“Arquitetura da Flor”, de Francis Hime, mescla samba e bossa-nova

Francis Hime resolveu que menos é mais. O maestro e compositor, que usou os recursos de uma sinfônica em discos anteriores, reduziu seus músicos em "Arquitetura da Flor" que acaba de sair pela Biscoito Fino. Em vez da orquestra, ele chamou quatro feras de estúdio (o baixista Jorge Helder, o violão de Ricardo Silveira, Kiko Freitas para a bateria e Marcelo Costa na percussão) e gravou 12 canções, dez das quais inéditas, compostas nos últimos dois anos. Gravaram todos juntos como se fosse um show, um disco em que o samba predomina, com tratamento de bossa nova, quase jazzístico.

"Este disco começou a nascer quando ainda fazia ‘Brasil Lua Cheia’ e quis andar na contramão. Em vez da robustez de uma orquestra, o som básico de um quinteto. E no lugar de escrever minuciosamente cada arranjo, deixei espaço para os músicos improvisarem. Foi uma novidade completa", conta. "Com exceção de ‘A Dor a mais’, uma parceria antiga com Vinicius de Moraes, e ‘Palavras Cruzadas’, rara letra de Toquinho, todas as faixas são poemas musicados. Recebi a letra para compor. ‘Sem Saudades’ (letra de Cartola entregue pela família do sambista) foi complicada porque gosto de mexer nas letras, mas neste caso era impossível. Acabei começando de um jeito e terminando de outro."

Se tem Cartola, Vinicius e Toquinho, além de letras de Olívia Hime e Simone Guimarães, metade é de Geraldo Carneiro, com quem Francis troca figurinhas há tempos. "Temos escrito compulsivamente, umas 50 canções, e foi difícil escolher as que iam entrar. O produtor Mug Canazio ajudou. Se deixar com a gente fazemos um disco com 20, 30 músicas", diz o compositor, que também reconhece que as canções são quase todas de amor. "Isso é coincidência. Não predeterminamos os assuntos, mas disco é assim mesmo. Você começa com uma idéia e acaba indo para caminhos que não tinha pensado antes."

Embora o número de músicos seja reduzido, a música de "Arquitetura da Flor" é sofisticada e elaborada como Francis sempre fez. Além do grupo básico, sempre há um comentário musical, seja no trombone de Vitor Santos, ou no cello de Hugo Pilger. Há também as vozes de Zélia Duncan e Nina Becker (cantora da Orquestra Imperial), em faixas separadas. Talvez pela novidade, o compositor sinta um desafio maior com um grupo menor. "Com poucos instrumentos, cada um fica mais em evidência. É o caso do piano, que eu quis fazer meio à Tom Jobim, econômico Ficou difícil na hora da mixagem, mais complicada com poucos instrumentos."

"Arquitetura da Flor" vira show no início de maio, com estréia no Mistura Fina, do Rio, para chegar em no Sesc Pompéia, em São Paulo, no fim do mês. "Quero fazer com quatro músicos, como na gravação, se possível com estes que tocaram no disco", adianta Francis. Por enquanto ele tem viajado em shows-solo pelo interior de São Paulo, como um aquecimento. Ele nega que a economia de um grupo pequeno tenha pesado na escolha. "De início só queria algo diferente, experimentar mesmo. Este show terá quase todas as músicas do disco e aquelas que o público sempre cobra, como ‘Meu Caro Amigo’, ‘Atrás da Porta’, ‘Trocando em Miúdos’."

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