InspirAÇÃO

Estudante vira “devoradora de livros” e influencia pessoas pelo hábito da leitura

Imagem mostra várias caixas de livros debaixo de barracas em feira do livro na França
Estudante ganhou até bolsa de estudos e trabalhou com sobrinha de Carlos Drunmond de Andrade. Foto: Arquivo Pessoal

A estudante de Direito e influenciadora digital Jhenefer Morcidlo Turkot, 24 anos, criou um espaço no seu Instagram, em 2018, para falar sobre as suas experiências com a leitura. Um “bookstagram“. Ela só não esperava tanto engajamento durante esses quatro anos de postagens. São fotos de livros, passeios por livrarias e indicações de leitura seguidas por quase 23 mil perfis.

O espaço é um refúgio para ela. Mais do isso, por causa dele a jovem influencer conquistou uma bolsa de estudos para passar um semestre em Portugal, na Europa, e também parcerias com várias editoras. Rolou até uma curiosidade com a família Drummond. O projeto da Tribuna “Inspir-Ação: Influenciando pessoas para o bem” a elegeu como uma das cinco influencers que fazem a diferença nas redes sociais com boas atitudes. Borá ler e se inspirar?

Mergulho na literatura

A Jhenefer nasceu em Itaiópolis (SC) e passou grande parte da vida em Araucária, região metropolitana de Curitiba. Depois, se mudou para Assis Chateaubriand, no Oeste do Paraná. Assim que terminou o Ensino Médio, passou em Direito na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Agora, ela mora em Três Lagoas (MS) com o seu companheiro, o​​​​ito gatos e um cachorro. “Eu não fui leitora de livros desde sempre. Venho de uma família muito simples e não tive esse estímulo na infância. O hábito de leitura veio apenas na faculdade”, conta ela.

A influencer começou a ler os assuntos que a interessavam e, quando viu, já estava comprando muitos livros e lendo cerca de dez títulos por mês. As leituras foram se somando ao gosto pessoal da jovem. Sua família, embora não apresentasse o hábito de ler a ela, sempre a estimulou a participar de projetos de arte. “Fiz ballet, teatro e até circo.

Também sempre gostei muito de fotografar, então, comecei a postar fotos desses livros no meu Instagram, em 2018. Com isso, vi que as pessoas começaram a se interessar, me mandar mensagem perguntando o que eu tinha achado dos livros, se eu indicava, etc. Não demorou muito, comecei a escrever resenhas e entrar nesse mundo do bookstagram“, revela.

Quando começou, a influencer tinha cerca de 6 mil seguidores, que agora passam de 22 mil. “Nesse tempo, os números iam crescendo bem rápido, de 6 mil foi para 10 mil e isso me estimulava muito a continuar”, explica. Em 2019, ela passou a receber caixas e caixas de livros de editoras de todo o Brasil. Entre elas a Companhia das Letras, Nova Fronteira, Record, entre outras. “Eu leio os livros e compartilho”, conta.

Logo, ela percebeu que precisava de um nome diferente para o projeto e surgiu o @dra.book, por causa de um desenho animado que o irmão assistia quando criança. “Dra. Brinquedo. Ela consertava os brinquedos e eu achei que a ideia poderia ser legal e ficou”, relembra a Jhenefer.

Logo veio o primeiro clube de leitura, um projeto para que os participantes lessem durante um ano apenas clássicos escritos por mulheres. Foi um sucesso! “Éramos mais de 100 pessoas de todo o Brasil, toda semana conversando virtualmente sobre livros. Na pandemia, as contas de livros tiveram ainda um maior destaque, já que as pessoas estavam lendo mais no home office. Foi quando chegamos em 20 mil pessoas no @dra.book”, destaca.

Foi pelos livros e pela UFMS que ela conseguiu uma bolsa de estudos para passar um semestre em Portugal. “Como eu não tinha como custear a viagem, fiz uma vakinha virtual e os seguidores da conta prontamente me ajudaram e eu consegui o dinheiro. Também fui convidada a trabalhar com a editora Coerência nas redes sociais, por um tempo, e também trabalhei com a Regina Drummond, autora e sobrinha do Carlos Drummond de Andrade”, revela.

Uma história curiosa com a Drummond? “Não foi nada demais, na verdade. Ela era autora da editora em que eu estava trabalhando e precisava de alguém pra cuidar das redes sociais dela, por um tempo. Então, me contratou por dois meses. Ela mora na Alemanha, foi tudo online”, conta.

Pelas redes, a influencer já fez projetos de doação de livros, sorteios e leituras coletivas, clubes de leitura dos mais variados gêneros e lives com grandes editoras. E o Direito no meio disso tudo. “É algo bem separado da minha vida nos livros. São duas Jhenefer diferentes. Uma que estuda Direito e trabalha no fórum. Outra completamente diferente, que lê muita literatura e dá uma de ‘influencer’. Coloco os livros como um hobbie, é algo que amo fazer”, brinca ela.

O @dra.book é o seu canto de refúgio, onde ela tenta seguir uma paleta de cores que traz conforto. “São pessoas que estão ali e são interessadas pelo mesmo assunto que eu. Quanto a ser influencer ou blogueira, sinceramente, nunca gostei desses termos, até porque costumam ser utilizados de forma pejorativa pela maioria das pessoas. Mas, sim, acredito que nesses anos me dedicando aos livros, consegui influenciar algumas pessoas a começarem a ler, a perderem o medo dos clássicos e da literatura nacional”, reflete.

A rotina da vida com o Instagram, aliada ao trabalho e aos estudos, tornou-se puxada. A Jhenefer está com um clube de leitura ativo e um novo que está com vagas abertas, no qual a leitura será a obra completa de Shakespeare. Normalmente, os clubes abrem com 40 vagas. Ela também realiza pesquisa em Direitos Humanos e é bolsista de Iniciação Científica pela UFMS.

Jhenefer descobriu a paixão pela leitura já na fase adulta. Foto: Arquivo Pessoal

Vida em Portugal

A viagem para a Europa, em Portugal, “foi maravilhosa”, segundo a influencer. A Jhenefer também conheceu a França e visitou livrarias por lá. Ela contou que passou por muitos “perrengues”, mas valeu a pena porque viajar até a Europa sempre foi um sonho.

Ela visitou a Livraria Lello, considerada uma das mais bonitas do mundo, conheceu sebos e livrarias antigas e teve a oportunidade de ir ao Café Magestic, que carrega o mito de ser um dos locais onde a escritora J.K. Rowling se inspirou para escrever passagens de Harry Potter, quando, com 25 anos, a escritora morou na cidade do Porto, de 1991 a 1993.

“Lá, foi muito corrido. Li pouco, mas consegui terminar a obra “Virgens Suicidas” e iniciei a obra “Os maias”, de Eça de Queiroz, autor portugues da literatura clássica. A comida também é diferente. Eu comia mais fast food ou comidas prontas. Mas me apaixonei pelo famoso pastel de nata e pelo vinho do Porto”, comemora.

Diário de Leitura

Como toda a boa leitora, a Jhenefer mantém um diário de leitura, no qual anoto todos os livros que lê durante o mês. Mas, como começou as marcações em 2020, ela não lembra exatamente quantos livros já leu. Porém, em 2021, ela diz que bateu seu próprio recorde com 83 livros lidos no ano.

Os cinco livros que ela acha que toda pessoa deveria ler são:

  • Capitães de Areia, do Jorge Amado;
  • Jane Eyre, da Charlotte Bronte;
  • Mulherzinhas, da Louisa May Alcott;
  • A bailarina fantasma, da Socorro Acioli (foi o livro que a inseriu no mundo da leitura e ela tem um carinho imenso por ele);
  • A saga Harry Potter.

“Amo Harry Potter. Ele apareceu para mim através da saga que foi o divisor de águas na minha vida: Crepúsculo. Crepúsculo é algo que sou muito fã até hoje. Embora as pessoas mais cultas e leitoras de clássicos tenham um certo preconceito com a obra, eu sempre fiz questão de falar o quanto gosto e o quanto foi importante para mim, embora tenha até perdido seguidores por isso. Meu Instagram tem foco em literatura clássica, é o que eu gosto, mas reconheço a importância desses livros feitos para adolescentes. Tanto Harry Potter quanto Crepúsculo criaram duas gerações de leitores”, ressalta a influencer.

O amor pelo Harry Potter veio quando ela assistiu ao filme Cálice de Fogo, no qual o ator de Crepúsculo, Robert Pattinson, fazia o papel do Cedrico Diggory. “Primeiro vi os filmes, porque na época não tinha condições de comprar os livros, mas logo que assisti tudo tornei-me fã e ganhei de presente os livros. Porto foi uma cidade que em muitas coisas inspirou a criação do mundo de Harry, isso também contou muito para tornar mágica a minha viagem até lá”, finaliza a Jhenefer.

Na próxima terça-feira, a partir da 19h, faremos uma LIVE com a Jhenefer e com Ana Paula Teixeira, do Instituto GRPCOM, para falar sobre o tema jovens na literatura e no consumo de notícias. Fique ligado nas nossas redes sociais (Facebook e Instagram) Não perca!

Projeto Inspir “AÇÃO”

Como falar com o público jovem e despertar o interesse dele para as notícias? O Intituto GRPCOM e a Tribuna do Paraná se uniram para pesquisar tendências e reunir um grupo de cinco influenciadores digitais para provocar pensamento, reflexão e ação.

Pesquisas mostram que os jovens, na faixa etária de 16 a 24 anos, utilizam, cada vez mais, as redes sociais como principal meio de socialização, informação e conscientização. Através de cinco influenciadores digitais das áreas de leitura, educação financeira, meio-ambiente, sustentabilidade e inclusão –  temas contemporâneos transversais na BNCC – pretendemos “conversar” com esses jovens, com uma linguagem acessível e aberta para interação.  

O projeto pretende ainda contribuir contra a desinformação, ajudando os jovens a buscarem informações em fontes confiáveis, diferenciando fatos de opiniões.

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