Um gol que não foi e surge outra confusão

Faltava apenas um dia para que se completasse um ano da lambança da arbitragem comandada por José Francisco de Oliveira na partida Atlético 2×2 Império. Exatas 52 semanas depois do ?gol que não foi?, aconteceu um fato similar na partida Nacional 1×1 Rio Branco, domingo, em Rolândia. O zagueiro Rodrigo, do Leão da Estradinha, chutou claramente para fora, mas o árbitro Ito Dari Rannov, após consultar os dois assistentes e o árbitro reserva, deu o gol para os visitantes – que pode ser decisivo na luta do Nacional para fugir do rebaixamento.

Em campo, no Estádio Erick George, Ito e seus assistentes Aguinaldo Pinheiro Oliveira e Paulo César Beskow (que estava no lance) foram seguros, e não cederam à pressão dos donos da casa. Mas, ainda no domingo, a jogada estava escancarada nos programas de TV. ?Eu estava seguro, confiava na visão dos meus companheiros. Mas quando vi na televisão, percebi que tínhamos cometido um erro grave?, confessou Ito Rannov.

Chateado, o árbitro do jogo reconheceu que não estava bem posicionado. ?Eu estava acompanhando a jogada, mas havia alguém encobrindo a minha visão?, disse Rannov, que reiterou a confiança em Beskow, que garantiu que a bola tinha entrado. ?Nós conversamos, tínhamos a certeza que o gol havia acontecido?, garantiu.

Mais abalado estava Paulo Beskow, que também viu pela TV que a bola não tinha entrado. ?Na hora da jogada, que foi um contra-ataque, tive convicção. Para mim, foi gol. A rede estava intacta, do jeito que tínhamos verificado. Até conversamos sobre o lance quando voltávamos de Rolândia. Só depois é que fui ver o que realmente tinha acontecido. A TV mostrou uma coisa totalmente diferente do que vimos. Estou muito chateado?, disse o assistente.

O presidente da Comissão de Arbitragem, Afonso Vítor de Oliveira, reconheceu a gravidade do erro, apesar de lamentar a repercussão do fato. ?Eu sei que é função da imprensa, mas às vezes só se fala da tragédia. Mas claro que o que aconteceu é inadmissível, principalmente por parte do assistente. Só que o fato não foi proposital, de maneira nenhuma. O Ito é um rapaz de boa índole, é gente de bem?, analisou o presidente, que teve várias conversas com Rannov e Beskow domingo e ontem.

Afonso afirmou que não haverá, pelo menos por parte dele, nenhuma punição aos árbitros de Rio Branco x Nacional – diferente do que aconteceu ano passado. ?Eles continuam sendo árbitros, vão entrar na escala. Não vou enterrar ninguém vivo?, resumiu.

Resultado da partida não deve ser alterado

Segundo especialistas em direito desportivo, não há a menor possibilidade do resultado de Nacional x Rio Branco ser alterado – e mesmo da partida ser impugnada. Como a falha confessada do trio de arbitragem será considerado ?erro de fato?, e não ?erro de direito? (quer dizer, sem predisposição para o ato), mesmo que os dirigentes do time de Rolândia queiram, não há o que fazer. O que pode acontecer é o Tribunal de Justiça Desportiva ou a Federação Paranaense de Futebol analisarem o caso e punirem os responsáveis.

Por enquanto, a posição oficial da FPF é de aguardar o recebimento da súmula para então, conversando com a Comissão de Arbitragem, tomar alguma medida. Até o final da tarde de ontem, o sítio oficial da entidade -www.federacao parana.com.br – não tinha a súmula em seus arquivos.

Ano passado, no dia seguinte à partida Atlético 2×2 Império, a federação afastou árbitro (depois, José Francisco de Oliveira acabou eliminado do futebol na investigação do ?Caso Bruxo?), os dois assistentes e até o quarto árbitro. E, logo depois, suspendeu Oliveira e o assistente Rogério Luder. Ontem, Afonso Vítor de Oliveira se manifestou contra um possível afastamento. ?Todos erram, os árbitros são humanos. E eu não vou queimar ninguém?, disse. Naquela ocasião, o Império do Futebol sequer analisou a possibilidade de pedir a anulação do jogo. E o Nacional deve seguir o mesmo caminho – o clube deve anunciar hoje um posicionamento sobre o caso, mas o próprio presidente não pretende ?crucificar? a arbitragem. ?O Ito é um dos melhores árbitros do Brasil e pode vir apitar novamente aqui sem problema algum. Olhei no olho do bandeira (Beskow) e vi que não foi má intenção?, afirmou José Danílson de Oliveira.

Segundo nota oficial do Nacional, o presidente do clube deve se reunir hoje com o advogado Nickson Fiori, para decidir qual atitude será tomada. O presidente quer defender os interesses do clube sem prejudicar o trio. ?Não quero prejudicar ninguém, nem estragar a carreira de ninguém?, avisou. ?Mas tenho que ver o lado do Nacional também.?

Ito Dari Rannov e Paulo César Beskow tiveram reações diferentes quando se falou em possíveis punições. O árbitro do jogo de Rolândia afirmou que vai acatar a decisão que for tomada. ?Se acontecer alguma coisa, vou aceitar naturalmente?, disse. Já o assistente preferiu não especular sobre o assunto. ?Prefiro aguardar o que vai ser decidido?, resumiu.

Lances polêmicos fazem parte do futebol

Futebol sem polêmicas de arbitragem não seria futebol. Mas, nos últimos tempos, com o aumento das transmissões pela TV e com a conseqüente maior visibilidade das partidas, os possíveis erros são escancarados – e as discussões aumentam mais e mais. E lances inusitados, como o do jogo entre Nacional e Rio Branco, acabam se transformando em assunto para muita conversa.

Assim como foi na partida entre Coritiba e Vasco, no Campeonato Brasileiro de 2004. Petkovic cobrou um escanteio, a bola bateu na trave e voltou para ele. Lance ilegal, a trave é ponto neutro e o cobrador do escanteio não pode tocar duas seguidas vezes na bola. Mesmo assim, o árbitro Rodrigo Martins Cintra mandou o jogo seguir e Pet sofreu pênalti, que ele mesmo bateu e converteu, definindo a partida. O Coritiba estrilou, mas nada aconteceu – Cintra ficou um tempo afastado, mas logo voltou e hoje é considerado um dos melhores juízes do futebol brasileiro.

Em 1981, um caso histórico. Jogavam na Vila Capanema Colorado e Toledo. O Boca Negra sofria com o adversário, que tinha uma chance clara. Até o goleiro Joel Mendes tinha sido batido, e o atacante do time do interior tocou para o gol vazio. Aí, irrompeu o então preparador físico Luís Roberto Matter, dando um bico na bola para longe. O árbitro não tinha o que fazer, somente dar bola ao chão no local onde Matter chutou.

O fisicultor foi suspenso – e, mais de vinte anos depois, é um dos braços direitos de Levir Culpi, com trabalho reconhecido em grandes clubes do futebol brasileiro.

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