Luxemburgo diz que não saiu por dinheiro

São Paulo – O técnico Vanderlei Luxemburgo deixou ontem, sem aviso prévio, a equipe do Palmeiras. O treinador, na calada da noite de anteontem, encontrou-se com o vice-presidente de futebol do Cruzeiro, Alvimar Perrela, e aceitou a proposta feita pelo clube mineiro. Irrecusável, segundo o próprio Luxemburgo. Mas o dinheiro, garante, não foi o principal motivo de sua saída.

“Estou indo não pela questão financeira, mas sim porque me ofereceram a oportunidade de coordenar todas as categorias de base. Uma vontade que eu sempre tive, mas que aqui no Palmeiras não podia fazer”, justificou Luxemburgo, que passa a ganhar o dobro do que recebia no time paulista. O Cruzeiro deverá pagar R$ 150 mil por mês ao treinador. Até hoje, seu último dia de trabalho, ele ganhava R$ 100 mil, fora os descontos, que reduziam seu salário para cerca de R$ 75 mil.

Outro motivo para Luxemburgo ter aceito a proposta pode ter sido o fato de encarar o Cruzeiro como um trampolim para a seleção brasileira. A comissão técnica no novo time será bastante parecida com a que utilizou quando dirigiu o Brasil, do segundo semestre de 1998 a 2000. Marcos Moura Teixeira primeiro foi preparador-físico e depois supervisor-técnico da seleção. Agora, será coordenador técnico. Paulo César Gusmão, treinador de goleiros na época, será seu auxiliar, enquanto Antonio Mello manterá a função de preparador físico.

O treinador conta com a simpatia da cúpula da CBFutebol, notadamente do presidente da entidade, Ricardo Teixeira, que já manifestou interesse em ter novamente Luxemburgo no cargo. Tudo vai depender, porém, da campanha do Cruzeiro no Campeonato Brasileiro.

Ética

Luxemburgo não vê nada de antiético em sua atitude. Ele afirmou que considera “algo normal no futebol” uma transferência repentina como a anunciada ontem no Palmeiras. Neste caso específico, o treinador deixou o clube na segunda rodada do Campeonato Nacional, no momento em que o time mais precisava de tranqüilidade e começava a se adaptar ao esquema tático proposto por ele. “Deixo um grande clube e também uma grande torcida, que sei que vai entender o motivo de minha saída. Recebi uma boa proposta, pensei bem e não tinha como recusar. A vida continua.”

A vida continua também para o Palmeiras, que por enquanto não tem técnico. Paulo César Gusmão, antes de viajar para o Cruzeiro assume interinamente o time na partida de hoje contra seu futuro clube. A diretoria do Palmeiras está atrás de um substituto definitivo. Nelsinho Baptista e Giba são os mais cotados. O primeiro, se confirmado, deverá ter problemas com a torcida, que não o vê com muito bons olhos após sua passagem pelo clube em 1992, quando, entre outras coisas, colocou no banco o atacante Evair, ídolo dos torcedores.

Surpresa

O diretor de futebol do clube, Sebastião Lapola, informou que não será cobrada multa rescisória. “Nos pegou de surpresa”, disse o dirigente, que ficou sabendo apenas na segunda-feira à noite, por acaso, que Luxemburgo havia recebido proposta do Cruzeiro.

Entre os jogadores, a reação era a mesma dos dirigentes. O atacante Nenê disse estar meio confuso com a situação. “Muda tudo, fazer o quê!” O meia Zinho, contratado a pedido do treinador para reforçar o time no Brasileiro, admitiu que não esperava a saída de Luxemburgo, mas disse também que não é a primeira vez que vê coisas como essa no futebol.

Diretoria do Cruzeiro não acha que foi antiética

Belo Horizonte

– A contratação do técnico Vanderlei Luxemburgo pelo Cruzeiro, anunciada ontem, finaliza uma postura agressiva implementada nos últimos dias pelos dirigentes mineiros na escolha do substituto de Marco Aurélio. Decididos a levar para a Toca da Raposa um técnico “top de linha”, a diretoria não demonstrou constrangimento ao assediar treinadores de outros clubes do País.

O diretor de futebol Eduardo Maluf não concorda com a avaliação de que o clube mineiro poderia estar escorregando na questão ética. Segundo o dirigente, os contratos profissionais prevêem multa rescisória no caso de rompimento e alguns treinadores só assinam com o compromisso da diretoria de que serão liberados no caso de receberem proposta melhor. “Foi o que aconteceu com o próprio Cruzeiro”, diz Maluf, se referindo à saída de Marco Aurélio – que vai dirigir o Kashiwa Reysol, do Japão -, a poucos dias do início da competição.

“O Marco Aurélio recebeu uma proposta para ir embora. Ninguém procurou o Cruzeiro, procurou o treinador”, defendeu-se. O ex-técnico cruzeirense, que havia trocado a Ponte Preta pelo clube mineiro no ano passado, durante a disputa do Brasileiro, alegou aos dirigentes mineiros que havia recebido uma proposta “irrecusável” dos japoneses. “Mas ele teve de pagar uma multa de R$ 240 mil”, disse Maluf.

O mesmo argumento apresentado por Marco Aurélio foi utilizado por Luxemburgo para deixar o Parque Antártica. O ex-técnico da seleção e o vice-presidente de Futebol do Cruzeiro, Alvimar Costa, concluíram as negociações segunda-feira à noite. A notícia vazou na manhã de ontem, e os dirigentes palmeirenses foram pegos de surpresa, como admitiu o diretor de Futebol Sebastião Lapola.

Emerson Leão, técnico do Santos, também afirmou ter recebido uma proposta irrecusável para dirigir o time mineiro no Brasileiro. De acordo com Maluf, Leão só não se transferiu para a Toca porque não conseguiu a liberação dos dirigentes do Peixe.

Jair Picerni, recém-contratado pelo Guarani, e Tite, técnico do Grêmio, também foram sondados, mas descartaram deixar os atuais clubes no momento. Tite, cujo contrato, segundo Maluf, não prevê multa rescisória, alegou ter um compromisso moral com os dirigentes gremistas, mas disse estar à disposição a partir de janeiro.

A investida para tirar Picerni do Brinco de Ouro, porém, gerou descontentamento entre os dirigentes campineiros. O presidente José Luís Lorencetti ligou para o próprio Maluf cobrando explicações. “Disse para ele que se o Jair acertasse, falaríamos com ele”, justificou o diretor de Futebol do Cruzeiro.

Voltar ao topo