Bicho de peçonha

A versatilidade sempre fez parte da carreira de Jonas Bloch. É um daqueles raros atores que conseguem se manter em atividade constante, tanto na tevê quanto no teatro e no cinema. Depois de gravar o filme A Nossa Vida Não Cabe Num Opala, ainda sem data de estréia, e viajar pela Europa com a peça Senhor das Flores, dirigida por Caco Ciocler, Jonas retorna à teledramaturgia em Bicho do Mato. Na novela das 19h15 da Record, encarna o vilão Ramalho, responsável por infernizar a vida de inúmeros personagens da trama, inclusive a do mocinho Juba. ?Pintaram um Ramalho para o público me odiar?, comemora. Além de celebrar o papel que interpreta, o ator também está empolgado com os investimentos da Record na teledramaturgia. ?É mais uma porta artística forte se abrindo. Isso me excita muito como ator?, valoriza.

P – Como surgiu o convite para integrar o elenco de Bicho do Mato?

– Fui pego totalmente de surpresa. Pensava em tirar férias depois de emendar a novela Os Ricos Também Choram, do SBT com o filme A Nossa Vida Não Cabe Num Opala, que ainda vai estrear, e com a peça Senhor das Flores, que me levou a 21 cidades de Portugal. Mas bem no dia em que cheguei de viagem, eles me ligaram falando do Ramalho, um personagem fantástico, e eu não tive como negar. A Record já tinha me convidado há bastante tempo, mas na época não pude aceitar. Esse momento é histórico para a tevê brasileira e para mim. Primeiro porque a retomada da emissora na teledramaturgia é impressionante. Segundo porque minha estréia na tevê aconteceu exatamente na antiga Record, em 1969, com uma novela chamada Algemas de Ouro, de Benedito Ruy Barbosa.

P – E o que o personagem Ramalho, de Bicho do Mato, tem para deixá-lo tão animado?

R – É um personagem difícil. Um grande vilão, ambicioso, que carrega muitas histórias de seu passado. É a representação do que a gente vê hoje no país: pessoas que já têm tudo o que poderiam desejar na vida, mas ainda querem mais porque têm fome de poder. Na minha análise são pessoas com alguma grande insegurança, que pensam que só serão amadas e respeitadas se tiverem muito. Tenho muitas referências para esse personagem aqui no Brasil, mas não posso citá-las, pois corro o risco de ser processado…

P – Você é um ator que transita pelo cinema, pelo teatro e pela tevê. Em qual dessas áreas se sente mais realizado?

– Ultimamente tenho muita sorte com o cinema. Acabei de ganhar um prêmio de melhor ator coadjuvante pelo filme Cabra-Cega, de Toni Venturi. Participei também de Amarelo Manga, de Cláudio Assis, que foi premiadíssimo. Tenho muita atração por cinema, que tem um lado artesanal grande e pede uma preparação interessante. Já fui convidado para fazer outro filme, mas como meu papel em Bicho do Mato é muito pesado, não deu para conciliar.

P – O ritmo intenso de gravações de uma novela é tão penoso assim?

R – Quando você faz uma novela, não consegue ser dono de si. Não consigo planejar nada, marcar horários para compromissos. É preciso até contar com a ajuda de alguém para pagar as contas no banco. Esse lado é bem difícil de lidar. Mas fico lisonjeado com os convites que recebo e sempre tenho a liberdade de poder escolher se quero fazer ou não. Assino contrato por obra e assim não me prendo à emissora nenhuma e nem fico amarrado a um mesmo tipo de papel.

P – Depois de interpretar tantos tipos diferentes em quase 40 anos de carreira, qual foi o personagem que mais marcou?

– Tem um lado encantador para o ator, que é o sucesso alcançado por alguns personagens. Fiz na Manchete, já há 19 anos, a novela Corpo Santo, escrita pelo José Louzeiro e Cláudio MacDowell. Eu era Russo, um bandidão. Até hoje as pessoas me falam dele. A segunda versão de Mulheres de Areia, da Globo, em que fiz o Alemão, também foi um trabalho interessante.

* Bicho do Mato, Record, 19h15, seg. a sáb.

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