Passarella é o 4.º hermano no Corinthians

São Paulo – As cinco malas, a presença do seu auxiliar Alejandro Sabel-la e o bom humor denunciavam: Passarella chegou para ficar no Corinthians. Logo no desembarque ontem, às 18h40, em Cumbica, ele deixava claro que havia superado o entrave financeiro da sua contratação. Pela sua confiança, conseguiu o que queria: receber o mesmo que Tevez – US$ 2 milhões por ano.

O presidente da MSI, Kia Joorabchian, queria pagar US$ 1,5 milhão, mas pressionado pela tumultuada situação do clube, parecia ter cedido. Ao contrário da sua fama de prepotente, foi todo solícito diante dos mais de 40 repórteres que o aguardavam. ?O sonho de qualquer treinador é trabalhar no futebol brasileiro. Eu ainda não assinei contrato, mas tenho certeza de que amanhã (hoje) esse problema estará resolvido. O Corinthians é um time forte, importante. Sei o que me espera?, dizia, sorridente. Assinando o contrato, Passarella estaria disposto a dirigir a equipe já no sábado em Mogi Mirim, contra o União São João – o Corinthians perdeu o mando desta partida por causa da confusão que seus torcedores aprontaram no clássico diante do Santos.

Passarella revelou que acompanhou a partida entre Corinthians e Mogi Mirim, no Pacaembu. Viu a derrota na estréia do Campeonato Paulista, acompanhou as primeiras vaias a Tite.

?Conversei com as pessoas do Corinthians e vi a força da torcida. Sobre o time ainda não posso falar porque não fui contratado.?

O argentino não quis posar de mercenário. Se estaria voltando a trabalhar como treinador depois de haver garantido estar cansado da função. ?Eu voltarei a treinar porque eu gosto muito de futebol. Porque gosto muito de futebol?, repetiu.

O inusitado na chegada de Passarella aconteceu com um repórter. Próximo do treinador, ele foi imprensado pelos outros jornalistas. Sua camisa que era de botão por pressão acabou ficando aberta. O técnico dava as respostas e olhava para o peito nu do repórter e no seu semblante demonstrava não entender o que estava acontecendo. O Corinthians e a MSI mandaram apenas seis seguranças que foram atropelados pelos jornalistas. Passarella teve de pedir por favor para acabar a entrevista em Cumbica.

De lá ele seguiu para o Parque São Jorge, onde o aguardavam o presidente da MSI, Kia Joorabchian, e o presidente do Corinthians, Alberto Dualib. Kia fez questão que o encontro acontecesse no clube porque Dualib estava ficando desmoralizado – as estrelas do time foram contratadas e assinaram os seus contratos na sede da MSI. O presidente do Corinthians era meramente apresentado aos jogadores. Não queria que isso acontecesse com Passarella.

Kia ouviu como conselho do presidente Dualib que evitasse repetir a cena que provocou a demissão de Tite na derrota no clássico contra o São Paulo. O iraniano foi cobrar o gerente Paulo Angioni pelo fraco futebol do time de Tite e porque Tevez não cobrou o pênalti aos 42 minutos do segundo tempo.

?Pago US$ 22 milhões em um artilheiro e ele não cobra um pênalti. O que acontece??, perguntava aos berros. Acabou expulso do vestiário por Tite. Irritado, Kia o demitiu. O iraniano prometeu a Dualib que iria controlar o seu gênio. Até porque Passarella tem o temperamento bem mais explosivo que o gentil Tite.

Fama de durão assusta vaidosos

São Paulo – Daniel Passarella nem chegou e os jogadores do Corinthians não falam de outro assunto: a fama de ?durão? do técnico argentino. Uns andam desconfiados com o estilo de Passarella; outros, aproveitam o momento e prometem liderar a revolução contra os vaidosos do Corinthians. Os alvos: Carlos Alberto, Roger e o pequenino Élton. Três pratos cheios para o rigoroso treinador que deverá ser confirmado hoje como o substituto de Tite.

Os mais preocupados são os cabeludos do grupo. Roger parece estar com o ?pé atrás?. ?Meu cabelo até que está curto?, disse o meia, nem um pouco disposto a cortar as madeixas. O pequenino Élton não vê problema, apesar de cultivar a cabeleira há dois anos. ?Se ele quiser, eu corto. Tudo bem?, diz.

Pronto para ajudar Daniel Passarella está o capitão Anderson. Ele não esconde o desejo de liderar uma ?revolução? no grupo para acabar com as cabeleiras de Roger e Élton. ?Por enquanto, estamos só na brincadeira com eles dois. Mas não tem problema nenhum se o Passarella pedir para cortarmos os cabelos deles?, avisa o zagueiro, em tom de brincadeira.

Carlos Alberto está longe de ser cabeludo, mas nem por isso está menos preocupado. Ao contrário dos outros dois meias, ele gosta de valorizar o pescoço e as orelhas com correntes e brincos que chamam a atenção. Outro prato cheio para o xerifão Daniel Passarella.

Basileño, pero no mucho

São Paulo – Corinthians, brasileño sí, pero no mucho. Com a confirmação de Daniel Passarella no comando da equipe – desembarcou ontem em São Paulo com cinco malas e elogiando o clube brasileiro -, o entrenador (técnico) será portenho, assim como o novo controlador (xerife) da defesa, Sebastian Dominguez, o futuro dono da remera (camisa) 5, Javier Mascherano, e o delantero (atacante) Carlos Tevez. Kia Joorabchian, homem forte da MSI, parceira corintiana desde o fim do ano, nunca escondeu o apreço pelos futbolistas de la Argentina.

E haja apreço nisso. Para trazer os três atletas, deberá poner de su propio bolsillo la friolera (terá de desembolsar a quantia) de US$ 40 milhões. Sem contar os salários: Passarella pede US$ 2 milhões por ano, o mesmo que recebe Tevez. A MSI, porém, quer pagar US$ 1,5 milhão. O técnico e Kia reuniram-se no Parque São Jorge e hoje pela manhã voltam a conversar para bater o martelo. À tarde, El Gran Capitan deve ser apresentado como o novo técnico do Corinthians.

Se Kia admira os conterrâneos de Diego Armando Maradona, tem também seus interesses. Contratar jogadores do país vizinho ao Brasil é, além de boa jogada de marketing, uma forma de expandir os horizontes do fundo de investimentos. Nos bastidores especula-se ainda que o empresário de futebol Juan Figer estaria por trás da MSI e estaria aproveitando a parceria para se infiltrar no mercado argentino.

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