As aventuras de Tintim chegam aos cinemas

Não tinha momento melhor para o diretor Steven Spielberg conhecer a obra do quadrinista belga Hergé (1907 – 1983). Foi durante as filmagens de “Os Caçadores da Arca Perdida” (1981), primeira aventura do herói arqueólogo Indiana Jones, vivido por Harrison Ford. Talvez influenciado pelo ambiente e roteiro aventureiro, o diretor apaixonou-se pelo universo de Tintim, uma espécie de repórter desbravador e com uma quedinha por uma caça ao tesouro. Mas Spielberg deixou a ideia amadurecer, ganhou outros dois Oscar, em “A Lista de Schindler” (1993) e “O Resgate do Soldado Ryan” (1998), até perceber que o personagem poderia ser retratado com a tecnologia de animação atual. Pronto, o personagem de Hergé saltou para a telona, com um impecável efeito 3D. É ainda a primeira experiência de Spielberg com animações.

O longa “As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne”, não estrearia hoje nos cinemas brasileiros não fosse a valorosa adição do também diretor Peter Jackson para a produção do filme. Com uma bem-sucedida experiência em captura de movimentos, desde a trilogia “O Senhor dos Anéis” (2001, 2002 e 2003), ele é dono da Weta Digital, empresa especializada em efeitos especiais que foi fundamental para que o Tintim que vemos na tela seja tão magicamente real e, ao mesmo tempo, similar àquele dos quadrinhos.

É preciso elogiar a difícil tarefa de transformar os personagens dos quadrinhos em animações em 3D. O desenho de Hergé, conhecido por suas “linhas democráticas”, consiste em manter o traço, sem privilegiar um personagem ou alguma parte do cenário. A técnica dá ao desenho pouca profundidade, explorando o universo das duas dimensões. O rosto dos personagens foi o que sofreu mais mudança na transição, mas as características básicas de cada um foram mantidas. O herói manteve, por exemplo, o topete rebelde; o capitão Haddock exibe barba, quepe e o rosto inchado.

Enquanto os cenários são exuberantes, mas sem o exagero usual das produções em 3D, os personagens mantêm algum ar de caricatura, que sustentam o equilíbrio visual entre o real e a fantasia, conseguindo encantar adultos e crianças. Os mais puristas, fãs de Hergé, certamente vão torcer o nariz, contra a mudança.

No último domingo, o Globo de Ouro premiou “As Aventuras de Tintim” como melhor animação; foi indicado na mesma categoria do Bafta, o Oscar britânico que será anunciado dia 12, e está entre os favoritos do Visual Effects Society, entidade que julga produções do gênero, com seis indicações. Além disso, é forte candidato ao Oscar de melhor animação. Com essa espécie de “tintimania”, Spielberg inclusive já estaria trabalhando na continuação. Por aqui, a série de desenho animado, exibida nos anos 90 pela TV Cultura, voltará no Canal Futura, a partir de amanhã, às 11h30.

Dos 24 álbuns lançados por Hergé, Spielberg apenas inspirou-se em “O Segredo do Licorne” e “O Tesouro de Rackham, o Terrível”, de 1943 e 1944 (relançados pela Quadrinhos na Cia., juntos, por R$ 43) para compor seu roteiro. E apenas na primeira metade do filme. Depois, tudo é livre e somos levados a visitar desertos no Oriente Médio e a Europa dos anos 30. As informações são do Jornal da Tarde.

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