Futebol brasileiro recebe amanhã o Prêmio Príncipe de Astúrias

O prêmio de 50 mil euros (cerca de R$ 189 mil) não impressiona tanto a jogadores como Rivaldo e Ronaldo, acostumados a receber muito mais do que isso mensalmente. O valor também não está apenas na beleza da escultura de Juan Miró dada a cada vencedor. Muito menos no diploma e no estandarte que a acompanham. A importância do Prêmio Príncipe de Astúrias que Don Felipe de Bourbon entrega nesta sexta-feira no Teatro Campoamor, em Oviedo, a Bellini, Carlos Alberto Torres e Dunga, capitães das seleções de 1958, 1970 e 1994, respectivamente, está no próprio enunciado que define a premiação.

Segundo a Fundação Príncipe de Astúrias, “o prêmio se concede à pessoa, grupo ou instituição que haja alcançado novos objetivos na luta da humanidade pela perfeição e que haja contribuído com seus esforços para a superação das fronteiras nacionais e para o avanço, prática, promoção ou difusão do esporte”.

O Brasil ganhou pelo “conjunto da obra”. É a única seleção a disputar todos os Mundiais de futebol, desde 1930. É também a única a vencer cinco vezes a competição, a última há três meses, na Coréia e no Japão. Além disso, nos três últimos Mundiais, ganhou os de 1994 e 2002 e foi vice em 1998.

Apesar do currículo inqüestionável, o prêmio à seleção brasileira não foi bem aceito por parte da imprensa espanhola. A parte que torce pelo Real Madrid gostaria que no aniversário de 100 anos de fundação o clube – que ganhou a Liga dos Campeões da Europa em maio – recebesse o “Príncipe de Astúrias”.

Mas como comparar o Real Madrid ao Brasil, se o time espanhol tem apenas dois brasileiros da seleção, Roberto Carlos e o praticamente recém-chegado Ronaldo? O Real perdeu, assim como a moçambicana Maria Mutola, campeã mundial dos 800 m e que, na infância, era ponta-esquerda no time de sua rua em Maputo, ou o cubano Ivan Pedroso, campeão olímpico do salto em distância, a alemã Heyke Dreschler, também do salto em distância, o checo Jan Zelezny, arremessador de dardo, e Michael Schumacher, pentacampeão mundial de Fórmula 1.

A candidatura brasleira foi apresentada por Juan Campos Ansó, senador espanhol por Astúrias, e respaldada por Jose Luis Vilaseca, presidente da Comissão de Controle e Disciplina da Uefa. Mas o Brasil não ganhou apenas por ser a mais vitoriosa das seleções. O prêmio é em reconhecimento ao fato de os títulos sempre virem acompanhados de “futebol bonito”, comprovando que a beleza do estilo não é conflitante com a eficiência.

Juan Antonio Samaranch, ex-presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), afirmou que “tão importante quanto a conquista de cinco títulos mundiais é o sentido social que tem o futebol no gigante sul-americano, onde, além de um esporte, é um sentimento, uma paixão dividida por todo o povo brasilieiro”.

E, por fim, em conseqüência de tudo isso, o Brasil vence por presentear o mundo com jogadores como Pelé, Garrincha, Leônidas da Silva (artilheiro da Copa de 1938), Zizinho, Didi, Gérson, Romário, Falcão, Zico, Sócrates, Rivaldo, Ronaldo e muitos mais.

Os três capitães das conquistas brasileiras poderão receber a companhia de Cafu, o único jogador do mundo a disputar três finais seguidas de Copas do Mundo. Jogador da Roma, ele tenta uma autorização da diretoria – o time joga contra a Lazio domingo.

Mário Jorge Lobo Zagallo, campeão mundial como jogador em 1958 e 1962 e como técnico em 1970, será o representante de Mauro Ramos de Oliveira, talvez o mais clássico de todos os zagueiros brasileiros, capitão da seleção em 1962 e que morreu em setembro, afastado dos amigos e em depressão.

Luiz Felipe Scolari, técnico condutor da seleção em 2002  não comparecerá por causa de problemas com o presidente da CBF.

O Príncipe de Astúrias é dado pela segunda vez a uma equipe e não a um único atleta. Em 1997, venceu a equipe espanhola de maratona. Outros vencedores foram o ciclista Lance Armstrong, as tenistas Arantxa Sánchez e Steffi Graff, além de Carl Lewis e Javier Sottomayor. Em 2002, venceram ainda Woody Allen (Artes), Hans Magnus Enzensberger (Comunicação), Arthur Miller (Letras), Anthony Giddens (Ciências Sociais), Daniel Barenboin e Edward Said (Concórdia), Comitê Científico para a Antártida (Cooperação) e Roberts, Kahn e Berners-Lee (Investigação).

Voltar ao topo