No Tibete, tocha terá seu percurso mais polêmico

O revezamento mundial da tocha olímpica terá neste sábado (21) seu mais polêmico trecho, nas mesmas ruas da capital do Tibete que há três meses assistiram os maiores e mais violentos protestos contra o domínio chinês na região em duas décadas. Segundo a agência Reuters, a segurança nas ruas de Lhasa nesta sexta-feira (20) era extrema, com policiais a cada 200 metros e caminhões carregando integrantes de tropas de choque.

O governo chinês suspendeu momentaneamente o veto à entrada de jornalistas na região e convidou um grupo de 30 veículos de diferentes partes do mundo para cobrir o evento. Os repórteres chegaram em a Lhasa no início da noite desta sexta e retornam a Pequim no domingo (22). Eles têm pouca liberdade para se locomover na cidade e estão constantemente acompanhados por funcionários do governo chinês.

A apresentação da tocha olímpica só poderá ser assistida por pessoas previamente credenciadas, como ocorreu em Xinjiang, província muçulmana que fica ao norte do Tibete e na qual também há um movimento separatista.

Entidades de defesa dos direitos humanos e grupos ligados a tibetanos exilados criticam a apresentação do símbolo olímpico na região e sustentam que o evento levou à intensificação da repressão contra a população local. Depois dos protestos de março, o Tibete foi totalmente fechado para imprensa, turistas e observadores estrangeiros. A polícia instaurou um regime de terror nos mosteiros da região e submeteu os monges budistas a vigilância permanente.

Segundo tibetanos no exílio, as forças de segurança apreenderam celulares, computadores e outros meios de comunicação que permitiam o contato dos monges com o exterior e eram a principal fonte de informação sobre a situação no Tibete.

Matt Whitticase, da Free Tibet Campaign, com sede em Londres, afirmou que as chamadas telefônicas estão bloqueadas ou são monitoradas. "As autoridades chinesas aumentaram de maneira dramática as restrições sobre a quantidade de informação transmitida por telefone para dentro e fora do Tibete", afirmou Whitticase.

As manifestações de março tiveram início no dia 10, com demonstrações pacíficas de monges para marcar o 49º aniversário do levante de 1959. No dia 14, os protestos se tornaram violentos, com adesão de tibetanos que passaram a atacar lojas de propriedade dos chineses han – a etnia majoritária da China.

O governo de Pequim afirma que 22 pessoas morreram na manifestação. Grupos ligados a tibetanos no exílio sustentam que há cerca de 200 vítimas fatais no Tibete e em províncias vizinhas.

A política do governo chinês em relação ao dalai lama é um dos principais fatores de descontentamento na região. O dalai lama é o líder espiritual dos tibetanos, considerado a 14ª reencarnação do Buda da Compaixão. As autoridades de Pequim não apenas impedem sua volta ao país como promovem uma campanha de difamação de sua imagem, na qual o acusam de separatista e de mentor dos atos de violência praticados em março.

Além disso, "campanhas patrióticas" obrigam os monges budistas a renegaram o dalai lama e declararem lealdade ao governo chinês.

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