A chegada de Isabel

Ao comemorarmos 313 anos da elevação de Curitiba à categoria de Vila, vale refletir sobre a chegada de Isabel por estas plagas. Tal fato ocorreu aproximadamente 14 anos antes de 1693.

Isabel Antunes da Silva Preto nasceu na Vila de São Paulo em 1619. Órfã de mãe muito criança foi deixada em testamento aos cuidados de sua avó materna Maria Lucas. Aos 14 anos desposa Balthazar Carrasco dos Reis e passa a morar em Santana da Parnaíba (SP), onde ele exerce o cargo de juiz de órfãos. Teriam vida tranqüila se a vocação desbravadora de seu marido não o impelisse a ousadas expedições.

Em uma dessas expedições depara com os campos de Curitiba e nesse local decide morar. Instala seus filhos: André e Gaspar, garante-lhes sesmarias, e volta a seu cargo, exercendo-o até 1678. Em 1680, muda-se definitivamente para Curitiba, com o restante da família. Isto é: esposa, filhos, noras, genros, netos, parentes e administrados. Para termos uma idéia de como eram fisicamente essas pessoas, recorremos à descrição do naturalista Saint-Hilaire: ?Em nenhuma parte do Brasil encontrei tantos homens genuinamente brancos como em Curitiba. São altos e bem constituídos. Têm os cabelos castanhos e a pele rosada. As mulheres são esguias e delicadas?.

O naturalista francês constatou tal fato durante sua viagem que ocorreu no início do século XIX. Considerando que os pioneiros tiveram numerosa prole, não há como duvidar que muitos dos seres descritos por Saint-Hilaire deles descendiam.

Tentemos imaginar agora, Isabel sexagenária, aportando em Paranaguá, enfrentando a subida da Serra do Mar. Como? Em mulas transportando bagagens pesadíssimas. Administrados cuidando das mulas para que essas não caíssem despenhadeiros abaixo. O grupo esgueirando-se por trilhas tortuosas, enfrentando animais peçonhentos, pernoitando na floresta inóspita. E tal viagem durava de 3 a 5 dias.

E quando aqui chegaram o que Isabel encontrou? Mata densa! Frio e chuva. E o que Isabel trazia de mais sagrado além de sua família? Uma fé inquebrantável na Igreja Católica e um baú de 5 palmos, herança da avó Maria Lucas.

O que havia nesse baú? Uma manta de sarja; um corpinho de tafetá; outro de veludo; duas camisas femininas, íntimas, brancas; um chapéu branco forrado com tafetá, adornado com fitas de cetim; guardanapos de linho; uma vaquinha de pano verde; arrecadas de ouro, isto é: brincos de argolas; e uma toalha de luto carmim para decorar a casa nos dias de funerais.

É possível imaginá-la olhando para essas riquezas de valor afetivo, olhando à sua volta onde tudo estava por fazer. Porém do que eles fizeram pouco se viu. Pudera! A base de qualquer edificação é a parte mais penosa da obra, a mais demorada e a que menos aparece.

Obras utilizadas: Genealogia Paranaense, Francisco Negrão, 1926. Inventários e Testamentos. Publicação Oficial do Arquivo do Estado de São Paulo, 1920. Viagem pela Comarca de Curitiba – Saint-Hilaire. Tradução de Cassiana Lacerda Carollo, 1995.

Teresa Teixeira de Britto – Membro do Centro de Letras do Paraná, do Centro Paranaense Feminino de Cultura e da Academia de Letras José de Alencar.

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