Moura ataca inimigos e diz que tem muitos ?podres? para revelar

Como quem pressente a proximidade do fim, Onaireves Moura conta tudo. O dirigente que, por 22 anos, reinou sem grande contestação na Federação Paranaense de Futebol sofreu um duro golpe ao ser condenado a três anos e dois meses de suspensão, mas promete não sair de cena discretamente.

De seu telefone celular, no Rio de Janeiro, Moura procurou a reportagem da Tribuna, na noite de quarta-feira. Num tom de desabafo, embora sereno, o dirigente reafirmou a intenção de abandonar a FPF, antes de saber o resultado do julgamento. Mas falou que tem muito a revelar.

A conversa só foi interrompida em dois momentos: para xingar o desafeto Domingos Moro, com quem topou nos corredores do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, e ao ser chamado para sentar-se no banco dos réus para o início do julgamento. Pouco antes, Moura havia protocolado denúncias no STJD contra dois desafetos: Paulo Schmitt, procurador do tribunal, e o Atlético de Mário Celso Petraglia, a quem atribui grande parte de sua derrocada.

Confira os principais trechos do depoimento do cartola.

Renúncia

Volto a afirmar: estou saindo (da FPF), mas vou deixar tudo muito claro. Não teria muito a perder denunciando tudo o que ocorreu nestes 22 anos. Já disse uma vez a vocês (na Tribuna) que ninguém compra meu silêncio. preferi esperar, mas agora vou falar tudo sobre arbitragem, antidoping, contratos de patrocínio, doações. No tempo certo, de acordo com o desenrolar dos acontecimentos.

Paulo Schmitt (procurador-geral do STJD)

Causou-me estranheza saber que o senhor Paulo Schmitt vendeu sistemas de jogos a mais de 100 prefeituras do Paraná. Mas é simples. Ele assessorava as Prefeituras para dar entrada na compra e, na outra ponta, dava aval ao processo como assessor jurídico da Paraná Esporte. Por isso acabou exonerado.

Petraglia

Quando ele assumiu, me chamou em seu escritório. Fui com dois diretores da Federação. Ele falou: ?Moura, preciso que você acerte os árbitros para eu ganhar?. Respondi que estava fora dessa. Ele retrucou: ?Está fora mesmo, porque vou te tirar?. De lá pra cá apareceram circular de governador, falsificação de documento, exumação de corpo e muitas outras coisas que ainda virão na seqüência.

Perseguição

Em 1997, na festa de 60 anos, eu trouxe João Havelange, Ricardo Teixeira e outros para Curitiba. Na ocasião anunciaríamos uma série de atividades para o Pinheirão e mais uma etapa de obras. Mas dois dias antes ocorreu a mesma situação e lacraram o Pinheirão.

A alegação era que a estrutura metálica iria cair, mas um perito concluiu que não haveria problema. Assim como fomos retirados do Refis de forma inexplicável, e a Justiça condenou a Federação a pagar o rompimento do contrato com o Atlético (pelo uso do Pinheirão), mesmo sendo o lado mais prejudicado.

Razão das denúncias

Quando falei que iria sair, todas as ligas e clubes profissionais se solidarizaram. Me elegeria quantas vezes quisesse. Agora quero sair. E se me deixassem sair com tranqüilidade, não falaria nada, sempre fui da paz, nunca fiz interpelação judicial, sempre provei pelas minhas atitudes. Mas as pessoas são burras. E chega um ponto da vida, pelos filhos, que você pensa o porquê de guardar (as denúncias). Não quero ser presidente de clube, presidente de liga, então não vou deixar as pessoas falarem o que quiserem.

Provas

Tenho pilhas de documentos. Provo tudo o que eu falo. E não adianta me matarem. Tudo está num cofre num local conhecido por mais duas pessoas. E se me matarem, tudo bem, vivi muito bem estes 61 anos.

Julgamento

Meu futuro independe do resultado do julgamento. Só vim para cá (STJD, no Rio de Janeiro) para cumprir formalidades e mostrar que não fujo de nada.

Arrependimentos

Só me arrependo de não ter falado antes. As pessoas me impediram de fazer uma série de coisas. Quando o Atlético me deixou na mão (voltando à Baixada), o alicerce do Pinheirão era a venda de cadeiras. Quem iria comprar? As dívidas são conseqüência daquilo.

Ligações perigosas

As pessoas querem que o presidente da Federação aja em benefício de determinada associação. Não dá, quem fizer isso fica refém de árbitro, acaba saindo em três dias.

Futuro da FPF

Posso dar toda a assistência, mas a FPF não precisa de orientação, são homens competentes. Aluizio (Ferreira, presidente interino) conhece futebol, já foi presidente da Liga de Ponta Grossa, tem amplas condições de prosseguir na FPF.

Balanço dos 22 anos

Para ser presidente, alguém precisa fazer o que eu fiz e melhorar o futebol do Paraná. Ouço gente dizendo que tem que moralizar nosso futebol. Mas moralizar o quê? O que tem de errado? A Federação do Rio de Janeiro passou por CPI, deve R$ 14 milhões de INSS.

Eu também devo, mas fiz obra.

Voltar ao topo