Apenas três dos sete clubes intimados a depor no inquérito do ?caso Bruxo? compareceram ontem no Tribunal de Justiça Desportiva da Federação Paranaense de Futebol. De todos os depoimentos, o mais contundente foi o do presidente do Engenheiro Beltrão, Luiz Linhares, que entre outras revelações confirmou ter efetuado depósitos na conta do ex-vice da Comissão de Arbitragem da FPF, Antônio Carvalho.
Linhares disse ter depositado quantia ?inferior a R$ 2 mil? na conta que, de acordo com denúncia investigada pelo TJD, seria o centro do esquema de corrupção de arbitragens. Os aportes, segundo o dirigente, tiveram duas finalidades: cobrir despesas do Torneio Sul-Brasileiro de futebol amador, organizado pelo Engenheiro Beltrão em outubro de 2004; e o custeio de uma palestra sobre arbitragem feita por Carvalho e outros árbitros aos atletas da equipe. ?Seriam custos de deslocamento e hospedagem?, afirmou o auditor. Os depósitos foram efetuados pela empresa de Linhares, que não apresentou nenhum comprovante.
O dirigente disse ainda que sempre pagou as taxas de arbitragem em cheque ou em dinheiro, após as partidas, e nunca na conta de Carvalho. Na última sexta-feira, Carvalho disse ter recebido depósitos referentes a este tipo de taxa em sua conta.
Outra declaração revela que Antônio Carvalho assistiu ao jogo entre Rio Branco e Engenheiro, em Paranaguá, pelo Estadual-05. ?Linhares estranhou a presença de Carvalho e afirmou que os dois assistentes prejudicaram seu time?, falou o auditor. A partida foi apitada por José Francisco de Oliveira, o Cidão, autor de denúncias de corrupção na arbitragem. A atuação de Cidão foi considerada normal pelo dirigente.
Linhares insinuou também que os sorteios para escolha dos apitadores são ?viciados?. O presidente do Engenheiro lembrou que alguns árbitros dirigiram várias partidas de um mesmo clube na primeira fase da Série Prata em 2005. ?Para ele, alguns árbitros têm sorte demais?, disse o auditor, citando o tom irônico da afirmação de Linhares. Sacerdote irá pedir a escala de arbitragem de todas as rodadas da Série Prata para confrontar quem apitou jogos de que clubes.
Outra revelação de Linhares foi ter realizado investimento de R$ 10 mil, a pedido do diretor da FPF, Johelson Pissaia, na empresa Top Avestruz, de propriedade do presidente da FPF, Onaireves Moura. Linhares negou que o investimento fosse vinculado a auxílio extracampo.
Por fim, o dirigente disse que pagou uma multa em cesta básicas e as custas de um processo no TJD diretamente na conta do presidente do Tribunal, Bôrtolo Escorsim. Linhares questionou o motivo de o TJD não possuir conta própria.
O auditor considerou o depoimento importante pelas ?pistas? indicadas por Linhares. ?Ele apontou alguns caminhos que poderemos adotar nas investigações?, afirmou Sacerdote.
Conta só foi encerrada no dia 15 e não em abril
O ex-vice da Comissão de Arbitragem da FPF, Antônio Carvalho, adiou para hoje seu depoimento no Tribunal de Justiça Desportiva. Dono da conta suspeita de concentrar a compra de arbitragens, de acordo com denúncia em apuração pelo TJD, ele prometeu apresentar documentos que provam sua inocência.
Ontem, um fonte interna do Banco Itaú confirmou que o pedido de encerramento da conta investigada pelo TJD foi protocolado na última quinta-feira. Naquele dia, a Tribuna simulou uma transferência para a poupança de Carvalho. Na sexta-feira, a operação não pôde ser iniciada porque a conta já estava inativa. Carvalho alegou, em entrevista coletiva, que a conta havia sido fechada no mês de abril.
Outro depoimento transferido para hoje foi o do assistente do jogo Atlético x Império do Futebol, Rogério Luder, que validou o gol que não foi. Ontem, prestaram esclarecimentos ao TJD o diretor superintendente do Atlético, Alberto Maculan, e o presidente do Prudentópolis, João Alberto Ituarte. O auditor Octacílio Sacerdote Filho disse que ambos negaram envolvimento de seus clubes em ?maracutaias? e pouco contribuíram para o processo. Ituarte reclamou por ter sido prejudicado em algumas partidas da Série Prata e disse que nunca depositou dinheiro na conta de Carvalho. Nacional de Rolândia, Rio Branco, Paranavaí e Império do Futebol – outros clubes que tiveram jogos comandados pelo árbitro José Francisco de Oliveira, o ?Cidão?, durante o Estadual-05 – , não enviaram representantes.