Quarteto deixa de ser mágico para Parreira

Buenos Aires – O quarteto mágico da seleção brasileira, formado por Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Adriano e Robinho, passou a ficar em risco depois da fraca atuação contra a Argentina e da derrota por 3 a 1, na noite de anteontem, no Estádio Monumental de Nuñez, em Buenos Aires.

O esquema tático, com quatro atletas de características exclusivamente ofensivas, foi elogiadíssimo por Carlos Alberto Parreira, pelos torcedores e pela imprensa na goleada sobre o Paraguai por 4 a 1, domingo, mas mostrou falhas diante de um adversário mais forte.

O treinador deixou claro que ainda vai testá-lo por algumas partidas, mas, se não der certo, admite tirar um dos atacantes para escalar mais um meio-campista e, assim, avançar Ronaldinho. "Mas esse esquema foi utilizado em apenas quatro jogos (contra Peru, Uruguai, Paraguai e Argentina), não podemos ser precipitados", afirmou. "O jogo com a Argentina serviu de reflexão, mas não tenho medo de mantê-lo para a próxima partida."

A verdadeira prova sobre sua real eficácia será tirada durante a Copa das Confederações, com início previsto para a próxima semana. A equipe iniciará o torneio com a formação ofensiva dos últimos confrontos das eliminatórias, mas, se não der resultado, Parreira voltará a reforçar o meio-de-campo.

Ficou evidente, na noite de quarta-feira, que o sistema, embora entusiasme por reunir atletas de alto nível, é vulnerável. A Argentina, com jogadores técnicos e de boa marcação, conseguiu neutralizá-lo e soube aproveitar os espaços dados pelo meio-de-campo e pela defesa para marcar gols. Surgiu, então, a dúvida na cabeça de Parreira. Colocar os quatro juntos em campo pode ser ótimo contra rivais limitados, mas perigoso diante de oponentes mais poderosos.

A Copa das Confederações proporcionará boa oportunidade para que o comandante brasileiro faça testes, pois, na pior das hipóteses, a seleção disputará três partidas. Se não aprovar, o treinador vai mesmo tirar alguém do ataque. Certo é que Ronaldo voltará na próxima rodada das eliminatórias, em setembro, contra o Chile. Entrará no lugar de Adriano, que irritou o treinador por ter desperdiçado boa oportunidade ontem, quando o marcador apontava 3 a 1 para os argentinos, ou no de Robinho. Adriano é, por enquanto, o mais cotado para ir para o banco. E os dois podem sair caso Parreira decida por colocar Ronaldinho na frente ao lado de Ronaldo. "O Ronaldo é um dos melhores atacantes do futebol mundial, ele é importantíssimo para a seleção e, em breve, estará conosco", repetiu o técnico, na entrevista coletiva após o clássico de quarta.

A delegação embarca na noite de hoje rumo à Alemanha, onde estreará na Copa das Confederações na quinta-feira, contra a Grécia. Os confrontos seguintes serão diante do México, dia 19, e do Japão, dia 22. Cafu e Roberto Carlos foram liberados para férias. O mesmo ocorre com Ronaldo, também dispensado dos últimos dois compromissos das eliminatórias.

Brasil cai das nuvens e desiste do dream team

Buenos Aires – O Brasil virou o dream team, ou time dos sonhos, na cabeça de boa parte dos jogadores depois da ótima vitória sobre o Paraguai por 4 a 1, domingo, em Porto Alegre. Realmente a seleção agradou e mereceu elogios, mas pouca gente, incluindo o elenco, lembrou de dizer que o adversário era fraco e que, dos quatro gols, dois foram marcados em cobranças de pênalti. A prova de fogo, mesmo, seria contra a Argentina.

E, nesse teste, o Brasil foi reprovado.

Após a derrota por 3 a 1 para a Argentina, anteontem, em Buenos Aires, os atletas caíram das nuvens e mudaram o discurso, adotando a cautela até então ignorada. Deixaram de lado o rótulo de dream team e reconheceram que não são tão superiores em relação a seus adversários.

"Não somos imbatíveis, fomos surpreendidos pela Argentina, mas acho que não há motivos para preocupação, pois iremos à Copa do Mundo", declarou Roberto Carlos. O lateral havia dito, na segunda-feira, em entrevista para a imprensa do Brasil e do exterior, que achava, sim, que a seleção brasileira era o dream team do futebol.

Carlos Alberto Parreira, que não havia gostado dessa história de time dos sonhos, voltou a dar declarações comedidas, embora, é importante ressaltar, tenha se mostrado encantado com o desempenho do time diante do Paraguai, em Porto Alegre. "Essa derrota para a Argentina não é o inferno, assim como a vitória sobre o Paraguai não foi o céu."

Parreira reafirmou que, em sua opinião, os favoritos ao título mundial na Alemanha, em 2006, são Brasil e Argentina. As equipes européias, realmente, não têm mantido bom nível. Espanha, Itália, França, Inglaterra e a anfitriã Alemanha vêm oscilando bastante. Há Holanda, Portugal e República Checa, que podem surpreender, mas nenhuma dá a impressão de estar acima das duas principais da América do Sul.

"Jogamos mal contra a Argentina no primeiro tempo, mas não é por causa da derrota que deixamos de ser uma grande seleção", avaliou o capitão Cafu. "Não é que sejamos um dream team, mas o Brasil costuma apresentar futebol agradável, as pessoas gostam de nos ver jogando", acrescentou Kaká, um dos que mais lutaram contra a Argentina.

De qualquer maneira, é indiscutível a capacidade do time de Parreira e do talento de seus atletas. Não foi por acaso a festa dos torcedores argentinos na madrugada de ontem, em Buenos Aires, pelo triunfo contra os brasileiros. Cansados e abatidos, os jogadores voltaram em silêncio no vôo da Argentina para São Paulo e Rio. A maioria desembarcou rapidamente para aproveitar o pouco tempo com familiares e amigos. Hoje, voltam ao Aeroporto de Cumbica, de onde seguem para a Alemanha para a disputa da Copa das Confederações.

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