Bom de briga

Oscar Magrini até já interpretou personagens bonzinhos. Mas sabe que dá mesmo o que falar quando encarna tipos de caráter duvidoso. Atualmente, em Sinhá-Moça, ele é o comerciante Manoel Teixeira, muito apegado ao dinheiro e que carrega a marca de ter sido um homem violento no passado. O ator estreou na tevê como um capanga, em Deus Nos Acuda, de 1992. Mas foi em 1996, com o gigolô espancador de mulheres Ralph, de O Rei do Gado, que ele viu sua carreira se transformar. ?Adoraria fazer Hamlet. Mas passo a imagem de um homem forte, não frágil. Combino mais com os valentes?, assume.

– Seu último trabalho na tevê foi Cabocla e agora você está em Sinhá-Moça. Como é atuar em duas tramas de época seguidas?

– Confiam em meu trabalho para atuar nesse tipo de novela. Acho que essa é a quinta trama de época que faço. Adoro o texto, o jeito de falar que não pede a mesma rapidez das novelas contemporâneas. Acredito também que meu porte, meu tipo físico mais corpulento combinam com determinados tipos de personagem que são característicos desses folhetins. Sou meio camaleão e isso ajuda. Quando começamos a produção de Sinhá-Moça e idealizamos o Manoel Teixeira, propus usar a barba para diferenciar, porque em Cabocla eu tinha um bigodão que marcava muito.

– Esse porte físico a que você se refere atrapalha na hora de ser convidado para interpretar um personagem mais frágil, por exemplo?

– Eu sei chorar, sofrer e posso fazer um homem romântico ou traído. Mas pelo meu porte físico, é mais comum me escalarem para fazer o vilão, o corajoso, o homem que bate em mulher. Talvez os autores e diretores analisem que eu passo mais verdade quando dou vida a essas figuras do que se encarnasse um tipo frágil. Mas acho ótimo fazer o mau-caráter, o valente, porque bonzinho eu já sou na realidade.

P – O sedutor e violento Ralph, de O Rei do Gado, é o papel que melhor traduz essa sua sina de interpretar canalhas?

– O Ralph era um grande mau-caráter, mas tinha uma repercussão muito positiva nas ruas. Por incrível que pareça, as pessoas gostavam dele. Os homens diziam que eu tinha que seguir por aquele caminho mesmo. Já para as mulheres eu era a personificação da fantasia do amante. Nunca fui tão assediado. Era cantado na cara dura. Foi o grande ?boom? da minha carreira e a partir daí todos passaram a saber qual era o meu nome. Na época eu não conseguia andar direito nas ruas com minha esposa e minha filha. Foi um sucesso tremendo que obrigou o Benedito Ruy Barbosa a reavaliar as coordenadas da história. Era um personagem para apenas trinta capítulos, mas no final foram cento e trinta e cinco.

– A repercussão de Johnny Percebe, de Torre de Babel, foi tão grande quanto a de Ralph?

– Esse é um exemplo de trabalho diferente, pois o Johnny Percebe era engraçado, uma chance muito boa que tive de fazer comédia. Quando o Silvio de Abreu me convidou, foi logo avisando que o personagem não seria tão grande e polêmico quanto o Ralph. Só que três meses depois o Percebe se tornou um imenso sucesso. É muito bacana para um ator conseguir transformar um personagem pequeno em um fenômeno. Eu consegui isso em Torre de Babel.

P – Nos últimos tempos, Record, SBT e Band ampliaram os investimentos em teledramaturgia e existe uma certa ?caça aos atores?. Chegou a ser assediado por uma dessas emissoras recentemente?

– Recebi uma proposta da Record, mas já havia assinado com a Globo e não tinha como aceitar. Meu atual compromisso com a emissora é longo e estamos, inclusive, conversando sobre os próximos projetos. Pode ser uma novela das oito que vem por aí ou ainda a minissérie da Glória Perez, Amazônia, de Galvez a Chico Mendes. Devo entrar na segunda fase da história, mas ainda não tenho detalhes sobre meu personagem.

Voltar ao topo