Torcedores argentinos dizem temer agressões em SP

Grupos de torcedores argentinos que chegavam nesta segunda-feira ao Sambódromo do Anhembi, na zona norte de São Paulo, resolveram fazer uma reunião para discutir se a música Brasil “Decime que se siente” deveria ser entoada nos últimos dois jogos da Copa do Mundo. Assustados, eles relatam ter sido hostilizados nos últimos dias, dentro e fora dos estádios. Contam que a situação chegou ao limite na partida de sábado contra a Bélgica, em Brasília, quando seguranças tiveram de apartar brigas entre torcedores argentinos e brasileiros até mesmo dentro do banheiro.

“Precisamos que a polícia ou os militares, seja quem for, garanta o nosso direito de comemorar o terceiro lugar ou o título. Eu levei um tapa na cabeça dentro do banheiro em Brasília porque estava com uma réplica da taça de campeão do mundo”, relatou Leandro Juarez, de 28 anos, argentino de Rosário, que está no Brasil há 20 dias. “Ou vamos ter de correr foragidos para o aeroporto se formos campeões?”, emendou Carlos Carolli, de 29 anos.

A Polícia Militar informou nesta segunda-feira que não foi preparado um esquema especial para os argentinos que estão acampados no Anhembi – mas que isso pode ser feito, se for constatada a necessidade.

Por fim, o grupo de cerca de 300 pessoas decidiu que vai continuar cantando a música, que provoca os brasileiros e diz que Maradona é melhor do que Pelé, no jogo desta quarta-feira no Itaquerão, contra a Holanda. Mas de forma mais discreta e só dentro do estádio, quando estiverem em grupo.

“Tenho percebido que é o pessoal de Buenos Aires que lidera essas provocações contra os brasileiros. Nós não podemos também ficar mexendo com as pessoas na rua, falando do Maradona. Por mim, não cantava mais essa musiquinha nem no estádio”, disse, no fim da reunião, Daniel Cuebas, de 69 anos, de Salta.

A tensão entre brasileiros e argentinos era até tema de uma reportagem especial que a TV NOS, da Holanda, preparava para mostrar no dia do jogo. “É difícil entender de onde vem tanta rivalidade. Não houve uma guerra entre os países, são vizinhos de fronteira que falam línguas parecidas. Mas percebo que o espírito esportivo dos brasileiros com as provocações argentinas realmente acabou”, comentou Edrin Cornezio, de 41 anos, repórter da emissora holandesa.

Há 30 dias no Brasil e com a experiência de já ter assistido a finais de Libertadores em São Paulo, Sergio Lopes, que tem 39 anos e é de Buenos Aires, disse estar surpreso com a “fúria” dos brasileiros contra os argentinos. “Jogaram pedra no meu motor-home em Brasília, tive de trocar o vidro. Até o jogo contra a Bélgica, estava tudo bem. Acho que os brasileiros estão irritados com a quantidade de argentinos nos estádios, pois nós cantamos sempre mais alto, mesmo em menor número”, afirmou o torcedor do Boca Juniors.