Torcida alemã terá estrutura especial em Fortaleza

O torcedor alemão tem à disposição em Fortaleza um serviço de ajuda durante o período que estiver na cidade para ver a partida entre Alemanha e Gana, marcada para acontecer neste sábado, no Castelão, pela segunda rodada da Copa do Mundo. Chamada de Embaixada dos Torcedores, o projeto é um modelo copiado dos famosos Fanprojekts e prestará todo auxílio para os turistas europeus.

“Serão 12 pessoas na equipe, além de três do Corpo Consular Alemão, e vamos ter uma van com uma estrutura mínima em um ponto central da cidade”, explica o antropólogo Martin Curi, que está ajudando no projeto. Esse veículo ficará estacionado bem ao lado da Fan Fest, onde a concentração de torcedores é maior, e estará disponível a partir desta sexta-feira até o domingo.

“Preparamos um fanzine especialmente para essa partida, com dicas e informações. Também teremos guias para distribuir, mas o principal é um cartão com um número de telefone, que pode ser acionado 24 horas e no qual o torcedor sabe que ouvirá alguém do outro lado falando alemão”, continua Martin.

Em um Mundial, as principais perguntas são sobre ingressos, caminho para o estádio, como se faz ligação telefônica no Brasil ou onde existem caixas eletrônicos. Caso fossem torcedores alemães e não chilenos que invadissem o Maracanã, por exemplo, a Embaixada dos Torcedores entraria em ação para fazer a mediação.

Os funcionários que ficarão na van vieram dos Fanprojekts na Alemanha, ou seja, são pessoas conhecidas de boa parte dos torcedores. “As questões aqui no Brasil são mais sobre informações e serviços”, diz Michael Gabriel, um dos coordenadores do Fanprojekt na Alemanha.

Ele conta que esse tipo de auxílio ao torcedor surgiu nos anos 1980, quando os clubes europeus passaram a pensar mais “economicamente” e os torcedores perceberam que estavam sendo deixado de lado nas decisões. Então, a organização passou a ouvir os fãs e aprender com eles. “Vimos muitos problemas e começamos a fazer a interlocução com os clubes”, lembra Gabriel, citando ainda que os Fanprojekts são bancados com dinheiro público pelos governos locais e estaduais (25% cada) e metade da verba vem da Federação Alemã de Futebol. “Acho estranho a CBF não ajudar os torcedores”, diz.

Nos Fanprojekts, os assistentes sociais conversam com os torcedores, ouvem suas necessidades gerais e procuram defender os interesses. Também são organizadas viagens para menores de idade, em excursões que não têm cigarro ou álcool. Também promovem eventos para discutir questões sociais e para jogar futebol. “Também pregamos valores democráticos. Se um clube quer banir um fã do estádio, nós garantimos que seja ouvida a versão dele. Também interferimos em construção de novos estádios ou na música que se quer ouvir”, explica Gabriel.

Uma das conquistas, por exemplo, foi garantir o direito da torcida ficar em pé no estádio, em um setor determinado. Segundo Élcio Batista, secretário da Juventude da prefeitura de Fortaleza, o Fanprojekt faz mediação de conflito e conta com membros do poder público dentro da Conselho Consultivo. Sociólogo de formação, ele fez a ponte com os alemães e trouxe o projeto para a capital cearense durante a Copa. “Promovemos um intercâmbio entre torcidas, em um projeto bilateral que faz parte da nossa Torcida pela Juventude”, afirma.

Ele acredita que o futebol pode ser um campo de aprendizagem para a juventude. Existem ações com as torcidas organizadas no Ceará, mas ele ressalta que na Alemanha os Fanprojekts são independentes, pois não são dos clubes, nem das uniformizadas. Para fazer a parceria, ele contou com a ajuda de Hans-Jürgen Fiege, assessor do projeto e técnico da GIZ, uma empresa que trabalha diretamente com o governo alemão.

Segundo Gerald Guskowski, diretor da GIZ, são esperados em Fortaleza 12 mil alemães com ingressos, fora os que não têm os bilhetes. “O Brasil está olhando muito para o futebol alemão. Teremos um grupo grande aqui, mas são pessoas que se comportam bem e respeitam as regras e a cultura locais”, conclui.