vê é algo parecido, um programa copia o outro e alimenta o círculo vicioso.

 Os mais acanhados Bem família, da Band e Bom dia mulher, da Rede TV, apresentados respectivamente por Daniel Bork e Olga Bongiovanni, também prometem premiar o telespectador, mas com recompensas mais modestas. A falta de originalidade chegou a tal ponto que o recém-estreado Manhã mulher, da JBTV, com Ney Gonçalves Dias e Nani Venâncio, realiza um jogo exatamente igual ao promovido por Olga: o menor lance único. As pessoas telefonam dando lances e quem, sozinho, oferecer a menor quantia, leva o computador, a moto… O penoso é, quase sempre, esperar um mês para ver alguém sair vencedor dessas gincanas televisivas.

 Com o passar das horas e o dedo no controle-remoto, a conclusão é de que é possível escolher o apresentador. Tem a loira, a morena, o careca, o engravatado… Os assuntos, no entanto, são os mesmos. E o pior, são os mesmos de há muito tempo porque, nos idos anos 80s, Marília Gabriela, Ney Gonçalves Dias, Marta Suplicy, Ala Szerman, Clodovil e outros nomes já ?conversavam? da mesma forma com as mulheres no famoso TV mulher, da Globo.

 Para constranger um pouco mais, há o exagero de ?merchandising?. Os programas vendem de iogurteiras a máquinas digitais. Os apresentadores lucram, mas não o controle da situação, pois não é raro esgotar o tempo. Nessa hora, algumas atrações ou convidados sobram para o dia seguinte. Do jeito que os programas da manhã são, é de se estranhar que sobrem também telespectadores para o dia seguinte.

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