Artistas piauienses mostram trabalhos em Curitiba

Desde 18 de junho, o coletivo curitibano Couve-flor Minicomunidade Artística Mundial, recebe em residência quatro artistas do Núcleo de Criação do Dirceu, de Teresina, Piauí. A vinda de Layane Holanda, Bide Lima, Janaína Lobo e Elielson Pacheco a Curitiba é produto de uma parceria entre os dois grupos, que vêm gestando esse projeto de intercâmbio de forma independente desde o início do ano, e que agora se tornou possível com o apoio da Fundação Cultural de Curitiba, da Prefeitura de Teresina, da Fundação Monsenhor Chaves e do Ministério da Cultura.

De acordo com os artistas, os contatos se iniciaram desde o ano passado, pela internet, trocando e-mails, referências, e informações sobre a cena independente aqui e lá. Em março deste ano, começaram a pensar em meios de ter algum tempo de convivência, para poder trabalhar juntos, e compartilhar os processos de trabalho ao vivo, além da possibilidade de conhecer na prática os problemas, questionamentos e soluções encontrados na produção artística das duas cidades.

O Núcleo de Criação do Dirceu conta hoje com 18 integrantes, e tem como sede o Teatro João Paulo II, no bairro do Dirceu, em Teresina. Formado há pouco mais de um ano, vem promovendo iniciativas que têm como objetivo movimentar a cena local, criar espaços para a veiculação e circulação da produção contemporânea da cidade.

Desde que chegaram à cidade, os quatro artistas puderam ter contato com diversas companhias e grupos curitibanos, que abriram as portas de seus espaços de trabalho, e se dispuseram a mostrar o que estão produzindo e conversar sobre suas investigações em andamento, como é o caso das companhias Obragem, Senhas, Silenciosa e Provisória de teatro, e da PIP Cia. de dança.

Segundo Elielson Pacheco, ?a receptividade e o interesse dos artistas de Curitiba ultrapassaram as expectativas, e foi importante saber como a comunidade artística tem se organizado por aqui, quais são as similaridades e quais são as diferenças?.

Neste final de semana, serão realizados três eventos gratuitos no Cafofo, espaço mantido pelo coletivo Couve-flor. Na quinta-feira acontece uma edição do ?Instantâneo?, um evento de improvisação que o Núcleo promove semanalmente em Teresina. Na sexta e no sábado, serão apresentados solos dos quatro artistas, sendo as programações diferentes nas duas noites.

Layane Holanda explica que um dos focos desse intercâmbio era poder compartilhar processos de criação com o coletivo curitibano, e que os solos são pesquisas em desenvolvimento, que ganham outras possibilidades com essa convivência, dentro de um novo espaço.

Em agosto, os integrantes do Couve-flor seguem para Teresina, onde permanecem também por três semanas, para dar continuidade ao projeto. De acordo com Gustavo Bitencourt, do Couve-flor, ?ainda são poucas as oportunidades de intercâmbio artístico dentro do Brasil, e às vezes unir forças em iniciativas independentes é o único jeito de viabilizar as coisas?.

Serviço:

Núcleo de Criação do Dirceu em Curitiba

Cafofo Couve-flor. R. Presidente Faria, 266.

Horário: 20h. Entrada Franca.

Programação:
dia 5 (quinta) ? Instantâneo – Edição Curitiba
dia 6 (sexta) – ?Sobre ossos e robôs? de Elielson Pacheco e  ?É assim que se escreve, mas não é assim que se lê?, de Layane Holanda
dia 7 (sábado) – ?200 ml?, de Janaína Lobo e ?Sapatinhos Vermelhos?, de Bide Lima
Apoio: Ministério da Cultura, Prefeitura Municipal de Teresina, Fundação Monsenhor Chaves, Fundação Municipal de Curitiba, Restaurante Celeiro, Casa di Bel@, Padaria América, Restaurante Bela Gulla, Missê Mariá
Informações: 9623 1435  ou 9624 7077

Sobre os trabalhos

200 ml – Janaina Lobo

DivulgaçãoEste solo foi desenvolvido como resultado das oficinas realizadas para a quarta edição da Mostra de Intrérpretes-Criadores do Núcleo Alaya Dança e tem como ponto de partida a temática corpo sonoro. O trabalho, de 20 minutos, fez uma pré-estréia em novembro durante a Mostra de Solos do Núcleo de Criação do Dirceu em Teresina – PI e estreou nos dias 1 a 4 de março de 2007, em Brasília – DF.Partindo da pesquisa do corpo sonoro, o trabalho faz uma investigação do som enquanto conseqüência do movimento, corpo sonoro este que é entendido como o corpo que produz som ao se movimentar. O copo descartável foi selecionado como fonte de pesquisa e objeto de cena desse solo em função do material de que é feito ? o plástico ? e do som característico que ele emite quando manuseado, tocado, amassado. O plástico aqui não é só uma matéria-prima, mas um elemento que reflete a modernidade, a sociedade de consumo e as relações descartáveis, que são características significativas da vida contemporânea. O corpo que reage ao som produzido por suas ações e que se relaciona com o que é descartável e deformável. O corpo-copo, que é amassado, desmontado e reorganizado. Da interação corpo-copo são gerados ruídos, silêncios e dinâmicas corporais que configuram a movimentação e a sonoridade deste trabalho.

Sobre Ossos e Robôs – Elielson Pacheco

DivulgaçãoO trabalho toma como ponto de partida o estudo do movimento com foco nas articulações do corpo humano, para depois relacioná-lo com o movimento presente no corpo não humano de um robô. Que tipos de relações podemos fazer entre esses dois corpos? O robô, segundo o mini aurélio, é um autômato: maquinismo que se move por meios mecânicos, aparelho que imita os movimentos humanos. Já o homem: qualquer indivíduo da espécie animal que apresenta o maior grau de complexidade na escala evolutiva. Como essa complexidade de nervos, ligamentos, veias, órgãos, pensamentos, desejos dialoga com uma máquina cinética? Que novos conceitos podem ser gerados sobre movimento, ao nos depararmos com uma dança feita por um objeto sem vida? Quanto do homem está contido num robô, que é sua criação? Essa capacidade de criar, de racionalidade coloca o homem num patamar de superioridade diante dos outros seres. Mas o que dizer então sobre uma guerra, onde ossadas humanas movem-se em direção à destruição de outras ossadas humanas? Como conceituar essa razão? Fire, fire!!! Diz o robô.

É assim que se escreve, mas não é assim que se lê… – Layane Holanda

Quais os limites entre a arte e a vida? E como dilatá-los e torná-los expressivo? Como engendrar nessa fronteira universal e nessa interlocução entre "artista" e "indivíduo comum" um discurso que nos permita olhar de outra forma para as mesmas coisas? Seria possível impor novas significações, legítimas, relevantes, expressivas e de caráter artístico para ações cotidianas e coisas que estão no senso comum? Segundo Riviere "não há ritualização da vida cotidiana sem ritualização das modalidades corporais".E que novas interpretações/leituras o "corpo artista" e o "corpo individuo" pode construir dentro de um contexto comum a um grande número de pessoas? Penso se essa ignição, essas chave interna que num clique traz a tona outra significação seria a mesma usada na apreciação, por exemplo, de um ready-made onde o objeto é deslocado do contexto funcional e elevado a categoria de produto artístico. A que público este tipo leitura é possível?

Sapatinhos Vermelhos – Bide Lima

Como desenvolver uma reflexão acerca da narrativa contemporânea? Signo que se deixa ler como coisa não-fixa. Em "Os Sapatinhos Vermelhos" de Caio Fernando Abreu, o público acompanha a história de uma mulher que decide dar fim a um relacionamento "morto". Ela "veste" um sapato vermelho e sai para uma aventura sem volta. A narrativa desestabiliza e o espaço não define uma convivência harmônica do homem com o meio ? é abrigo provisório. Na instância que marca o des-encontro do sujeito com o seu papel no mundo como situar-se num lugar que tem como perspectiva a instabilidade? A angústia existencial do sujeito envolto num universo de sexo, medo e principalmente uma angustiante solidão, pode desencadear o escombro e a ruína, numa situação que seduz e que também traz a vulnerabilidade do que vai desaparecer diante de um tempo em que tudo é descartável.

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