Um paranaense na Arábia

Robson Gomes começa este mês a corrida para a Copa do Mundo de 2010. Ao lado do técnico Hélio dos Anjos, o preparador físico curitibano levou a seleção da Arábia Saudita ao vice-campeonato asiático em 2007. O desafio agora é manter a tradição dos sauditas, presentes nos últimos quatro mundiais. Ele volta ao Oriente Médio em 10 de janeiro para o início da preparação para as eliminatórias, que para a Arábia começa em 6 de fevereiro, contra Cingapura. De férias em Curitiba, Robson vestiu-se até de xeque para contar as histórias da terra das mil e uma noites.

O Estado – Como foi a disputa da Copa da Ásia?

Robson Gomes – Os árabes dão mais importância à Copa da Ásia que à Copa do Mundo. É um título alcançável para eles. Esperavam algo com um 5.º lugar, mas fomos à final. Perdemos por 1×0 para o Iraque, um time fortíssimo.

O Estado – A Arábia Saudita deu vexame nas duas últimas Copas. O nível dos jogadores ainda é fraco?

Robson – Se a seleção árabe disputasse o campeonato brasileiro, brigaria pela Libertadores ou até pelo título. Eles têm muita técnica. Mas um certo protecionismo dos dirigentes e a cultura de não se aplicarem nos treinos prejudica bastante. Também falta intercâmbio, todos atuam na própria Arábia Saudita.

O Estado – Os atletas fazem corpo-mole?

Robson – Há uma cultura de passar a mão na cabeça dos jogadores, que produz casos curiosos. Nos Emirados Árabes, um príncipe pediu ao Vágner Mancini (agora técnico do Grêmio) para liberar o melhor jogador dos treinos, porque faria uma pelada em casa. Falta profissionalismo.

O Estado – Os costumes islâmicos chegam a atrapalhar a preparação física?

Robson – É preciso respeitar e adaptar os métodos. Como certas atividades não podem ser interrompidas, chegamos a treinar às 4h30 da manhã, antes da primeira reza. Foi a melhor alternativa.

O Estado – E o calor escaldante do Oriente Médio?

Robson – No verão é normal fazer 42ºC à sombra, mas pode chegar até aos 55ºC. Há o risco de desidratação, porque o clima é quente e seco e o jogador sua pouco. No campeonato local e mesmo na Copa da Ásia há paradas obrigatórias no meio do jogo para que os atletas se hidratem. É duro, mas o árabe está acostumado.

O Estado – Já está adaptado à vida no Oriente Médio?

Robson – Foi mais rápido que eu imaginava. Moro num condomínio estrangeiro, meus filhos estudam numa escola americana, falam inglês perfeitamente. E já consigo me comunicar em árabe, o que é muito útil no dia-a-dia de trabalho, embora tenhamos um intérprete na seleção.

O Estado – Quais os maiores desafios das eliminatórias?

Robson – Só há quatro vagas diretas, e a Arábia compete com muitos países de nível semelhante como Iraque, Japão, Coréia do Sul, China, Irã, agora a Austrália. E todos estes têm jogadores atuando na Europa, o que lhes dá alguma vantagem. 

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