Hamilton luta contra incômodo tabu

Líder do Mundial de Fórmula 1 e um dos candidatos à vitória domingo no GP de Mônaco, o inglês-prodígio Lewis Hamilton convive com um curioso tabu em sua emergente carreira. Egresso da GP2, série da qual foi campeão no ano passado, o piloto da McLaren vai quebrar um tabu se conseguir surpreender a todos e conquistar o título em seu ano de estréia.

Nunca um campeão da categoria-escola oficial da F1 conseguiu repetir o feito na elite do automobilismo. De 1985 até 2004, o vestibular quase obrigatório para arrumar uma vaga na F1 era a F3000 Internacional. Raros foram os pilotos que chegaram ao topo sem passar por ela, que foi extinta e deu lugar à GP2, em 2005.

Mas seus campeões nunca se deram bem. Alguns, como Vincenzo Sospiri (1995), Jörg Muller (1996), Bruno Junqueira (2000), Sébastien Bourdais (2002) e Bjorn Wirdheim (2003), sequer tiveram a chance de largar em um GP.

Outros chegaram a fazer longas carreiras em boas equipes, como Jean Alesi (1989), Olivier Panis (1993), Juan Pablo Montoya (1998) e Nick Heidfeld (1999) – este, atualmente defendendo a BMW Sauber. Sonhar com o título da F1, porém, só Montoya, em 2003. Mas ele terminou o mundial em terceiro, e no ano passado deixou a categoria para se aventurar na Nascar.

Como forja de campeões, a F3000 fracassou. O único que passou por lá e conquistou o título na F1 foi Fernando Alonso. Ele correu pela Astromega, em 2000, e terminou o campeonato em quarto lugar, com 17 pontos, depois de conquistar uma pole, ganhar uma corrida e fazer duas melhores voltas. No ano seguinte, estreava na Minardi para se tornar bicampeão em 2005 e 2006.

É verdade que alguns pilotos que não foram campeões na F3000 acabaram fincando raízes na F1 com algum destaque, caso de David Coulthard, Alessandro Zanardi, Rubens Barrichello, Eddie Irvine e Cristiano da Matta. Nenhum, no entanto, emplacou.

A rápida evolução dos carros da F1, especialmente a partir da segunda metade da década de 90, explica a gradual perda de importância da categoria-escola, cujos carros foram ficando cada dia mais distantes de seus ?primos ricos?. A diferença entre os dois modelos passou a ser intransponível em todos os níveis: potência, eletrônica embarcada, pneus, freios, transmissão, eficiência aerodinâmica. O sujeito saía da F3000 e tinha de reaprender a dirigir quando sentava num bólido da Ferrari, Williams ou McLaren.

Foi o que motivou a criação da GP2, categoria bem mais semelhante à F1 em vários aspectos. Tanto que já despejou alguns de seus talentos na série principal, como Nico Rosberg, campeão em 2005 e hoje titular da Williams, Heikki Kovalainen, vice em 2005 e atual titular da Renault, Nelsinho Piquet, vice no ano passado e piloto de testes do time francês, e a estrela ascendente Hamilton.

O inglês da McLaren ganhou o GP de Mônaco da GP2 no ano passado e as duas corridas de F3 que disputou nas ruas do Principado, em 2005. Por isso está sendo cotado como um dos favoritos à vitória domingo.

O ?carro-salsicha? vai sofrer

Coloque a F2007, o carro da Ferrari, ao lado do McLaren MP4-22. A olho nu vai ser difícil notar grandes diferenças em suas dimensões. Mas, para os padrões da Fórmula 1, o vermelhinho pilotado por Felipe Massa e Kimi Raikkonen poderia ser chamado de ?carro-salsicha?, por conta dos 8cm que tem a mais de distância, entre-eixos, que o rival prateado.

Esses 8cm poderão ser decisivos no GP de Mônaco, que tem hoje, a partir das 5h de Brasília, seus primeiros treinos livres – nesta corrida, a sexta-feira é dia de folga para todos. Pista mais lenta e travada do calendário, Mônaco é muito mais propícia a carros de entre-eixos curtos, que contornam com mais agilidade suas curvas de baixa velocidade.

A opção da Ferrari por um carro mais longo foi feita em meados do ano passado, quando começou a ser projetada a F2007. Do centro da roda dianteira ao centro da traseira, são 3.135mm. A 248F1, modelo de 2006, tinha 3.050mm. O carro da McLaren tem 3.055mm.

Para pistas de alta velocidade, com curvas de raio longo, a concepção ferrarista é ideal. Não por acaso o time fez todas as poles desta temporada em circuitos velozes de grandes retas, como Sepang e Barcelona. Em traçados menos rápidos ou aqueles que têm miolos muito travados, como Monte Carlo, Budapeste, Indianápolis e Fuji, as coisas ficam mais difíceis.

Esse é o desafio de Massa e Raikkonen a partir de hoje. A McLaren, embora tenha vencido apenas uma vez neste ano, aparece com ligeiro favoritismo por conta das características de seus carros. E seus dois pilotos, Fernando Alonso e Lewis Hamilton, têm bom retrospecto nas ruas de Monte Carlo. O espanhol, por exemplo, fez a pole e venceu em 2006, com a Renault. O inglês correu ali em 2005 de F-3 e ganhou as duas provas da rodada dupla. No ano passado, voltou a vencer na GP2.

Felipe, por outro lado, não acumula grandes resultados na prova mais chique da temporada. Seu melhor grid foi um 11.º com a Sauber em 2005 e a melhor colocação, um quinto em 2004, ainda pela Sauber. Com a Ferrari, no ano passado, terminou em nono depois de largar na última fila. Raikkonen tem um currículo mais animador: segundo em 2003, pole e vitória em 2005, sempre pela McLaren. O finlandês, que chegou a Mônaco a bordo de seu novo iate de US$ 3,4 milhões, negou o rótulo de azarado ontem. ?Faz parte?, disse, sobre a quebra na última prova, na Espanha.

Aos 35, Rubens só pensa em pontos

Rubens Barrichello completou 35 anos ontem. Domingo, disputa um GP de Mônaco pela 15.ª vez. E não pensa em parar. O brasileiro, cujo contrato com a Honda termina no final deste ano, disse que espera renovar seu contrato para 2008. Se o fizer, no ano que vem poderá se tornar o piloto que mais correu na história da categoria. Ele tem 236 largadas e o recordista é Riccardo Patrese, com 256.

Em Mônaco, Rubens conseguiu aquele que talvez tenha sido o resultado mais significativo de sua carreira: um segundo lugar com a Stewart, em 2007. Subiria ao pódio monegasco mais três vezes pela Ferrari: segundo em 2000 e 2001 e terceiro em 2004.

Sua realidade atual, no entanto, é bem diferente. Se chegar nos pontos domingo, vai soltar rojões de felicidade. Sua equipe, a Honda, ainda não marcou neste ano. O carro é tão ruim que o time já está construindo outro, que deverá ser usado a partir da oitava etapa do mundial, em Magny-Cours.

Barrichello é hoje o piloto em atividade que mais disputou GPs, mas não é o mais velho. David Coulthard, da Red Bull, fez 36 anos em março. O mais jovem é Nico Rosberg, que faz 22 em junho. Quando Barrichello correu pela primeira vez em Monte Carlo, Nico ainda não tinha completado oito.

Voltar ao topo