Portuguesa em buraco cada vez mais fundo

São Paulo – A Portuguesa já foi considerada a namoradinha do Brasil, tamanha a simpatia que despertava em torcedores de outros times. Hoje, o tradicional clube fundado por imigrantes lusos amarga a segunda divisão do brasileiro, está atolada em dívidas e perdeu espaço na mídia. Não disputou a Copa do Brasil, caiu na primeira fase do campeonato paulista e não passou para a segunda etapa da Série B nacional. Na primeira quinzena de dezembro, em data ainda indefinida, haverá eleição para a escolha de novo presidente. Até no momento mais importante em sua história de 84 anos, a discórdia prevalece, porque há grupos que buscam o poder e que não se entendem.

O objetivo comum é o de salvar o clube, reerguê-lo, recolocá-lo em evidência. E também encontrar nome de consenso e montar chapa única, pois Joaquim Alves Heleno deixará o cargo. Mas cada segmento atira para um lado. Manuel da Lupa, Nelson Seco, José Roberto Cordeiro, Manuel Gonçalves Pacheco e Leonardo Placucci. Destes cinco nomes pode sair o indicado, apesar do índice de rejeição que cada um desperta nos demais grupos. Dia 18, em reunião do Conselho, com apenas 26 pessoas, ninguém respondeu à pergunta a respeito de candidatos.

A decisão deve sair logo, desde que as lideranças políticas coloquem divergências de lado e se unam, algo aparentemente improvável de ocorrer. No Canindé, mesmo em crise, a vaidade predomina. “Estes nomes não abrangem todos os setores da Lusa e sofrem rejeição grande”, afirma Marco Antônio Teixeira Duarte, vice-presidente de Marketing. “Com eles, aconteceria o mesmo que houve com o Heleno: levaria, mas não governaria”, prevê. “Precisamos de nome novo.”

Virgílio dos Anjos Martins, vice-presidente de Finanças, revela que nenhum dos cinco mais cotados aceitou a proposta de encabeçar chapa única, mas garante estar disposto a apoiar candidatura que consiga trazer paz ao clube. “A situação da Portuguesa dá medo, os jogadores vão embora a hora que querem. E os diretores ficam acreditando em Papai Noel”, afirmou um conselheiro, que preferiu não se identificar.

O temor está relacionado com a dívida do clube. Os funcionários não recebem salários há quatro meses, incluindo técnicos e jogadores das categorias de base. “Por isso a Ability (administradora do futebol profissional) é um mal necessário. Sem eles, não teríamos nem time”, lamenta.

A reclamação estende-se também às categorias de base. “A Portuguesa está no osso e ainda tem gente chupando este osso”, reclamou outro conselheiro, indignado com o tratamento dispensado aos garotos. Hoje, o time sub-15 da Lusa é o melhor do clube. Ao invés de preservação, jogadores são oferecidos a empresários.

Clube está devendo R$ 70 milhões

São Paulo

– A dívida da Portuguesa está em torno de R$ 70 milhões. A maioria por conta de impostos, quatro meses de salários atrasados dos funcionários e integrantes do departamento de futebol amador, além de mais de 400 processos trabalhistas. Com possíveis acordos na justiça, a cifra pode diminuir entre 30 e 40%. Seria menos pesada, se conseguir refinanciamento para pagar em 20 anos. “Comparando com Flamengo, Corinthians e Vasco, nossa dívida não é tão grande”, acredita Virgílio dos Anjos Martins.

Para amenizar um pouco a crise, o Clube dos 13 está dando uma ajuda e arrumou empréstimo no Bradesco para os salários atrasados, já que a Lusa não tem conta em banco. “Vamos pagar quatro meses, inclusive outubro, no máximo até esta terça-feira. Não fosse a burocracia, já teríamos feito o acerto”, diz o dirigente.

Embora considere uma proeza arrumar dinheiro, Virgílio tem opositores. Há no clube quem diga que tem parcela de responsabilidade na crise, por suas negociações na área de marketing em 2004. O dirigente teria ignorado a colaboração de Marco Antônio Teixeira Duarte, o vice-presidente de marketing, que se licenciou do cargo por se sentir preterido.

O time jogou o ano inteiro sem patrocínio. Em 2003 tinha três. Sua tradicional festa junina rendeu apenas R$ 40 mil, contra R$ 210 mil da edição anterior. Enquanto todos os clubes grandes têm participação de empresa de informática que utilizou sua imagem em apoios para mouse, dirigentes do Canindé não aceitaram acordo financeiro. E era o mesmo valor oferecido para Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Flamengo, Vasco… “Nosso departamento de marketing é nulo, nem vem ao clube”, rebate Virgílio. “Nosso vice-financeiro é uma lastima, vários grupos queriam investir no clube e ele não firmou nada”, contra-ataca Marco Antônio.

Virgílio espera continuar na diretoria, mas admite que tem interesse de rever contratos, principalmente com a Ability, que banca o futebol. O acordo atual fica em vigor até 2005 e o dirigente quer incluir as categorias de base. A Lusa deve já R$ 1 milhão ao grupo por empréstimos.

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