Algumas reflexões (in)oportunas à margem da educação

Não é preciso ter olhos de lince para constatar que o problema da educação, sobretudo em nações subdesenvolvidas ou em processo de desenvolvimento ? e é nesta segunda categoria que o Brasil se insere ?, é um problema simplesmente piramidal. E eu utilizo propositadamente o adjetivo, não no sentido da forma geométrica euclidiana, mas no da grandeza material faraônica. Essa a razão que me leva a abordar, aqui e agora, a temática/problemática complexa da educação, base e sustentáculo do desenvolvimento de qualquer sociedade humana.

Começo por dar a palavra a alguém que prescinde de adjetivos superlativos, na medida em que eles estão por assim dizer implícitos no próprio nome emblemático: Ruy Barbosa.

O que dizia Ruy, há mais de um século, nos anos finais de oitocentos? Isto: "Todas as leis protetoras são ineficazes para gerar a grandeza econômica de um país, todos os melhoramentos materiais são incapazes de determinar a riqueza, se não partirem da educação popular, a mais criadora de todas as forças econômicas e a mais fecunda de todas as medidas financeiras".

Mas a Águia de Haia, sempre hiperlúcida, não ficava por aí. Continuava: "Uma reforma radical do ensino público é a primeira de todas as necessidades da pátria, amesquinhada pelo desprezo da cultura científica e pela insigne deseducação do povo".

Magister dixit

Essas palavras ruibarbosianas, mais que centenárias, não perderam inteiramente a atualidade. Pelo contrário, até certo ponto e em determinada medida, valem para a contemporaneidade.

É evidente que, de lá para cá, muito se fez, na área educacional. Mas temos que admitir que não se fez o suficiente. Ou melhor: que mais poderia ter sido feito, sobretudo na primeira metade do século passado. Indubitavelmente, também nas últimas décadas, em que pese o que foi feito, os nossos governos e a própria sociedade poderiam ter feito mais e melhor.

Não há dúvida que a educação é, a um só tempo, a base e a viga-mestra do edifício do Progresso e do Desenvolvimento. Não foi por outro motivo que Michelet escreveu e Churchill repetiu mais tarde, num discurso memorável, com palavras diferentes na forma mas idênticas no conteúdo: "Os três primeiros itens do programa de qualquer governo verdadeiramente responsável devem ser estes: primeiro, a educação; segundo, a educação; em terceiro lugar, a educação".

Estou convencido, portanto, de que a avaliação da qualidade de qualquer governo tem que passar necessariamente pela análise aprofundada da atenção que ele dispensou à dinâmica educacional, das medidas que tomou no sentido do seu fortalecimento e dos recursos que investiu nessa área, com vistas à sua melhoria, em todos os níveis: pré-primário, primário, secundário e superior.

Dizia Bertrand Russel, com extrema propriedade, que educar é fabricar cidadãos. E Chesterton acrescentava: "A educação é simplesmente a alma das sociedades, passando de uma geração para outra".

Na verdade, é a educação que torna as nações mais ou menos civilizadas. A marcha ascensional de uma civilização e o avanço sistemático de uma cultura, estão umbilicalmente ligados à evolução do sistema educacional.

De certa maneira, repetindo o grande matemático e filósofo inglês, educar significa erguer, no espaço e no tempo, o mais importante de todos os edifícios da face da terra ? o próprio homem.

Seja-me permitido fazer aqui uma colocação que pode até parecer acaciana ? e talvez o seja, realmente ?, mas que, não obstante, me parece verdadeira: uma educação adequada, eficiente, é a melhor alavanca do desenvolvimento econômico, social e ? por que não? ? ético, de qualquer país. Da mesma forma, uma educação deficiente, precária, é o maior entrave.

E de que se faz a excelência do processo educacional? De mais e melhores escolas, de mais e melhores professores, devidamente qualificados e dignamente remunerados, de metodologias de ensino cada vez mais modernas, e até mesmo de melhores conteúdos curriculares, tantas vezes superados e anacrônicos

Concluo este despretensioso artigo, complementando o que afirmo no primeiro parágrafo: a educação não é apenas um problema piramidal, mas é simultaneamente uma solução ciclópica.

Retomarei o tema oportunamente. Ele merece toda a atenção.

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