Alma Gêmea chega ao final deixando boas lições para o horário

A novela Alma Gêmea entra nos ritos finais da história, com o último capítulo marcado para ir ao ar no dia 10 de março. A trama assinada por Walcyr Carrasco e exibida no horário das 18h da Globo teve início no dia 20 de julho de 2005 e ficará marcada pelo sucesso de público. Não é excessivo dizer que a obra de volumosos 227 capítulos deixará saudade na direção da emissora, que há muito não via um folhetim do horário bater expressivos 43 pontos de pico, com 64% de share.

Exibida em um horário de público tradicionalmente formado por crianças, adolescentes e mulheres acima dos 50 anos, Alma Gêmea abordou temas para lá de propícios ao heterodoxo grupo. A novela de Walcyr tentou fazer com que o telespectador se transportasse para um mundo de sonhos e fantasias. Com a história da reencarnação, do amor eterno e das bruxarias, a ficção beirou os contos de Monteiro Lobato, quase como um O Sítio do Pica-Pau-Amarelo para adultos. De quebra, a novela ainda emplacou personagens originais, que cresceram no decorrer da história e se tornaram referências da trama – caso da malvada Cristina, personagem de Flávia Alessandra, que desde os primeiros capítulos roubou a cena, o que provavelmente fez do papel o maior sucesso da carreira da atriz.

Na contramão dos acertos acumulados pela novela, o casal de protagonistas de Alma Gêmea não obteve desempenho tão reluzente quanto alguns personagens de menor expressão da trama. A Serena, de Priscila Fantin, não chegou perto de suscitar o furor provocado por Cristina, de Flávia Alessandra. O mesmo pode se dizer de Rafael, personagem de Eduardo Moscovis, que ficou marcado pelo longo período de inatividade, quando o personagem fez praticamente uma figuração de luxo. Se por um lado as duas figuras centrais não disseram a que vieram, as atrizes Fernanda Souza e Drica Moraes foram intérpretes de cenas inesquecíveis na pele das engraçadíssimas Mirna e Olívia, respectivamente. As duas se destacaram por arrancar do público risadas diárias em cenas caracterizadas pela simplicidade e inocência. Aliás, Fernanda Souza, como Flávia Alessandra, também nunca esteve tão bem em toda carreira. A jovem atriz incorporou com singeleza a figura da moça caipira, que vive à espera de seu grande amor.

 Não bastasse todo o encantamento produzido por boa parte do elenco de Alma Gêmea, os núcleos criados por Walcyr Carrasco certamente contribuíram para alavancar e manter o sucesso da trama. Os toques de criatividade do autor não só marcaram a obra, como criaram no imaginário do telespectador um mundo fictício ideal para se refugiar da dura realidade vivida pela população brasileira. O cenário da roça, por exemplo, não contou com uma megaprodução cenográfica, mas foi capaz de provocar inúmeras séries de gargalhadas nos telespectadores da novela, como palco da memorável atuação do trio Mirna, Crispim e o tio Bernardo, dos atores Fernanda Souza, Emílio Orciollo Netto e Emiliano Queiroz, respectivamente. Na pensão da Divina, o clima divertido se manteve inabalável desde o início, com interpretações magníficas de Neusa Maria Faro, como a dona do pensionato, de Fúlvio Stefanini como o maridão Osvaldo e de Nicete Bruno, como a ?quase? insuportável sogra Ofélia.

Conforme determina o roteiro, a aclamada trama das seis da Globo certamente fará uso do famoso recurso utilizado nas telenovelas, que consiste em deixar escondidas para a última semana as mais agradáveis e inusitadas surpresas do folhetim. Mas o uso desse artifício não ofuscará o brilho alcançado pela fantasia de Alma Gêmea, dona do maior índice de audiência dos últimos anos no horário, com uma média de 38 pontos e 61% de share. Ao contrário, é bem provável que a obra ganhe ainda mais telespectadores até o seu último capítulo, momento em que as revelações finais devem excitar a curiosidade popular.

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