Acústico, carimbo do sucesso

Em pouco mais de uma década, o “Acústico MTV” virou sinônimo de musical de qualidade. O primeiro foi em 1991, com Barão Vermelho, e o último em setembro deste ano, com o Kid Abelha.

Neste intervalo, foram produzidos 19 edições do “Acústico”, cuja fórmula de mostrar uma banda famosa recriando antigos sucessos com instrumentos desligados é originalmente da MTV americana, com o seu “Unplugged”. Com 10 milhões de discos e 500 mil DVDs vendidos, o “Acústico” já foi palco para Gilberto Gil, Moraes Moreira, Titãs, João Bosco, Gal Costa, Rita Lee, Paralamas do Sucesso, Art Popular, Lulu Santos, Capital Inicial, Legião Urbana e Cássia Eller. O carimbo de sucesso veio em dezembro de 2001, com Roberto Carlos, artista exclusivo da Globo, se rendendo ao projeto da concorrente MTV. Neste ano, a emissora produziu três edições do “Acústico”, que levou o prêmio de “Melhor Programa Musical de 2002” do “Melhores & Piores” por “TV Press”, com Cidade Negra, Jorge Benjor e Kid Abelha.

Segundo Zico Góes, diretor de programação da MTV, atualmente o projeto “Acústico” já é um produto que está na agenda das gravadoras e é objeto de desejo dos artistas. Por isso mesmo, ao contrário dos primeiros anos, em que a emissora produzia, no máximo, um “Acústico” por ano, desde 2000 que a MTV lança duas ou três edições diferentes do programa no mesmo período. “Na verdade, o ?Acústico? tem uma longa fila de espera”, gaba-se Zico. Um dos quesitos para peneirar quem é convocado ou não para o projeto é já ter uma carreira estabelecida e uma gama de hits que possa ganhar uma roupagem musical diferente da original. Para Zico, o “Acústico” atingiu uma nova dimensão após os Titãs venderem um milhão e meio de cópias do disco lançado em maio de 1997 e, com isso, reerguerem a própria carreira musical, em baixa na época. O mesmo aconteceu com o então cambaleante Capital Inicial e o “Acústico” lançado em abril de 2000. “Não existe esta história do programa servir para ?levantar defunto?. A prioridade da MTV é ter um produto coerente e de qualidade nas mãos”, jura o diretor de programação da emissora.

Para obter o tal “produto de qualidade nas mãos”, a MTV movimenta, pelo menos, 100 pessoas, fora as equipes de cada artista, e leva cerca de três meses até chegar aos dois dias de gravação do programa. Tudo começa com uma reunião entre artista, gravadora e diretor da MTV para definir desde repertório e cenário até estilo de iluminação, tamanho da banda e posicionamento dos músicos no palco. O próximo passo, então, é a confecção dos cenários e do palco e o acompanhamento dos ensaios para escolher cortes e enquadramentos. “O difícil é fazer o artista e a gravadora entenderem que o importante não é só o áudio, mas a imagem para o programa também. Isso demanda boa vontade para repetir algumas músicas durante a gravação e não alterar as marcações de palco”, explica Ric Ostrower, que dirigiu o “Acústico” do Cidade Negra e Jorge Benjor este ano.

Ao contrário dos bem-comportados Cidade Negra e Kid Abelha, Jorge Benjor deu trabalho na gravação de seu “Acústico”. O compositor não deixou suas características de lado e, a certa altura, ignorou o roteiro da apresentação, se recusando a repetir as canções da mesma maneira. No final do show, ele simplesmente abraçou a VJ Fernanda Lima e deu por encerrada a gravação, mesmo com o produtor musical pedindo mais um “take” de “A Banda do Zé Pretinho”. “Se ficar repetindo, não fica natural. O importante é a energia do momento”, retrucou o cantor durante a gravação em que voltou a dedilhar violão no “Acústico”, após décadas só tocando sua guitarra Fender Telecaster.

Para o ano que vem, já está confirmada a produção de mais dois programas. O primeiro deles será gravado por Marina Lima e, logo depois, será a vez da banda Charlie Brown Jr. O outro “Acústico” de 2003 não está definido, mas a emissora pensa em alguns opções inovadoras, como fazer uma edição com vários cantores de rap. “O ?Acústico? não tem data de validade. Pelo contrário, vem ganhando mais força a cada ano”, festeja Zico Góes.

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