Academia de Hollywood deve confirmar premiação do Globo de Ouro

Quem sairá da 78.ª edição do Oscar como o grande vencedor? Em um primeiro momento a resposta parece fácil. Brokeback Mountain, do diretor Ang Lee. Só no Globo de Ouro, que é considerado uma prévia do Oscar, Lee levou o prêmio de melhor diretor e seu filme foi o melhor nas categorias: roteiro, música e filme drama. Contudo, os demais candidatos também estão indicados em outras categorias e contam com atuações fortes e grandes direções. Além disso, um dos principais concorrentes, Munique, não concorreu ao Globo de Ouro por ter tido sua exibição nos cinemas tardiamente, o que não permitiu sua inscrição no festival.

Crash e Capote também não estavam indicados no Globo de Ouro e ambos têm recebido grandes elogios. O primeiro teve sua exibição nos cinemas ainda no primeiro semestre; essa distância com o Oscar é um ponto negativo, pois os membros da academia estão sempre com os últimos lançamentos na cabeça. Ainda assim a história tem grandes chances de levar o prêmio de melhor roteiro original para o também diretor Paul Haggis (roteirista premiado de Menina de ouro – 2005). Rodado em 34 dias e com um elenco de mais de 70 atores, o longa-metragem foi produzido com apenas US$ 7,5 milhões.

Philip Seymour Hoffman
interpreta Truman Capote.

Capote também foi realizado em pouco tempo e com verba limitada. Com um quadro de atores mais enxuto, conta com a impressionante atuação de Philip Seymour Hoffman, que é favorito para levar a estatueta de melhor ator, mas o diretor Bennett Miller tem poucas chances perto de Ang Lee e Spielberg. A mesma probabilidade é dada para George Clooney, que já afirmou ter poucas expectativas de levar melhor filme e diretor com Boa noite e boa sorte.

Levando ou não os melhores prêmios para casa, todos os indicados merecem ter seus filmes reconhecidos. O velho discurso de que o mais importante é participar ganha consistência neste ano, claro que o vencedor irá desfrutar de uma visibilidade e longevidade imensa, mas o fato é que o Oscar 2006 marca pela disputa acirrada e boa qualidade das obras.

Candidatos

Brokeback vai além de um filme romântico ou um filme gay. Sem colocar na balança de qualidade a excelente fotografia, direção e atuação, o filme tem um enorme peso. Contar uma história de um casal de cowboys gays nos anos 60s é polêmico, ainda assim não é o mais notório da obra. Ang Lee e toda a equipe conseguiram algo novo ao transportar para as telas a forma como o amor age e estimula as pessoas a tomarem decisões incompatíveis com seus próprios sentimentos. Na história de Brokeback, o preconceito humano em relação ao amor surge maior do que o preconceito sexual. A história é adulta e seu alcance vai direto no coração humano, seja ele heterossexual, homossexual ou afins. O filme concorre em oito categorias: filme, diretor, ator, ator coadjuvante, atriz coadjuvante, fotografia, trilha sonora e roteiro adaptado.

Keira Knightley em
Orgulho Preconceito.

Crash – no limite sobressalta o senso de humanidade em um ambiente de diversidade e preconceito étnico (brancos, negros e latinos) e social. Para isso Paul Haggis apresenta 26 personagens marcantes e a cada vez que entram em cena, não é a última vez, existe uma seqüência que permite ao público conhecer essas pessoas. Suas histórias se entrecruzam; não há vilões ou mocinhos, somente indivíduos sensíveis que têm suas vidas afetadas por outros indivíduos. O diretor estampa a violência em tom de ironia; o preconceito existente é o resultado da intolerância e ignorância humana. O filme concorre em seis categorias: filme, diretor, roteiro original, ator coadjuvante, montagem e canção.

Capote lembra a história de um dos principais autores da literatura do século 20. Truman Capote. Gay, afeminado, excêntrico e genial, o escritor que chegava a decorar 94% de suas conversas criou um novo estilo literário, o romance de não-ficção. Nele abordava um fato real e descrevia-o com todos os requintes que o romance permite. Em 1959 Capote descobriu potencial em uma história de um assassinato contada no rodapé do New York Times, e publicou um dos livros mais falados na segunda metade do século 20, A sangue frio (In cold blood), em 1966. O filme concorre em cinco categorias: filme, diretor, roteiro adaptado, atriz coadjuvante e ator.

Rachel Weisz é a favorita na categoria atriz coadjuvante.

Boa noite e boa sorte se volta ao personagem do jornalista Edward R. Murrow e sua luta contra o maccartismo e o terror imposto pelo senador Joseph McCarthy contra o comunismo nos Estados Unidos na década de 50. O filme é todo rodado em preto e branco e tem incorporadas imagens de época com o verdadeiro McCarthy. Segundo o diretor George Clooney, filmar em preto e branco deu condições de misturar o filme de hoje com as imagens de antigamente sem haver choque, além de evitar possíveis críticas de que o personagem do ex-senador estivesse exagerado. Liberal confesso, Clooney justifica o sucesso do filme devido à sociedade de hoje estar mais interessada em política. O filme concorre em cinco categorias: filme, diretor, roteiro, fotografia e direção de arte.

Munique, do veterano em cerimônias e premiações do Oscar Steven Spielberg, é o único dos indicados considerado uma superprodução. O orçamento do filme ficou em US$ 75 milhões. Spielberg volta aos jogos olímpicos de Munique (Alemanha), em 1972, e lembra o atentado terrorista que tirou a vida de integrantes da comissão israelense. No filme, a ministra de Israel, Golda Meir, aprova uma caçada aos 11 terroristas palestinos suspeitos de comandar o ataque terrorista. O esquadrão do serviço secreto israelense (Mosad), liderado por Eric Bana, se dispõe a caçar os terroristas sem tomar grandes partidos políticos e ideológicos. Neste ponto Spielberg é neutro e a história até perderia sua identidade se não fosse tão bem contada. Após o lançamento do filme, membros do governo de Israel afirmaram que o ataque aos terroristas não era retaliação a tragédia de Munique, e sim uma operação de prevenção a outros atentados. O filme concorre em cinco categorias: filme, diretor, roteiro adaptado, trilha sonora e montagem.

Robert Altman recebe homenagem da academia

*Ao menos uma das sonhadas estatuetas do 78.º Oscar já tem dono. A Academia de Artes e Ciências de Hollywood irá homenagear o cineasta americano Robert Altman. Recém-completados 81 anos de idade, o diretor ainda está em atividade e foi indicado ao Oscar de melhor diretor em cinco ocasiões: M*A*S*H* (1970), Nashville (1975) – também foi indicado como melhor filme, O jogador (1992), Short cuts – cenas da vida (1993) e Assassinato em Godsford park (2001) sem nunca ter vencido. O reconhecimento se deve aos mais de 80 filmes como diretor, 39 como produtor e 37 como roteirista. Segundo o atual presidente da academia de cinema americana, Sid Ganis, Altman é um mestre como diretor, tendo redefinido gêneros e inventado novos modos de usar o cinema.

*Apenas seis indicados ao Oscar 2006 já estiveram em listas anteriores. Entre eles quatro ganharam um Oscar: William Hurt, por sua atuação como um homossexual em O beijo da Mulher-Aranha (1985); Judi Dench, como melhor atriz coadjuvante em Shakespeare apaixonado (1998); Charlize Theron, como melhor atriz, em Monster – desejo assassino (2003) e Frances McDormand, como melhor atriz, em Fargo (1996). 14 dos indicados concorrem pela primeira vez este ano.

*Na última quarta-feira um grupo de israelenses pediu aos organizadores do Oscar que desqualifiquem o filme palestino Paradise now, vencedor do Globo de Ouro como melhor estrangeiro, e que concorre na categoria melhor filme estrangeiro do Oscar. Formado por pais que perderam os filhos em atentados suicidas, como o abordado no filme, o grupo conseguiu cerca de 32 mil assinaturas em um abaixo-assinado vetando o filme.

*"Escrevi uma carta e viajei para Londres, ida e volta em 24 horas, encontrar Fernando para que soubesse o quanto eu queria o papel", revelou a britânica Rachel Weisz para a agência EFE. O esforço valeu sua convocação para interpretar a protagonista de O jardineiro fiel, dirigido por Fernando Meirelles. A escolha foi acertada, Weisz é uma das favoritas para levar o Oscar de melhor atriz coadjuvante.

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