Desfecho

O último jogo de um Paraná Clube que vai pra história

A Série A nas mãos dos tricolores. Foto: Hugo Harada

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O árbitro apitou e o jogo terminou. O Paraná Clube tinha empatado com o Boa Esporte em 1×1 na última rodada da Série B do Campeonato Brasileiro. Final de uma longa jornada. Final de uma agonia que em dado momento pareceu sem fim. Final da carreira de um ídolo, Marcos. Havia motivos para se emocionar, para festejar, para chorar de alegria e até de saudade – do goleiro que tanto brilhou e agora vai trabalhar fora das quatro linhas, ou com a dor irrecuperável da perda de um companheiro. Tudo isso foi sentido por quase 38 mil pessoas no Couto Pereira. Mas também era o último ato de um time, de um elenco que não teve nem a metade da badalação de outros montados pelo Tricolor, mas que abraçou o clube e tirou a equipe da Segundona.

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Um grupo que fez o torcedor se animar logo na primeira partida, que nem era incluída no calendário oficial. Aquela vitória sobre o Avaí pela Primeira Liga, numa data que foi encontrada para driblar o boicote da CBF, já trazia personagens que lideravam a festa do acesso no Alto da Glória. Eduardo Brock, Leandro Vilela, Gabriel Dias, Vitor Feijão e Renatinho jogaram no dia 25 de janeiro e foram até o dia 25 de novembro pelo Paraná. Exatos dez meses inesquecíveis para eles e para os torcedores.

Montado da forma que era possível pela diretoria paranista, este grupo de atletas surpreendia até quem já vivera de tudo no futebol. “Fomos chamados para uma pré-temporada de 25 dias. Concentrados o tempo todo, só tendo folga umas horas. Liberavam a gente de manhã, encontrávamos nossa família e depois voltávamos para dormir na concentração. E ninguém reclamou. Todo mundo treinou forte, o tempo todo. Uma turma como essa tinha algo especial”, contou o goleiro Marcos (ainda não vamos chamá-lo de ex-goleiro), em conversa com a Tribuna.

Paraná Clube empata e faz festa no adeus à Série B!

E tinha algo em comum – a certeza de que estava diante de todos uma chance de crescer. Fazer o Paraná Clube voltar a ser um time de elite também era catapultar a carreira de cada atleta. Foi isso que fez Renatinho, ainda no decorrer da temporada, dizer que “a melhor coisa” que fez na vida foi recusar as propostas financeiramente mais vantajosas para ficar no Tricolor. Foi o que trouxe Robson de volta. “Eu queria retornar para fazer história”, disse, emocionado, ao final do jogo do sábado. Foi o que tirou Eduardo Brock de Pelotas, Richard do interior paulista, Cristian de Souza (sim) do Acre. Foi o que manteve Gabriel Dias no clube. Foi o que empurrou a turma da casa, como Leandro Vilela, Vitor Feijão.

Iago em campo diante do Boa. Após a partida, ele percorreu o gramado do Couto Pereira de joelhos. Foto: Hugo Harada
Iago em campo diante do Boa. Após a partida, ele percorreu o gramado do Couto Pereira de joelhos. Foto: Hugo Harada

Essa mistura de personalidades – os brincalhões como Vitor e Gabriel, os talentosos como Renatinho, os líderes como Marcos e Brock – somada ao interesse comum formou um elenco vencedor. “É um grupo espetacular”, resumiu o auxiliar Ademir Fresan, que chegou no final do ano para reforçar a comissão técnica. Grupo que deu suporte ao jovem Matheus Costa, que numa idade em que jogadores estão no auge técnico assumiu o maior desafio da vida. E venceu. “Não é fácil apostar em um cara de 30 anos que nunca tinha sido técnico profissional”, comentou o treinador, agradecendo ao diretor Rodrigo Pastana e ao presidente Leonardo Oliveira por terem acreditado nele.

Esse Tricolor que subiu para a Série A, de Marcos, Brock, Renatinho, Vilela, Matheus e Gabriel, também é o time de Cristovam, de João Pedro (que está de malas prontas para voltar ao Atlético), de Guilherme Biteco que pula para comemorar e para não forçar o tornozelo operado, do improvável Alemão. E também de Iago Maidana, uma das histórias mais incríveis desta incrível história. Revelação no Criciúma, contratado pelo São Paulo, escorraçado no clube porque era o pivô de uma confusão armada por um presidente e alguns empresários, veio para o Paraná para vencer os críticos, a depressão e começar de novo.

Confira a classificação final da Segundona!

Por isso, mesmo num dia de Couto Pereira cheio, de Marcos sendo justamente homenageado, de tanto choro e sorriso, a imagem mais impressionante era aquele piá de 22 anos, 1m96 e cinco gols na Segundona, atravessando o gramado de joelhos para agradecer por tudo que viveu nestes poucos meses de Paraná. “Foi muito difícil para mim, pois não imaginava no começo do ano estar comemorando”, disse, controlando o choro.

Maidana é um desses personagens do acesso que podem não estar vestindo a camisa paranista em abril do ano que vem, quando recomeçar a vida do clube na primeira divisão. Mas eles já escreveram uma das páginas mais tocantes dos quase 22 anos de história tricolor.