2002 trouxe poucas novidades e uma constatação

Assim como os “redimidos”do Réveillon que fazem promessas de início de ano que nunca serão cumpridas , a televisão também planeja mudanças a cada virada. Mas quem determina o que fica ou sai da programação é a audiência.

O ano de 2002 foi marcado pelo “voyeurismo” de “reality-shows” como “Big Brother Brasil” e “Casa dos Artistas”. Foi também o ano em que o público se encantou com as mil e uma tramas de “O Clone” e bocejou com os “amore mio” da tão propalada “Esperança”. Na “Copa de pijamas”, “teletorcedores” sonâmbulos acordaram de madrugada ou nem dormiram para assistir aos jogos. Depois do inesperado penta, e da também inusitada audiência, veio campanha eleitoral, as entrevistas, os debates… Uma verdadeira sabatina com os presidenciáveis. Com raras exceções, os velhos formatos dominaram a telinha. E, entre altos e baixos inesperados, o Ibope sentencia: está cada vez mais difícil adivinhar os anseios da audiência.

Os “reality-shows” foram a maior aposta num ano de rasas verbas publicitárias. As sucessivas edições do “Casa dos Artistas”, lançado no final 2001 pelo SBT, cansaram o público. Na Globo, o primeiro e o segundo “Big Brother Brasil” lançaram um bando de “zés-ninguéns” a um estrelato de validade limitada. No auge da febre, o apresentador – e dublê de poeta – Pedro Bial chegou a dizer que a moda dos “reality-shows” poderia passar, mas nem a tevê nem a sociedade seriam os mesmos. É verdade, porém, que o mal-estar está custando a passar. No rastro do “BBB”, seguiram-se variantes, como “Fama”, da Globo, e “Popstars”, do SBT.

As emissoras preferiram não correr riscos ao planejar 2002. Com exceção da microssérie “Cidade dos Homens”, exibida em outubro na Globo, nenhum formato novo foi tentado. O que se viu foram as mesmas pegadinhas, reprises de minisséries e manjados programas de auditório. Faltou também brilho próprio. Os programas de fofoca – da Band, SBT e Rede TV! – quase sempre giram em torno de artistas e produções globais. Já as novelas da Globo estão repetitivas. Não é à toa que “Esperança” foi batizada na Itália de “Terra Nostra II” e “O Beijo do Vampiro” tem muito mais de “Vamp” que apenas os caninos. Os autores Benedito Ruy Barbosa e Antônio Calmon só não repetiram o ibope generoso do passado, quando as obras eram originais.

Copa

A Copa do Mundo foi outra surpresa. A Globo pagou caro pelos direitos de exibição e penou para vender as cotas de publicidade. Nem executivos das emissoras, nem os publicitários pensaram que a Copa seria fora do “horário do patrão” e que a torcida roubaria o tempo dos jogos das horas de sono. Em campo, o Brasil não só faturou o penta como provocou a maior audiência de todas as Copas. “Houve mais televisores ligados porque teve menos gente assistindo por aparelho”, tergiversa o publicitário Lula Vieira. Já o comentarista Juca Kfouri, da Rede TV!, acredita que a paixão falou mais alto. “Viramos uma nação de zumbis. E, sonados, nem víamos os erros da seleção!”, brinca, acrescentando que nenhuma outra emissora, fora a Globo, teve “cacife” para pagar pela transmissão.

Eleições

Nas eleições para presidente, por outro lado, Band, Record, SBT e Rede TV! também entraram em campo. A campanha de 2002 foi a mais eletrônica da História. No primeiro turno, os candidatos se submeteram a uma maratona de debates e entrevistas. Já no segundo, Lula só compareceu ao debate da Globo com José Serra. “Deixamos de adotar aquela postura omissa das eleições anteriores”, elogia a jornalista econômica da Globo e Globonews, Míriam Leitão. Já o diretor de jornalismo da Band, Fernando Mitre ressalva. “Faltou debater as reformas tributária e previdenciária. Na próxima, faremos melhor”, promete.

Tempo de vacas magras

# No segundo semestre, os investimentos publicitários na televisão ficaram mais magros. Os profissionais de tevê culpam a cotação do dólar e a retração do mercado. No meio publicitário, comenta-se que faltam formatos originais para atrair os anunciantes.

# Para o diretor do “Big Brother Brasil”, Boninho, a segunda edição do “reality-show” foi mais bem-sucedida do que a primeira. Embora não tenha alcançado mesma audiência, teve maior repercussão.

# O “Jornal Nacional” inovou em 2002 ao levar convidados para entrevistas na bancada. O primeiro foi o jogador Ronaldinho. Depois, vieram os presidenciáveis. Lula voltou ao “JN” no dia seguinte ao segundo turno das eleições, quando já era o presidente eleito.

# Os seriados “Os Normais” e “A Grande Família” atravessaram 2002 com a audiência de vento em popa. São presença certa em 2003.

# A Globo tentou evitar que as concorrentes comprassem a colombiana “Betty, A Feia”, sucesso em 70 países. Ela chegou a negociar com a RCN, mas não fechou nenhum acordo. Foi aí que a Rede TV! conseguiu os direitos de exibição.

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