“Apenas o fim do mundo” retoma temporada em Curitiba

A Companhia Brasileira de Teatro retorna aos palcos com a continuação da sua temporada curitibana para a montagem de um texto inédito no país, "Apenas o fim do mundo", do autor francês Jean-Luc Lagarce. A encenação volta a ficar em cartaz de 13 a 23 de julho, no Teatro HSBC. Dirigida por Marcio Abreu, traz no elenco: Ranieri Gonzalez, Simone Spoladore, Christiane de Macedo, Giovana Soar e Rodrigo Ferrarini.
 
Este novo trabalho integra o caminho evolutivo que marca a carreira da Companhia Brasileira de Teatro. Um caminho que descarta fórmulas seguras e opta por uma intensa pesquisa e preparação preliminar às montagens. "A mola mestra do trabalho é a pesquisa contínua", explica o diretor Marcio Abreu. "Ao escolhermos montar Apenas o fim do mundo, buscamos não só falar daqueles temas que o texto trata – ausência, morte, amor, desamor, o que não foi dito – mas principalmente uma maneira diferente de contar e desenvolver estes temas".
 
O argumento da montagem é bastante simples. Um homem, ausente há bastante tempo, retorna à casa da família para dar a notícia de sua morte próxima. Trata-se de um condenado pela doença, que durante a visita vai resgatando na memória todas as fases da descoberta, desde o choque inicial até a aceitação da "sentença". Luiz, o protagonista, escolhe um domingo para fazer a revelação. Retorna da missão, contudo, sem ter conseguido dizer nada.
 
A forma como a peça vai sendo construída é por si só um tema no espetáculo. Interessa à Companhia Brasileira de Teatro, desde o início, tratar a linguagem como conteúdo. "Partimos fundamentalmente do texto. Neste trabalho, a palavra revela a fala insistente e reiterada de pessoas tentando se fazer entender, tentando dizer o que não foi dito", explica Abreu. "Propomos caminhos que abram outras possibilidades de comunicação".
 
O cenário é indicado pelos elementos cênicos. No palco, a atenção volta-se principalmente para os atores e a palavra. A trilha sonora é tocada ao vivo, no piano, por Edith de Camargo.
 
Não é uma obra autobiográfica, mas tem paralelo com a vida do próprio Lagarce. Ele escreveu a peça logo após descobrir que tinha AIDS – morreu em 1995, aos 38 anos. O texto ficou muito tempo engavetado e só ganhou os palcos após sua morte. Autor de poucos textos, Lagarce é hoje o autor francês contemporâneo mais montado na França.
 

O trabalho com esta montagem iniciou em 2004, quando Giovana Soar, que integra o elenco como atriz, começou a traduzir o texto. No percurso da sua concepção como espetáculo, o projeto teve uma leitura dramática, realizada em Curitiba, em meados de 2005. "A relação com o público faz parte da construção da montagem", conta Giovana. Num segundo momento em janeiro e fevereiro de 2006, após a realização de uma residência da Companhia no Instituto Cultural Capobianco em São Paulo, a peça ganhou dois ensaios abertos para um publico convidado, na capital paulista, sempre com o mesmo propósito de aprimorar a relação público/palco.
 
A Companhia mantém também a tradição de não focar apenas a peça pela peça, mas também vasculhar o universo em torno do autor. No caso do novo trabalho, não será diferente. Em agosto, o grupo fará parte de um evento em São Paulo. Fará apresentação do espetáculo e também participará de debates e leituras dramáticas. No evento será lançada a tradução de "Apenas o fim do mundo", numa co-edição da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, Totem Editora e Consulado da França. A peça também foi convidada para apresentações no Festival de Teatro Universitário de Blumenau, dias 10 e 11 de julho.

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