A natureza pede socorro

Com o objetivo de fazer uma avaliação de como evoluíram as discussões e implementações dos resultados da Rio 92 no Brasil, o Instituto Socioambiental (ISA) e o Centro Internacional de Desenvolvimento Sustentável (CIDS) da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresa (Ebape) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em parceria com a Editora Estação Liberdade e com patrocínio da Fundação Ford, diversos estudiosos propuseram-se a escrever Meio Ambiente Brasil-Avanços e Obstáculos Pós-Rio-92.

O trabalho coletivo (são mais de 50 autores) traz informações atualizadas sobre questões ambientais relevantes para o País, além de analisar de que forma foram tratadas nos últimos anos, segundo as opiniões de mais de cinqüenta especialistas da Academia, setor empresarial, movimentos sociais e ONGs, em um amplo espectro que inclui dos grande empresários aos trabalhadores rurais.

Ainda no ensejo do encontro da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, em Johannesburgo (África do Sul), outro compêndio da Estação Liberdade chega aos leitores: A Década do Impasse – Da Rio 92 à Rio+10. É uma coletânea de 82 artigos sobre dezenove temas, publicados entre abril de 1988 e junho de 2002, por Washington Novaes, nos jornais O Estado de S.Paulo, Jornal do Brasil e Gazeta Mercantil.

Os artigos, selecionados pelo Instituto Socioambiental entre 400 textos do respeitado jornalista, abrangem dezenove 19 temas que dizem respeito ao futuro da vida e do bem-estar dos brasileiros e da humanidade.

Washington Novaes observa que “ao longo desses 45 anos de jornalismo e de vida, deu para aprender que não é possível fazer de conta que a chamada problemática ambiental seja separada do econômico, do político, do social, do cultural. Todos os empreendimentos públicos e privados acontecem no concreto – no solo, na água, no ar que respiramos, entre os seres vivos – ou nele repercutem”.

Crime e castigo

Outra obra oportuna é Holocaustos Coloniais (Record, 490 páginas), em que o professor de teoria urbana Mike Davis demonstra como o delineamento do que chamamos hoje de Terceiro Mundo teve sua formatação decisiva nas interações fatais entre o clima e a economia mundial do século XIX. O livro ilustra o desastre e as conseqüências de uma política econômica covarde, cruel e desigual.

Examinando a série de catástrofes provocadas pelo El Niño, que espalhou secas e fome pelo mundo desde o final do século XIX, o escritor americano Mike Davis apresenta a íntima e inegável relação entre o descaso e a arrogância dos países imperialistas e os acidentes naturais, provocando uma das piores tragédias na história da humanidade. Segundo Davis, a miséria e a fome dos países do Terceiro Mundo poderiam ter sido evitadas se uma política econômica e social mais justa e mais racional fosse adotada.

Holocaustos Coloniais é centrado, principalmente, em três zonas de secas, miséria e fome: a Índia, o Norte da China e o Nordeste brasileiro. Todos afetados pelos mesmos fatores climáticos desastrosos, que causaram grandes perdas nas lavouras, deixando milhares de famintos e dizimando populações locais. Contudo, segundo o autor, os efeitos da seca foram potencializados em cada um dos casos em função das singulares políticas destrutivas ordenadas pelas elites governantes.

Os números apresentados pelo autor são chocantes: 12 milhões de mortes na China e mais de 6 milhões na Índia apenas entre 1876 e 1878. Mas Davis faz mais do que denunciar uma evidência – ele aponta os culpados. Entre eles, a política imperialista do Japão e Estados Unidos e a imposição do mercado livre na Era Colonial, que criaram um verdadeiro “genocídio cultural”. As acusações do autor são fortes, contudo, fica difícil descordar de Davis.

Segundo o autor, a importância de uma nação de famintos foi subestimada historicamente. Na Índia, por exemplo, durante o século XIX, a Inglaterra tratou as secas em sua colônia como uma oportunidade para reafirmar sua soberania. A indiferença e a incompetência do governo indiano agravaram a situação ao longo do tempo. Mike Davis revela que instaurou-se um certo tom de laisser-faire em relação à miséria. E frente ao descaso, ela cresceu de forma avassaladora e terrível.

Davis deixa claro que as sementes do subdesenvolvimento e do Terceiro Mundo foram plantadas na Era do Imperialismo e o preço de uma sociedade capitalista e dita moderna foi pago com milhares de vidas inocentes.

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