A volta dos mortos-vivos

Que nos perdoem os Titãs, o Pato Fu e as nativas Ipsis Litteris e Relespública, mas o grande acontecimento do 1.º Curitiba Rock Fest, que abre os portões amanhã a partir das 21h no Marumby Expo Center é a volta à estrada do famigerado RPM.

O quarteto formado por Paulo Ricardo (baixo e voz), Fernando Deluqui (guitarra), Luiz Schiavon (teclados) e Paulo P.A. Pagni (bateria) sacudiu o cenário da música nacional no meio da década de 80, ao vender 2,5 milhões de cópias do LP Rádio Pirata Ao Vivo (1986), um recorde jamais alcançado por outro disco de rock brasileiro. Depois gravou Quatro Coiotes (1988) – classificado como “estranho” pela própria Universal Music -, e submergiu praticamente sem deixar vestígios.

Ou quase. Restou ainda o vocalista Paulo Ricardo, que inexplicavelmente enveredou pelo pop brega-romântico, tornando-se uma espécie de Fábio Jr. com voz sussurrada. Ele ainda teve uma recaída, no disco Paulo Ricardo & RPM, de 1993, mas o egocentrismo denunciado pelo nome sepultou o projeto.

Depois de uma década atolado no pântano do universo brega, Paulo Ricardo tem uma oportunidade de ouro de voltar a posar de roqueiro rebelde, na esteira do revival oitentista promovido pela MTV. O “movimento”, inaugurado em 1998 com o bem-sucedido Acústico, dos Titãs, prosseguiu no ano passado com o Capital Inicial, que trouxe junto Kiko Zambianchi. O Biquíni Cavadão percebeu o filão e lançou Rock Brasil 80, enquanto outros fantasmas da “década perdida” preparam projetos semelhantes.

O RPM é a última banda exumada dos anos 80 pela MTV, que promoveu nos dias 26 e 27 de março o “elétrico” MTV RPM 2002, gravado no Teatro Procópio Ferreira e que acaba de ser lançado em CD. A crítica paulistana definiu o retorno do quarteto como “constrangedor”. Por via das dúvidas, o vocalista mostra que não abandonou de todo a canoa brega: permitiu que o intragável KLB violentasse Olhar 43, um dos maiores clássicos da banda, e caiu na esparrela de gravar Vida Real, tema de abertura do reality show global Big Brother Brasil. Só faltou tentar uma vaga no Fama.

De qualquer maneira, quem for amanhã ao Marumby Expo Center e tiver mais de 25 anos pode ter momentos agradáveis e nostálgicos, dançando ao som de clássicos como Revoluções por Minuto, Rádio Pirata, Louras Geladas, A Cruz e a Espada, Alvorada Voraz e outras. Sem falar que a garotada também pode gostar.

Se for um fiasco completo, ainda restam os Titãs – que tentam se firmar novamente como banda autoral depois dos dois acústicos e do disco de covers As Dez Mais com A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana e o quarteto mineiro Pato Fu, absolutamente deslocado ao lado dos dinossauros. Ou as curitibanas arroz-de-festa Ipsis Litteris e Relespública.

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O Marumby Expo Center fica na Av. Wenceslau Brás, 1.046. Ingressos antecipados a R$ 20, e R$ 25 na hora, à venda nas Livrarias Curitiba, Shopping Total, Armazém do CD e no local.

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