Parreira prepara mudanças na seleção

Leverkusen, Alemanha – O problema da seleção brasileira não é apenas físico, mas mental. A maioria dos jogadores não consegue mais pensar, ligar a tomada, nos momentos delicados das partidas. Efeito nefasto do excesso de jogos dos atletas "europeus" do Brasil.

O técnico Carlos Alberto Parreira confirmou ontem que o grupo está mentalmente fragilizado. E garantiu que muda a seleção para o jogo decisivo contra o Japão, amanhã, em Colônia. Ele pretende trocar meio time.

Parreira assumiu a responsabilidade e também os riscos que corre com as alterações. O técnico só não adiantou todos os nomes dos que devem sair. Os mais cotados são Dida, Roque Júnior, Gilberto e Emerson – entram Marcos, Luisão, Léo e Gilberto Silva.

O treinador não descarta ainda tirar uma estrela do "quarteto fantástico". Ronaldinho Gaúcho ou Kaká, um deve dar vez a Júlio Baptista.

"Eu assumo a responsabilidade e os riscos pelas alterações", disse Parreira, ontem, mesmo sob ameaça de voltar com a seleção mais cedo para casa. Depois da pancada que levou do México, o Brasil só não se despede da Copa das Confederações se vencer ou pelo menos arrancar um empate contra os japoneses de Zico, amanhã, em Colônia, no encerramento da primeira fase do torneio.

"Estou muito à vontade para mudar o time, até porque venho repetindo desde o início da competição que iria observar os jogadores. A hora é essa. O momento é esse. O jogo com o Japão é importante, se perder, o Brasil fica de fora. Todos nós temos consciência disso. É um risco calculado", explicou Parreira.

As mudanças programadas atendem à proposta de observar jogadores e, mais que isso, refrescar a cabeça da maioria dos atletas. "Veja bem, este grupo está concentrado desde o dia 31 de maio. São 20 dias de treinos, jogos, concentração, sem nenhuma folga. Nenhum deles reclamou, todos foram muito profissionais. Só que eles precisam de folga", avisou o treinador. "O desgaste mental é muito grande. A maioria está em final de temporada."

Parreira não quis adiantar os nomes dos que terão um refresco. A surpresa nas mudanças do time é a possível saída de um craque do "quarteto fantástico" – Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Robinho e Adriano. O técnico não revelou o nome da estrela que deve sair. Deu apenas uma dica sobre os mais desgastados.

"Temos jogadores aqui que não conseguiram o mesmo desempenho que há três meses mostraram nos seus clubes. Ronaldinho e Kaká, por exemplo, estão bem distante das exibições no Barcelona e no Milan. Entendemos perfeitamente, é natural esta queda", afirmou.

Júlio Baptista está pronto para entrar, apesar de o técnico não garantir a mudança no quarteto. Parreira antecipou apenas que Léo, lateral-esquerdo do Santos, está escalado.

"O Léo ainda não entrou nem um minuto, não jogou. Trouxemos quatro laterais para observarmos. O Léo vai jogar", confirmou o treinador, sem deixar de elogiar Marcos e Gilberto Silva, também titulares contra o Japão.

Última chance de Cicinho

Leverkusen – Cafu terá vida longa na seleção brasileira, apesar dos 35 anos completados no mês passado. Cicinho, destaque do futebol brasileiro na temporada, poderia ser a grande sombra de Cafu, mas não se apresentou bem na derrota contra o México, no domingo. Está cada vez mais longe do Mundial de 2006. Parreira, apesar da fraca exibição do lateral do São Paulo, deve prestigiar o jogador contra o Japão, amanhã, em Colônia.

O técnico está inclinado a mudar quase toda a defesa da seleção. Cicinho entraria na barca dos candidatos à degola. Só não deixará o time porque Maicon (do Monaco), convocado às pressas com o corte de Belletti, ainda vive as ?férias?. Quando Parreira foi obrigado a desconvocar Belletti, a dois dias do início da Copa das Confederações, Maicon passeava pelas praias de Florianópolis há mais de dez dias.

?Trouxemos quatro laterais para observações. Em dois jogos (Grécia e México) já deu para analisar os dois que jogaram (Cicinho e Gilberto). Vamos ver o Léo. O Maicon eu já conheço, foi titular na Copa América (em julho de 2004, no Peru).?

Parreira gostaria de trocar Cicinho por Maicon, amanhã, contra o Japão. Só não confirma a mudança porque o lateral do Monaco ainda não se recuperou da ?temporada de férias?. ?Ele não está na condição ideal?, contou o treinador.

Léo, lateral-esquerdo do Santos, também corre o mesmo risco de Cicinho. Aos 28 anos de idade, sem nunca ter jogado no futebol europeu, Léo será o titular contra os japoneses. Terá a grande chance na partida decisiva da seleção na Copa das Confederações. ?É muito bom que seja assim. Se o Brasil estivesse classificado o jogo seria morno. Como precisamos vencer ou pelo menos empatar, a partida será bem disputada. Este tipo de jogo é que nos motiva ainda mais?, disse Léo, no treino dos reservas em Leverkusen. E ainda mandou um recado para Zico, técnico do Japão: ?Ele é um exemplo para todos nós, jogadores, mas minha vida e minha pátria estão em jogo?.

Léo tem de mostrar muito serviço. Cicinho, nem se fala. Caso contrário, voltarão abraçados para o Santos e São Paulo. Cafu e Roberto Carlos podem dormir tranqüilos. O reinado não está ameaçado.

Borgetti não pôde dormir

Barsinghausen – Depois de marcar o gol que deu a vitória à seleção mexicana sobre o Brasil, domingo em Hanover, o atacante Borgetti admitiu que nem conseguiu dormir na noite seguinte. Mesmo porque, ele teve papel decisivo no jogo válido pela Copa das Confederações – além do gol, desperdiçou um pênalti, depois de fazer a cobrança três vezes.

?Não consegui dormir. A adrenalina no corpo foi muito grande, fiquei pensando na partida?, revelou Borgetti ontem, ciente de que colocou sua seleção numa excelente posição. Afinal, após vencer o Brasil, o México garantiu sua vaga na semifinal da Copa das Confederações – joga com a Grécia amanhã apenas para garantir o primeiro lugar do grupo.

?Estou muito feliz de poder participar e de marcar o gol da vitória?, afirmou Borgetti, que tem 31 anos e joga no Santos Laguna, do México.

Zico preparado pra enfrentar o Brasil

Colônia – A catedral de Colônia, uma das mais famosas do mundo, fica perto do hotel em que a delegação do Japão está hospedada à espera do jogo de amanhã, contra o Brasil, pela Copa das Confederações. Os contornos góticos da igreja podem ser vistos de muitos ângulos na cidade e servem de inspiração e reflexão para quem os admira. E é quase à sombra desse monumento espiritual, arquitetônico e artístico que Zico se prepara para um dos momentos mais importantes de sua vida. Pela primeira vez, ele terá como adversária a seleção brasileira, que defendeu por mais de uma década.

Zico voltou a viver, ontem, como nos tempos em que era a estrela nacional e se viu cercado de microfones, de câmeras, de repórteres não japoneses, mas brasileiros, que foram encontrá-lo em um momento delicado, que representará a eliminação de sua equipe ou do time dirigido por seu amigo Carlos Alberto Parreira.

Veja os principais pontos de sua entrevista ontem:

Enfrentar o Brasil

?Desde que assumi o cargo, sabia que isso um dia podia acontecer. Melhor até que venha a ocorrer na Copa das Confederações e por enquanto não em Mundial. Não sei como vou reagir na hora em que tocar o hino nacional. Sempre estive do lado do Brasil e será uma situação nova. Mas é uma possibilidade na profissão, e agora ela vai se tornar realidade.?

Dedicação

?Não resta dúvida de que, ao olhar para o lado dos brasileiros, só verei amigos. Mas tenho obrigação com os japoneses. Eles confiam em mim e, se perceberem que posso ter um comportamento diferente daquele que esperam, podem se perder. Não quero que o time se perca nesse aspecto, ainda mais numa fase como a que estamos atravessando.?

Pressão

?O Japão se animou, depois da vitória sobre a Grécia, e isso será bom, do ponto de vista psicológico. Já o Brasil entrará mais pressionado, por causa da derrota contra o México. Pena que meu time tenha desperdiçado muitas oportunidades de gol, tanto na derrota para os mexicanos como na vitória diante dos gregos. Talvez estivéssemos em uma situação mais confortável, quem sabe a de podermos jogar pelo empate, como acontece com o Brasil.?

Futuro

?Meu contrato estava vinculado à classificação para o Mundial do ano que vem. Se conseguíssemos vaga, como de fato aconteceu, ele seria estendido normalmente. Se tivéssemos sido desclassificados, aí conversaríamos a respeito, após as Eliminatórias.?

Clássico vale a ponta

Nuremberg – Chegou a hora do primeiro clássico na Copa das Confederações. Argentina e Alemanha se enfrentam hoje, às 15h45 (horário de Brasília), em Nuremberg, para decidir quem será o primeiro colocado do grupo A. Os dois já estão classificados para a semifinal, mas os alemães jogam pelo empate, por terem vantagem no saldo de gols (4 a 3).

Com a confiança nas alturas desde que atropelaram o Brasil em Buenos Aires, pelas eliminatórias da Copa, os argentinos prometem jogar no ataque contra os donos da casa. ?Não estamos preocupados em escolher adversário para a semifinal. Queremos terminar em primeiro lugar e para isso temos de ganhar da Alemanha?, disse o capitão Sorín.

Como os dois times já estão classificados, o técnico José Pekerman acredita que será um jogo mais solto do que seria se a situação fosse diferente. ?Acho que as duas equipes vão jogar para ganhar?, afirmou.

A Alemanha não vence uma seleção do primeiro escalão desde outubro de 2000, mas confia na força da torcida para superar a Argentina. Também hoje, Tunísia e Austrália se enfrentam em busca do primeiro ponto – será a despedida das duas seleções, já desclassificadas da Copa das Confederações.

Voltar ao topo