Parreira resolve adotar de novo o mistério total

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O técnico Carlos Alberto Parreira conversou demoradamente com Ronaldo antes do treino de ontem.

Bergisch Gladbach, Alemanha (AE) – O técnico Carlos Alberto Parreira resolveu manter o mistério sobre qual será o time titular do Brasil no próximo jogo, pelas oitavas-de-final da Copa do Mundo, contra a seleção de Gana, na próxima terça-feira.

Ele não quis dar pistas sobre quem vai ser escalado ao contrário do que vinha sendo seu costume antes do jogo contra o Japão – quando resolveu adotar esta tática.

Um dos fatores que pode ter influenciado nesta escolha é o problema envolvendo Robinho – que sentiu dores na coxa no fim do treino de ontem e pode desfalcar o time. "Ainda não sei, estou tranqüilo, tenho 23 soluções, e não problemas. Chegou o momento de segurar alguma coisa, ter algum mistério. Vamos ver, ainda não sei quando vou anunciar", disse o técnico, deixando no ar a possibilidade de que a escalação novamente só seja divulgada no limite máximo, ou seja, uma hora antes do jogo contra os ganenses.

A única certeza do técnico, tornada pública, é que o time não terá mudanças táticas. Vai seguir no 4-4-2, com dois meias de ligação e dois jogadores mais marcadores. "A estrutura tática tem que ser mantida. Não é hora de fazer este tipo de mudança."

Gana é a surpresa

O técnico brasileiro reforçou que está surpreso com o fato de enfrentar Gana nas oitavas-de-final, o que caracteriza como a maior surpresa da Copa. Seu prognóstico era enfrentar Itália ou República Tcheca, antes do mundial. E avisa que ninguém deve esperar facilidade. "A grande surpresa é Gana por ter tirado a República Tcheca. É um time que tem que se respeitar, tem uma forma agressiva de jogar. Perderam aquela aura de inocência que o futebol africano tinha, não têm mais ingenuidade."

A evolução do futebol ganense se deve ao investimento feito ao longo dos anos. Parreira mesmo esteve trabalhando por lá, nos anos 60. "Por causa do intercâmbio com o futebol de países europeus e de toda a infra-estrutura que foi criada, eles hoje são mais estruturados e organizados." Mas a inexperiência em Copas e o fato do Brasil ser um dos candidatos ao título são fatores que ajudariam os adversários. "O fator chave é que eles não têm nenhum compromisso, são franco atiradores."

Entre os jogadores, o destaque para o técnico Parreira é o meio-campista Appiah. "Ele é muito bom jogador, organiza todas as jogadas, é o cérebro do time." O outro seria o também meia Essien, mas este não joga, pois está suspenso pelo segundo cartão amarelo recebido na última partida da primeira fase.

Sobre o fato do time de Gana ser um dos mais violentos do mundial – cometeu 76 faltas ao todo após três jogos, com média de 25 por jogo, contra apenas 30 do Brasil (média de 10 por partida), o técnico brasileiro diz que não se preocupa com isso. "Deixo isso para os árbitros. Espero que eles possam coibir a violência."

Ronaldo e Cafu retomam exercícios de reforço muscular

Bergisch Gladbach, Alemanha (AE) – O lateral-direito Cafu e o atacante Ronaldo retomaram os treinos antes dos demais companheiros de seleção brasileira, na manhã de ontem: fizeram trabalho de reforço muscular numa academia no Castelo Lerbach, concentração da seleção na cidade de Bergisch Gladbach, a cerca de 80 km de Dortmund, local da partida de terça-feira, contra Gana, pelas oitavas-de-final na Copa.

Os dois jogadores são a principal preocupação da comissão técnica da seleção a respeito do condicionamento físico. Desde a primeira fase de preparação, na Suíça, eles vêm sendo submetidos a exercícios extras nos dias em que a seleção treina em apenas um período.

Cafu, embora seja considerado o atleta de mais fôlego da seleção, já tem 36 anos e precisa se cuidar para manter a resistência. Além disso, o jogador sofreu uma artroscopia no joelho, no início do ano, e atuou pouco pelo Milan durante a temporada.

Já o caso de Ronaldo é mais famoso: o atacante ficou 45 dias parado por causa de uma contusão muscular, sofrida em ação pelo Real Madrid, e chegou à seleção bem acima do seu peso ideal – antes do jogo contra o Japão pesou 90,5 kg, segundo o preparador físico Moraci Sant’Anna. Ele fez exercícios de potência na bicicleta ergométrica, que servem para melhorar o arranque – uma de suas jogadas características – e a mobilidade – principal crítica que recebeu depois dos dois primeiros jogos do Brasil na Copa.

Hoje, a seleção volta a treinar em Bergisch Gladbach e amanhã a movimentação será no Westfalenstadion, local do jogo contra Gana. (AC)

Emerson e Gilberto Silva: rivais amigos

Bergisch Gladbach (AE) – Emerson e Gilberto Silva travam duelo cordial no meio-campo da seleção. O primeiro começou a Copa como um dos intocáveis, mas agora corre risco de acompanhar o restante da competição do banco. O reserva entrou na segunda etapa diante da Austrália, jogou o tempo todo contra o Japão e subiu muito de cotação. Não será surpresa, até, se for confirmado para enfrentar Gana, na terça-feira.

Apesar da disputa aberta, ambos tratam de comportar-se de forma diplomática. Assim, seguem a praxe de se elogiarem mutuamente, para não ferir suscetibilidades nem desagradar ao treinador. Emerson age de maneira politicamente correta ao afirmar que "o Brasil luta para ser campeão do mundo". Gilberto Silva devolve a gentileza ao sugerir que não teria limitação de movimentos se atuasse ao lado do companheiro. O problema de tirar alguém do meio seria de Parreira. "Não vejo dificuldade de ter dois volantes", ponderou Gilberto Silva. "Estou acostumado a isso e cada um teria seu espaço no time", insistiu. "De qualquer jeito, quem decide isso é o Parreira e a gente precisa ficar atento para uma emergência."

Gilberto Silva parece seguir trilha semelhante à de 2002. Na Ásia, assumiu o lugar de Emerson na véspera da estréia, por causa da contusão do titular em um treino para passar o tempo. Agora, sai da sombra e cresce com desempenho eficiente nos dois momentos em que foi chamado. A coincidência, porém, não o entusiasma nem faz com que ouse pedir espaço. "Cada um faz sua parte, quem joga e quem está no banco", comparou. "Fiquei feliz com o jogo, continuo minha preparação normalmente, para ter novas oportunidades."

O mineiro Gilberto Silva evita o choque, dribla a polêmica com a certeza de que é o caminho mais indicado para convencer Parreira de que tem condições de assumir de vez a posição. Emerson não faz por menos e manda para escanteio questões capciosas.

"Emerson, perguntaram ao Cafu se ele volta e o capitão disse que sim", levantou a bola um repórter. "Você diria a mesma coisa?" A resposta veio rápida. "O capitão sempre vai jogar e espero também voltar", afirmou. "Mas quem decide é o Parreira." (Antero Greco, Eduardo Maluf e Jamil Chade)

"Chance de vencer o Brasil é agora"

Wurzburg (AE) – O técnico de Gana, Ratomir Dujkovic, afirmou ontem que sua seleção tem chance de vencer o Brasil no duelo de terça-feira, em Dortmund, porque se trata de um jogo pelas oitavas-de-final e não a decisão da Copa do Mundo. "É melhor enfrentá-los agora. Nas finais, não é possível vencer o Brasil", disse o técnico, que elogiou os talentos individuais da seleção, mas disse o time ainda não está bem coletivamente.

"Eles têm grandes talentos individuais, mas ainda não fizeram o que se esperava como um time tão estrelado que são", explicou o treinador. Dujkovic admite, no entanto, que terá de tentar parar os astros brasileiros. "Se você parar Ronaldinho, o Brasil tem Ronaldo. Se pára Ronaldo, tem Roberto Calos, Cafu… Todos são jogadores muito perigosos, mas acredito que podemos detê-los."

O técnico admitiu ainda que, por mais que quebre a cabeça para encontrar um substituto para o volante Essien, suspenso por dois cartões amarelos, não conseguirá achar alguém à altura. "Esse atleta fará o melhor possível, mas não chegará perto de seu nível", afirmou.

Para o capitão Appiah, porém, não é hora de falar em Essien. "Temos de falar nos jogadores que vão estar em campo. O técnico vai encontrar um substituto", disparou o meia.

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