A vez do Rock in Brasília

Brasília é a capital da República, mas, para efeitos de repercussão nacional, o Planalto continua longe demais das capitais. Prova disso é que o Brasília Music Festival 2003, que reunirá bandas de rock nacionais e importadas a partir de hoje à noite, no autódromo da capital, teve entrevistas coletivas realizadas em São Paulo, terça-feira.

Só os gringos compareceram, e nem todos: o grupo americano Live não chegou a tempo, e só deve falar em Brasília, onde toca amanhã. Deram o ar da graça Chrissie Hynde, cantora dos Pretenders, o vermelhão Mick Hucknall (atrações de amanhã), do Simply Red, e a canadense Alanis Morrissette (que canta hoje), uma surpresa com seus cabelos curtos.

A cantora e compositora bicho-grilo foi a primeira a falar com os jornalistas, e o novo visual foi assunto: “Fazia 15 anos que não cortava o cabelo. Estava na hora”. Alanis avisou que vai adiantar no Brasil algumas faixas de seu quinto disco (na vida adulta, já que foi uma espécie de Sandy do Canadá na adolescência), So Called Chaos, previsto para o fim do ano. A se julgar por suas preferências musicais atuais, as novas composições deverão ser mais melancólicas e experimentais. “Tenho ouvido muito Sigur Rós e Radiohead”, revelou.

Mick Hucknall, por sua vez, era a chatice em pessoa. O rechonchudo ruivo não gostou quando os jornalistas relacionaram o Simply Red à década de 80 e reclamou que gravadoras roubam artistas há 50 anos. “É irônico que agora eles levem crianças ao tribunal por fazer download de músicas”, afirmou.

Sem modéstia, Hucknall comparou-se a Elvis Presley e Frank Sinatra, e disse ainda que não gostou das menções feitas a ele no filme A festa nunca termina, sobre o rock inglês. “É um filme muito impreciso”, avaliou. “E os comentários deles devem ter sido motivados por inveja, pois fiz muito mais sucesso do que qualquer coisa que eles produziram.” No fim, o motivo do mau humor: Hucknall teria sido maltratado por funcionários da alfândega e da Polícia Federal quando desembarcou. “Mesmo assim, é um prazer enorme estar aqui”, terminou rasgando a seda.

Verde

Com Chrissie Hynde, a coisa foi bem diferente. Sempre de bom humor, a roqueira americana de 52 anos falou sobre sua militância no movimento ecológico – citando inclusive a Farra do Boi, realizada em Santa Catarina – a decisão de se tornar vegetariana e a vontade de destruir as grandes organizações. “Acho muito divertido ver uma multinacional sendo humilhada em público”, confessou.

Com uma franqueza impressionante, falou também sobre a saída de sua banda da gravadora Warner Music após 20 anos de parceria. “O rompimento foi bem simples: não vendemos discos suficientes e eles nos chutaram”, contou, irônica. “As gravadoras ganham muito dinheiro promovendo artistas idiotas. Agora não posso mais andar de Mercedes e nem dar um carro esporte para o meu namorado.”

A vocalista dos Pretenders afirmou ainda que o punk é, hoje, mais um estilo musical do que um movimento político. Também não deu detalhes sobre os shows no Brasil. “Não sabemos direito o que tocar, mas um bom motivo para ir aos nossos shows é Martin Chambers, um dos bateristas mais talentosos da atualidade”, elogiou.

Faixa etária

Além dos gringos, o BMF contará com bandas nacionais como Charlie Brown Jr., Titãs, Capital Inicial e Ultraje a Rigor e tendas à la Rock In Rio, com música eletrônica e bandas locais. Segundo Rafael Reisman, produtor do festival, a escolha de artistas populares nas décadas de 80 e 90 teve a intenção de atingir um público de mais de 25 anos. “Pensei no pessoal da minha faixa etária”, afirmou. Ele lamentou a dificuldade de se fechar shows fora do eixo Rio-São Paulo, e disse que negociou com os Strokes, o Linkin Park e o Audioslave.

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