As histórias do Velho Prestes, em DVD

Do muito que se fala atualmente sobre o resgate da história do País, o filme O Velho – A história de Luiz Carlos Prestes é marco incontestável. É também um emblema do bom momento pelo qual passa a produção brasileira de documentários. Juntando esses dois fatores positivos, Toni Venturi, o diretor, lança o DVD do filme nesta segunda-feira, no Museu da Imagem e do Som (MIS). Hoje se completam 15 anos da morte do líder comunista. Em homenagem ao Velho, o documentário será exibido, com a presença do diretor e da família Prestes.

O projeto de contar a história de Prestes foi coisa de 12 anos. Ele já estava na cabeça de Venturi quando ele retornou ao País, depois de se formar cineasta no Canadá. O ano era 1985. A situação do cinema nacional? Das piores possíveis, caminhando para o sem precedentes. ?Eu peguei a queda do cinema brasileiro, de 85 a 90?, lembra o diretor. ?Eu querendo fazer cinema e o Brasil não querendo o cinema brasileiro.?

Àquela altura, Venturi já havia feito contato com o Velho. Ficou amigo da casa, mas o projeto não saiu. Prestes, revela o diretor, não deu muita bola para o seu filme. Mas apresentou-o ao filho cineasta, Luiz Carlos Prestes Filho. Juntos, montaram o projeto do filme, mas não conseguiram fazê-lo. Pesou ali a imaturidade profissional de Venturi, hoje premiado cineasta, e o mau momento do cinema nacional. ?Só em 1993, houve um primeiro resgate do cinema brasileiro, que foi um rescaldo do dinheiro da Embrafilme. E eu ganhei um concurso, com prêmio para fazer um documentário.?

Prestes havia morrido e o projeto já era outro. Venturi e o roteirista Di Moretti, seu principal parceiro de trabalho, iniciaram então uma insana pesquisa – daquelas que transformam a gente em ratos de arquivos. Nesse processo, quase foram vítimas de um estelionato cultural. Uma figura de voz soturna ofereceu a Venturi alguns filmes de Prestes na então União Soviética. Pediu US$ 5 mil apenas para trazer o material de lá para o Brasil – algo como um mercado negro de material de arquivo. Venturi, claro, não fechou negócio e continuou cavoucando os arquivos disponíveis.

E o que era para ser um média-metragem para a TV, virou um longa. ?Em 1997, de repente, tinha meu primeiro longa na mão? diz o diretor, que depois dirigiu um curta-metragem chamado 1999, um outro documentário, No olho do furacão, o longa de ficção Latitude zero e, logo, lança Cabra-cega no circuito comercial, em 15 de abril.

Com material de arquivo de todas as fontes disponíveis, como a Cinemateca, o Arquivo Nacional e a própria família Prestes, a pesquisa de Di Moretti tem o mérito de compilar trechos importantes da história da esquerda brasileira – até então em pequenos cacos, um aqui, outro ali. ?O material de arquivo é uma coisa rara e difícil, especialmente o da esquerda, que foi muito perseguida no Brasil?, observa Venturi. ?Chegamos a pôr anúncios em jornais procurando material de pesquisa. Encontramos um ex-dentista do Prestes que tinha um filme em 16mm.?

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