Apostas prematuras

A Globo foi obrigada a arriscar ao definir os nomes centrais do elenco de O profeta. Com uma novela superpopulosa como Páginas da vida no ar e outras figuras de peso em Cobras & lagartos, não restou muita alternativa à emissora. Mesmo assim, conseguiu um trio de renome. Thiago Fragoso, além de ator dedicado, sempre foi muito carismático. Carol Castro é garota que, se não chama a atenção pela interpretação, cativa pela beleza. Paola Oliveira, por sua vez, roubou a cena ao estrear em Belíssima e, só por isso, já podia ser considerada uma grande promessa. Mas realmente a investida foi precoce. E três bons profissionais, que já demonstraram talento em outras ocasiões, não conseguem convencer mesmo depois de cinco meses de novela no ar.

A dificuldade para encontrar o tom marca a interpretação dos jovens protagonistas. No caso da mocinha Sonia, de Paola Oliveira, os cansativos dramas que dominam a história da personagem ajudam a atriz a errar. Ela sofre para conseguir ficar com o seu grande amor, mas até aí não há espanto. Afinal, toda mocinha que se preza derrama muitas lágrimas para encontrar a felicidade. A questão é que Sonia apanha, perde o pai, enfrenta uma gravidez traumática e não pára de chorar em momento algum da novela. É tanta aflição – típica de novelas de época – que fica difícil para a atriz encontrar o perfil da personagem, reduzida a uma chorona. Nada distante de um dramalhão mexicano.

No caso da vilã Ruth, o exagero de Carol Castro – no jeito de falar e na maneira de olhar para outros personagens presentes em cena – deixa seus gestos robotizados. A atriz até que melhorou desde o início da trama, mas não o suficiente para acabar com a impressão de que segue bovinamente os conselhos da direção. A impressão é de que até o figurino incomoda a moça, indo a regiões onde não deveria estar. Com roupa de época, Carol é espontânea como uma perna engessada. Dá saudades da Gracinha que encarnou em Mulheres apaixonadas.

Thiago Fragoso é o caso mais grave. Toda história se desenrola em torno de Marcos, que ele interpreta. E no caso do ator, o peso do papel-principal o atormenta. Enquanto era o rapaz inocente do início do folhetim, que não sabia ao certo lidar com seus dons, o personagem era até digerível, apesar das caras e bocas além da conta. Mas depois que cruzou com gente inescrupulosa em seu caminho e deu suas derrapadas tentando tirar proveito de suas visões, o papel ficou complexo demais para o ator. Thiago não consegue ser grosseiro quando deve ser e está muito longe de ser convincente quando precisa passar a imagem de durão. Talvez seja por isso que seus inimigos abusem tanto nas maldades. Mesmo com uma ridícula barba para amadurecê-lo, Marcos não dá medo em ninguém. Tem cara e jeito de bebê. Que a má escalação não prejudique sua carreira.

Os melhores momentos de O Profeta ficam por conta do núcleo cômico. Um acerto é Rodrigo Faro, que nunca chamou tanta atenção quanto agora, como o engraçado peixeiro Tainha. Mas, à exceção de jovens atrizes como Fernanda Souza, que comprova ter cacife para defender qualquer personagem, boa parte do ?cast? da emissora precisa mais do que uma oficina de atores para conseguir carregar uma novela nas costas.

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