Paranaense da terceira divisão começa hoje

No submundo da bola, ninguém gosta de falar o salário. Prevalece o comprometimento com o ‘projeto’, tanto na boca dos cartolas, que lucram com a indústria do futebol, e dos atletas, que sonham com dias melhores, com o momento de subir na escala hierárquica da profissão.

São poucos os jogadores da Terceirona que têm carro ou casa própria. A história dos campos acanhados, das chuteiras surradas e dos alojamentos sem luxo, aliás, só se torna bonita quando contada por alguém que dali saiu para o sucesso.

“Sonho com o dia que mostrarei meu trabalho jogando no Maracanã lotado. Nem é muito por mim. É mais pra minha família, que me acompanha todos os jogos, poder comparar com os dias de dificuldade”, diz Felipe Alves, 20 anos, goleiro do Andraus, que chegou a ter passagem pela Seleção Brasileira de novos em 2006.

Enquanto a consagração não aparece, Felipe visita a família em Paranaguá apenas nos finais de semana. No dia-a-dia, divide quarto com amigos de clube como Elieser, 22 anos.

Ex-zagueiro do Palmeiras B, ele chegou a abandonar o futebol, quando trocou de nome para Elder Vieira. “É que sou mórmon e decidi realizar uma missão pela fé. Fiquei totalmente afastado da bola, mas não me arrependo do que fiz”, explica ele, que agora precisa reconquistar o espaço no mundo do futebol.

Ambos moram em uma república perto da BR-277, em Campo Largo. Saem de lá poucas vezes, geralmente para jogos. Durante os dias comuns, depois dos treinos, assistem TV, jogam carteado e refletem sobre a vida, como conta o atacante Simão, 21 anos, também do Andraus. “Talvez ninguém daqui consiga um dia jogar em time grande. Se não der certo, aí só resta procurar emprego e a vida continua”.

Medo de público zero cria torneio alternativo

“Nossa meta é evitar o público zero do São José na 2ª divisão do Paranaense 2010. Aliás, é o que o pessoal de todos os clubes anda comentando”. A fala do treinador do Andraus, Sérgio Rosa, é sobre um torneio à parte criado nos bastidores da 3ª divisão estadual: o dos sem bilheterias. “Nosso time é financiado por um grupo de 80 empresários da cidade. Muitos empresários também devem ir ao campo. Acho que desse fiasco nós vamos escapar”, brinca Aroldo Wohl, diretor do Grêmio Campo Largo.

Com ingresso mínimo de R$10 imposto em arbitral da FPF, os dirigentes se dizem conformados. “Apesar de termos 15 anos de história, nosso trabalho continua sendo categoria de base. Isso não dá torcida”, ressaltou o supervisor do PSTC, Renato Deivid. “Pior pra gente, obrigados a estrear em campo neutro”, lamenta diretor de futebol do Colorado, Jeferson Cerqueira.

Clube só tem sede em São Paulo

O Colorado ainda nem estreou na 3ª divisão do Paranaense 2010 e já ganhou o título de ‘imigrante’. Apesar de oficialmente representar a cidade de mesmo nome, no norte do estado, o clube sequer tem sede própria em terras paranaenses.

Gerenciado por um grupo de empresários sem vínculo com a cidade, a verdadeira casa administrativa do Colorado fica em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. “Lá no escritório de São Paulo ficam umas seis pessoas. Aqui no Paraná eu estou sozinho”, disse o diretor de futebol da equipe, Jeferson Cerqueira.

Inclusive a presidente do clube, Mari Silva, não vive na cidade paranaense. “Ela é esposa do agente Fifa do clube, responsável por negociar jogadores, e fica em São Paulo com o restante dos dirigentes”, disse Cerqueira, que também vai ver sua equipe jogar fora de Colorado.

“Pelo menos na estreia, né. A Federação Paranaense de Futebol interditou nosso estádio e jogaremos em Apucarana. Por enquanto”, resume o cartola, que também culpa a prefeitura por falta de apoio.

Sem resposta

Procurado na tarde de sexta-feira pela Tribuna, o vice-presidente da Federação Paranaense de Futebol (FPF), Amilton Stival, alegou compromissos pessoais para não conversar com a reportagem.

Posteriormente, Stival não atendeu aos telefonemas. Ficaram sem a respost,a oficial da FPF questões como interdição de estádios, valor mínimo de R$ 10 nos ingressos para os jogos, possibilidade de novas partidas sem pagantes, prejuízo dos clubes com taxas de arbitragem – que de acordo com o Estatuto do Torcedor devem ser pagas pela federação organizadora do torneio – e o posicionamento da entidade sobre a existência de um clube com sede apenas em São Paulo.