A dor engrandece o homem

A editora Cosac & Naify programa o lançamento do romance Conversa na Sicília, de Elio Vittorini, em São Paulo, com a exibição do filme Gente da Sicília, de Jean-Marie e Danielle Straub, baseado no romance. Também haverá palestras com as professoras Stella Senra e Maria Betânia Amoroso. Está agendado para esta quinta-feira, às 20h, no cinema do Unibanco Arteplex.

Conversa na Sicília, com tradução do escritor Valêncio Xavier, de Curitiba, e Maria Helena Arriguci, é um dos maiores legados literários de Elio Vittorini, falecido em 1966. Publicado em capítulos na revista Letteratura, de Florença, a partir de 1937, e em volume único em 1941, é tido como o romance mais significativo do italiano Elio Vittorini. O livro marca uma guinada na trajetória do autor. Do ponto de vista político, registra sua desilusão com o fascismo e a conseqüente adesão ao comunismo. Do literário, inaugura uma concepção de linguagem como instrumento coletivo, arma para falar em nome do “gênero humano ultrajado”.

O protagonista é Silvestro, jovem que retorna à cidade onde nasceu, na Sicília, depois de 15 anos. Rivaliza com ele, em força expressiva, a figura da mãe, embrutecida por um ambiente de privações. O reencontro com o filho é, apesar de afetivo, ríspido. As conversas giram em torno da infidelidade conjugal dela (recém-abandonada pelo pai de Silvestro, ela fala dos amantes que teve) e das mulheres da região.

O mergulho na infância e o conflito familiar, que poderiam fazer do romance uma investigação da individualidade, revelam-se o contrário: um processo de diluição da trajetória pessoal numa idéia particular de “gênero humano”. Particular porque o narrador acredita que o sofrimento engrandece o homem. Por esse motivo, ele sugere que os doentes e, sobretudo, os explorados na luta de classes são “mais gênero humano” que os outros. Daí a clareza com que o livro expressa a adesão do autor ao comunismo.

Aos olhos pós-industriais de hoje, e principalmente ao leitor familiarizado com a iniqüidade do terceiro mundo, o tom de “denúncia” se esvai. A miséria ali retratada e uma miséria lírica, em preto e branco, estetizada como as fotos que acompanham o texto.

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