Gandulas sentem toda emoção do jogo bem de perto

Assistir aos clássicos e duelos na beira do gramado, ali, perto dos craques. Além disso, participar da partida e, quem sabe, dar uma mãozinha para a vitória de seu time. O sonho, quase impossível para a maioria dos torcedores, é realidade para quem tem a sorte de ser gandula nos jogos dos grandes clubes.

A função, porém, não é tão simples quanto parece, ao ser vista de longe. Para ficar ali e ajudar no andamento da partida, eles passam por um processo de seleção e treinamento nos clubes e têm normas para seguir. Formalismos muitas vezes deixados de lado durante o calor da partida.

Em praticamente todos os jogos, é o clube mandante o responsável pelo quadro de gandulas. Como geralmente eles são torcedores do clube para o qual trabalham, não adianta negar: fazem tudo o que está a seu alcance para ajudá-lo. E para isso, nem sempre é preciso fazer cera, ou sumir de vista quando o jogo está chegando ao fim, com a equipe da casa liderando o placar.

O jogo entre Coritiba e São Paulo, pela 22.ª rodada do Brasileirão de 2008, é exemplo de como um gandula pode ser decisivo, sem apelar para o anti-jogo. “O Coxa estava empatando em 1 a 1. Peguei uma bola que saiu e joguei rápido para o Rodrigo Heffner. Ele bateu o lateral e tocou para o Keirrison, que estava livre e fez o gol”, recorda Sérgio Daniel Blaszczak.

Um golaço, aliás, encobrindo Rogério Ceni. O São Paulo ainda empataria o jogo em 2 a 2, mas Sérgio, de 23 anos, jamais esquecerá do dia em que participou da jogada de um gol do Coxa.

“É emocionante, ainda mais quando você ajuda o time. Um prazer imenso. Estou aqui por amor ao clube”, ressalta o gandula, que trabalha há seis anos no Couto Pereira.

O que quase ninguém sabe é que o lance foi “treinado” antes da partida. “No começo do campeonato, tivemos uma reunião com o Jamelli (coordenador de futebol), que nos passou umas dicas: ficar sempre atento ao jogo, para nunca dar o contra-ataque ao adversário, e devolver a bola rápido quando o time estiver saindo para o ataque”, conta Rafael Valeski, 25 anos, outro integrante do time de gandulas do Coxa.

E não é só no Alto da Glória que isso acontece. De olho em oportunidades como a aproveitada pelo Coritiba, todos os clubes procuram instruir seu quadro de gandulas. Entender um pouco da parte tática do jogo e concentração total durante a partida são atributos fundamentais para quem trabalha na beira do campo.

No Atlético, a função é usada também para a qualificação de alguns funcionários do clube. “Sou professor da escola de futebol e isso ajuda muito na nossa profissão. De dentro de campo, dá para acompanhar todo o nervosismo da partida, conhecer as instruções que o técnico passa para os jogadores. Aprendemos bastante”, diz João Paulo Mazur, 24 anos, que começou a trabalhar este ano como gandula do Furacão.

Mas mesmo quem está de olho no lado profissional não deixa de lado a paixão. “Eu já trabalhava no Atlético e quando fui convidado aceitei, para dar uma força ao clube. Sou atleticano roxo e, se precisar, continuarei ajudando”, conclui Rafael Canha, 28 anos, outro gandula-professor da Baixada.