Bons espetáculos, organização, nem tanto

Passados cinco dos dez dias do Festival de Teatro de Curitiba, já é possível tirar um instantâneo da 13.ª edição do maior evento das artes cênicas no País. Pelo que deu para entrever nos palcos e nas ruas da cidade até agora, o FTC 2004 alterna grandes acertos, como a escalação de espetáculos como O Que Diz Molero e (Urfaust) – Fausto Zero, com falhas inaceitáveis, como o calvário que o público tem que encarar para comprar os ingressos.

No único ponto de vendas, no Shopping Estação, a espera nesses primeiros dias ultrapassava as três horas, enquanto funcionários jovens e atordoados eram incapazes de fornecer maiores informações. E a venda pela internet, uma das novidades deste ano, praticamente não funcionou, pois o site vivia fora do ar.

O festival começou oficialmente na última quinta, com três montagens simultâneas: Investigação Sobre o Adeus, do curitibano Edson Bueno (recebida com restrições pela crítica nacional), Aos que Virão Depois de Nós -Kassandra in Process, com os gaúchos da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz (bastante elogiada e ainda em cartaz), e Sonhos de Einstein, com os cariocas da Intrépida Trupe -conhecidos pela capacidade de adaptação na Ópera de Arame, mas que acabaram se divertindo mais que o público na montagem acrobática.

O grande destaque da primeira metade do FTC foi O que Diz Molero “romance-em-cena” do diretor cearense Aderbal Freire-Filho, que transportou integralmente para o palco o romance homônimo do português Diniz Machado. O resultado, que estreou no ano passado no Rio de Janeiro, é uma comédia filosófica de quase 4 horas de duração – mas que passam voando, tamanha a qualidade do texto e o entrosamento dos atores.

Outro peso-pesado da dramaturgia contemporânea, o mineiro Gabriel Villela trouxe, novamente, Walderez de Barros e Vera Zimmermann -que estiveram em A Ponte e a Água de Piscina no FTC 2003, – para fazer respectivamente o doutor Fausto e a jovem Margarida em (Urfaust) Fausto Zero, que estreou nacionalmente no Festival. A montagem foi “a cara” de Villela: coxia à mostra, cenografia inovadora e improvisada, figurinos deslumbrantes (assinados por ele), temperados com elementos da cultura popular brasileira, da commedia dell’arte italiana e do teatro de bonecos. Tudo isso serviu como alicerce para interpretações primorosas (principalmente de Walderez e do italiano Alvise Camozzi, excelente na pele de Mefistófeles) e ao belo texto de Goethe. Fausto Zero, aliás, se refere à primeira versão da mais célebre obra do poeta alemão.

A mostra oficial teve também a companhia britânica The Imaginary Body Theatre, com espetáculo 100 – originalmente concebido para uma platéia de 80 pessoas, mas que foi muito bem no gigantesco Guaíra, com seus mais de 2 mil lugares, e Mr. K e os Artistas da Fome, co-produção entre a Boa Companhia, de Campinas (SP) e o grupo alemão Arena e.V., que no ano passado foi considerado o melhor espetáculo da 13.ª Internationale Woche des Jungen Theaters, na Alemanha.

Nesta segunda metade do festival, os destaques na Mostra Contemporânea são A Aurora da Minha Vida, mais famoso texto de Naum Alves de Souza, que reestréia 20 anos depois da primeira montagem, Temporada da Gripe, do “curitioca” Felipe Hirsch, Kaspar ou a Triste História do Pequeno Rei do Infinito Arrancado de Sua Casca de Noz, com o grupo paulistano Os Satyros, e O Inspetor Geral, montagem do grupo mineiro Galpão, para o clássico do ucraniano Nicolai Gógol. Ah, e ainda tem Regina Duarte, no monólogo Coração Bazar, com direção de José Possi Neto. A programação completa está no site

www.festivaldeteatro.com.br.

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